sexta-feira, 19 de novembro de 2021

Vera Magalhães - O touro, o gado e a boiada que passa

O Globo

Uma réplica cafona e dourada do Charging Bull, a escultura de bronze que desde o fim dos anos 1980 foi implantada na frente da Bolsa de Nova York, virou alvo de protestos e memes nos últimos dias. Poucas coisas poderiam ser uma síntese mais acabada do momento de completa dissonância cognitiva por que passa o Brasil.

A “obra de arte” (sic) foi “presente” de um economista que se autointitula Tourinho de Ouro. Logo não é presente, mas autopropaganda. Foi paparicada por expoentes do mercado financeiro brasileiro.

O touro, vejam só, é considerado um símbolo de pujança e confiança do mercado em ganhos e altas realizações.

Mas, no momento, os investidores estão fugindo do Brasil, ressabiados pela inflação descontrolada, pelo calote nos precatórios, pelo desemprego recalcitrante e pelo desajuste fiscal deflagrado pelo governo Bolsonaro.

Bernardo Mello Franco – A guerra dos tucanos

O Globo

O PSDB escolhe no domingo o seu candidato à Presidência. Pelo que sugerem as pesquisas, o vencedor deve conquistar o direito de perder a eleição de 2022. Fora da bolha tucana, João Doria e Eduardo Leite exibem desempenho de nanicos. Oscilam entre 2% e 4% das intenções de voto.

Durante 20 anos, PSDB e PT polarizaram a política brasileira. Os tucanos venceram duas corridas presidenciais e chegaram ao segundo turno em outras quatro. Na oposição ao petismo, caminharam para a direita e apostaram na retórica moralista. Esse discurso foi pelos ares quando Aécio Neves pediu R$ 2 milhões ao dono da JBS.

O declínio do PSDB se agravou com a ascensão de Jair Bolsonaro. O capitão roubou a bandeira do antipetismo e a preferência da elite econômica. Traído pelo próprio partido, Geraldo Alckmin recebeu míseros 4% dos votos em 2018. Ao fim da campanha, precisou pedir emprego no programa do Ronnie Von.

Luiz Carlos Azedo - Disputa autofágica entre tucanos dificultará alianças futuras

Correio Braziliense

O racha no PSDB está escrito nas estrelas, qualquer que seja o vencedor. Nem Doria nem Leite decolaram nas pesquisas eleitorais, o que acirra o conflito

As prévias do PSDB são uma novidade na política partidária brasileira, inclusive por concederem um protagonismo inédito aos filiados e mandatários da legenda, que sempre resolveu suas disputas por meio de acordos de cúpula costurados pelas suas lideranças históricas, entre as quais o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o senador José Serra (SP) e o senador Tasso Jereissati (CE). No domingo, serão as bases partidárias — filiados, vereadores e prefeitos, deputados estaduais e federais, senadores e governadores — que escolherão o candidato tucano à Presidência, entre os governadores João Doria (SP) e Eduardo Leite (RS) e o ex-prefeito de Manaus Artur Virgílio (AM). Mas é uma disputa fratricida, que dificultará sua unificação e a atração de aliados tradicionais nas eleições de 2022.

O racha no PSDB está escrito nas estrelas, qualquer que seja o vencedor. Nas últimas semanas, o governador João Doria fez uma ofensiva partidária que o levou a quase todos os estados e promoveu uma disputa, homem a homem, na qual até os vereadores de pequenas cidades foram abordados pessoalmente por seus emissários. Por isso, agora, é o favorito, mas não por larga margem. Muitas lideranças tucanas apoiam Eduardo Leite, que teria até 37% dos votos já assegurados nas prévias.

Vinicius Torres Freire - Os economistas de Lula, Moro ou 'x'

Folha de S. Paulo

À beira da ruína crônica, país necessita de acordos na campanha de 2022

Sergio Moro (Podemos) nomeou um conselheiro econômico. Assim lançou sua campanha entre as elites do poder. Também quis dar um sinal de que é mais do que mero capitão do lavajatismo ou justiceiro. Lula da Silva (PT) em breve terá de fazer lance assemelhado, não apenas para montar sua campanha. Aliás, o lance de Moro vale pouco.

Nomear um economista-mor quer dizer quase nada. Não que Affonso Celso Pastore, o escolhido de Moro, seja nada. É um economista reputado, goste-se ou não do que pensa. Por falar nisso, moristas e possíveis companheiros de viagem de Moro vão arrancar os cabelos quando Pastore começar a falar. O economista não tem papas na língua, olha o osso dos problemas e, se precisar, vai sugerir tratamentos que incluem amputações e remédios pesados. No debate vulgar, é o que se chama de ortodoxo duro e puro.

Bruno Boghossian - Cheque sem fundos

Folha de S. Paulo

Moro anuncia conselheiro, mas não dá pistas de sua agenda e de como pretende implementá-la

Numa corrida eleitoral, o anúncio de um guru econômico costuma ser uma maneira eficaz de fabricar um fato político, mas um péssimo indicador do programa de um futuro governo. Para ter uma ideia do que um candidato fará se chegar ao poder, é mais importante saber o que ele próprio pensa do que ouvir as análises de um conselheiro.

Nesta campanha antecipada, Sergio Moro sacou do bolso o nome de Affonso Celso Pastore como integrante de seu time. Em entrevista à TV Globo, o ex-juiz o descreveu como "um economista de renome, um dos melhores nomes do país, alguém que eu conheço há muito tempo".

Já se sabe o que Pastore pensa sobre diversos temas da economia. Ele diz ser favorável à abertura do mercado brasileiro ao exterior e à redução do peso do governo, sem a doutrina do Estado mínimo. O economista pode até criar um programa para Moro, mas os sinais emitidos pelo pré-candidato não dão pistas concretas de sua agenda e de como ele pretende implementá-la.

Hélio Schwartsman - Bolsonaro é culpa da Lava Jato?

Folha de S. Paulo

Não penso que seja tão simples culpar a Lava Jato pelo fato

Especialmente depois da liberação judicial de Lula para concorrer na próxima eleição, voltou a circular a ideia de que foi a Operação Lava Jato que colocou Bolsonaro no poder. Não penso que seja assim tão simples.

Começo retomando um argumento que já usei para defender o PT da acusação de ter sido responsável pela eleição do atual presidente. Precisamos diferenciar causas próximas das mais remotas e devemos reservar o rótulo "culpa" às primeiras, ou acabaremos responsabilizando o Big Bang por tudo o que há de errado no mundo.

Bolsonaro foi eleito porque recebeu a maior parte dos votos válidos. O culpado, portanto, é o eleitor. Isso não nos impede de analisar os vários elementos que contribuíram para esse desfecho, mas devemos ser cuidadosos para não transformar cofatores em causa primordial, o que levaria a uma má compreensão do fenômeno.

Ruy Castro - Os que atiram pelas costas

Folha de S. Paulo

Estes são os news-fakers. Mas há também os followers, os influencers, os haters, os faria-limers

Fake news, notícia falsa, mentirosa, pode não ser a palavra do ano, mas deveria ser a da década. É a arma por excelência dos covardes, daqueles que atiram pelas costas —no caso, disparos em massa— e, flagrados, negam. Nesta quinta (18), referindo-me aos que difundem os embustes de Jair Bolsonaro, chamei-os de news-fakers e só depois me ocorreu que poderia ter usado um perfeito equivalente em português, falsificadores de notícias.

Perdão, ouvintes. Deve ser de tanto ouvir expressões em voga, como faria-limers, que define os endinheirados da avenida Faria Lima, em São Paulo, e sua variante faria-loser, perdedor, desmoralizado, referindo-se ao ex-ministro da Economia em atividade Paulo Guedes. Sem falar nos out-of-towners, que são as pessoas com quem cruzamos no Rio e vê-se logo que são de fora, nos sixty-eighters, veteranos das revoluções de 1968, e até nos anitters, fãs da cantora Anitta.

Reinaldo Azevedo - O mimimi de reaça é covardia ressentida

Folha de S. Paulo

Não se deve culpar as vítimas pelo sucesso de um fascistoide que ganha um microfone e sim quem lhe deu o microfone

Há pessoas bastante preocupadas com o que consideram "mimimi" excessivo e patrulheiro de mulheres, comunidade LGBTQIA+, negros... A militância identificada com a defesa dos direitos dessas comunidades e a adesão de meios de comunicação e empresas a seus valores constituiriam um misto de censura e exclusivismo moral, escrevendo, então, a cartilha de um novo autoritarismo, essencialmente hipócrita porque, na fórmula conhecida, seria a homenagem do vício à virtude.

Pois é... A muitos cansa, então, a reivindicação de mais direitos ou da correção da linguagem por um padrão que, ao se pretender mais inclusivo, imporia limites à liberdade de expressão. Entendo o ponto. Mas a mim, confesso, cansa mais o chororô dos que veem cassada a licença que lhes parecia tão natural, caída da árvore dos acontecimentos, para atacar os humilhados de sempre. Ou para transformá-los em alvos de riso ou escárnio. Ou para submetê-los ao enxovalho público. Seu pecado essencial? Ser quem são. O mimimi dos reaças é só manifestação da covardia ressentida.

Eliane Cantanhêde - O candidato da Lava Jato

O Estado de S. Paulo

O ‘liberal’ Moro quer os náufragos do PSDB, da esquerda e de Bolsonaro

Durante décadas o PT usou o combate à corrupção, à fome e à pobreza como sua grande bandeira e o presidente Jair Bolsonaro se elegeu em 2018 com um falso personagem a favor do liberalismo econômico e contra a corrupção, a “velha política”, o “sistema”.

Lula foi condenado e preso, Bolsonaro se enrolou com rachadinhas e entregou a alma do governo ao Centrão, a Lava Jato foi enterrada sem choro nem vela e o combate à corrupção saiu de moda, da pauta, do discurso político e das manchetes.

É exatamente nesse vácuo que entra o ex-juiz e ex-ministro Sérgio Moro na eleição de 2022. Pelo óbvio: apesar de todos os solavancos da Lava Jato, grande parte do eleitorado não esqueceu e Moro continua sendo um ícone do combate à corrupção.

Em suas “intensas trocas de mensagens” pelas madrugadas com Valdemar Costa Neto, Bolsonaro reclama que o PL é aliado de vários dos seus adversários nos Estados. Já em público, ele tenta dourar a pílula, dizendo que ele e Costa Neto querem é “acertar o discurso” sobre as pautas conservadoras, internacionais e de defesa.

João Doria* - Como o PSDB pode ajudar o Brasil

O Estado de S. Paulo

A história deu razão ao partido. Os projetos estruturantes dos governos tucanos seguem presentes na vida dos brasileiros

A inflação alcançou a casa de dois dígitos, a economia está estagnada e o desemprego cresce dia após dia. O cenário é desolador: a desconfiança que já existiu no período da hiperinflação está de volta, prejudicando os brasileiros, especialmente os mais pobres. A maior conquista da economia brasileira, o Plano Real, sofre ameaças, depois de 27 anos. Precisamos novamente de um governo responsável, que derrote a inflação e garanta uma moeda forte, com recuperação da confiança, dos empregos e do poder de compra.

A história deu razão ao PSDB. Os projetos estruturantes implantados nos governos tucanos seguem presentes na vida dos brasileiros. O Plano Real, de Fernando Henrique Cardoso, a integração do Brasil ao mundo, o fortalecimento do SUS, as campanhas de vacinação, os remédios genéricos de José Serra, as escolas técnicas de Geraldo Alckmin, a universalização do ensino básico de Paulo Renato, o combate à pobreza de Ruth Cardoso, o olhar municipalista de Franco Montoro, o Poupatempo de Mário Covas e, mais recentemente, a vacina: tudo o que o PSDB construiu permanece vivo e atual.

Celso Ming - Desemprego e treinamento

O Estado de S. Paulo

Na edição desta quinta-feira, esta Coluna tratou da destruição de postos de trabalho que vem sendo produzidas tanto pelas inovações tecnológicas quanto pelo processo de substituição de energia fóssil por fontes limpas.

O especialista em Economia do Trabalho José Pastore está de pleno acordo em que esse fechamento de postos de trabalho vem acontecendo. Só não aceita a afirmação sem a necessária confirmação de que a criação de novos empregos não se dê na mesma proporção do fechamento dos anteriores. "Tudo depende do vigor do crescimento econômico e da qualidade da educação. Japão, Estados Unidos e Alemanha são países que incorporaram um volume brutal de tecnologia e, antes da pandemia, exibiam os menores índices de desemprego do mundo."

Pastore adverte que é preciso mudar os sistemas de ensino e intensificar os projetos de qualificação e reinserção da mão de obra no mercado de trabalho.

Cristian Klein - O momento para dar as costas a Bolsonaro

Valor Econômico

‘O tempo para ficar mal com o presidente é ali na beirada da eleição’

A perda de apoio de Jair Bolsonaro em sua base de simpatizantes tem sido demonstrada em estudos sobre engajamento nas redes sociais e pesquisas de avaliação de governo. A queda ocorre em proporção menor quando o assunto é a intenção de voto para 2022, embora isso não seja garantia de que o presidente chegará a um eventual segundo turno.

Tanto no nível dos eleitores quanto no da classe política, há crescente potencial para um “estouro da boiada” que pode inviabilizar o mínimo de competitividade para a reeleição. A rápida deterioração da economia, aliada à crise de personalidade pela vinculação explícita ao Centrão, seriam erros insustentáveis até para empedernidos bolsonaristas.

Está aí a chance de uma terceira via, que busca encontrar espaço antes que Lula avance a ponto de ganhar a disputa no primeiro turno, como começam a indicar alguns institutos. Há muito chão pela frente, mas em nenhum horizonte a vida de Bolsonaro parece fácil para manter a cadeira no Planalto.

Claudia Safatle - Governo aumenta risco fiscal e reduz gasto social

Valor Econômico

Não há mobilização por reajuste salarial do servidor

As contas públicas estão melhores do que indica a percepção dos mercados. O déficit primário transformou-se em um superávit de R$ 14 bilhões no consolidado deste ano até setembro, com a ajuda do gordo superávit de Estados e municípios. A inflação tem sido de grande ajuda para essa performance e o governo tem “comprado” mais riscos para a política fiscal do que seria recomendável. É isso que atormenta os agentes econômicos. O projeto de lei do orçamento de 2022 foi enviado ao Congresso com uma subestimativa de despesas de cerca de R$ 80 bilhões seja com o Bolsa Família, com o impacto da inflação sobre os benefícios previdenciários ou com o prognóstico de gastos com vacinas. A esse montante agrega-se demanda por um lote de despesas que com certeza supera a margem de gastos permitida pela Proposta de Emenda Constitucional nº 23, conhecida como a PEC dos precatórios.

Ao levantar a hipótese de reajustar os salários do funcionalismo federal, congelados há três anos, o presidente Jair Bolsonaro acrescentou mais um risco na lista de problemas identificados no Orçamento do próximo exercício. Há o temor de que os pagamentos dos precatórios virem uma bola de neve, a partir da PEC que parcela a dívida e joga prestações para o futuro. Há, ainda, uma gama de pedidos de aumento do gasto público, do vale-gás ao auxílio dos caminhoneiros, da prorrogação da desoneração da folha de salários para 17 setores por mais dois anos a emendas do relator e o fundo eleitoral.

Maria Cristina Fernandes – Veneno para o mundo morrer sem sentir

Valor Econômico / Eu & Fim de Semana

Rubens Ricupero diz que a demanda reprimida da pandemia impediu avanços maiores na COP26 e vaticina que mudança só virá quando perda atingir os milhões de dólares

 “Ela é o veneno que eu escolhi para morrer sem sentir.” É com esta estrofe de “Pela Décima Vez”, samba de 1935, que Noel Rosa define a amada. E é nele que o embaixador Rubens Ricupero se apoia para definir a 26ª COP, sigla para Conferência das Partes, que se encerrou na semana passada. Os limites esbarrados lhe mostraram que o conjunto das nações ainda escolhe matar o planeta aos poucos porque seu aquecimento ainda não lhe provoca medo de morrer. Não foi capaz de suscitar, na opinião pública mundial, o choque que se conheceu com a pandemia quando as pessoas foram obrigadas a mudar de comportamento e de vida.

Aos 85 anos, o ex-secretário-geral da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad) e ex-ministro do Meio Ambiente não precisou mudar seu jeito enclausurado de ser ao longo da pandemia para dimensionar a ameaça do aquecimento global resultante de seu maior encontro. E conclui que a própria pandemia pode ter sido um dos fatores a impedir avanços maiores. Como os países correm para atender à demanda reprimida ao longo da clausura, agiganta-se o custo político das decisões rumo à economia de baixo carbono. A se confirmar sua previsão, a mudança só vai acontecer, no Brasil e no mundo, quando as catástrofes chegarem aos milhões de dólares.

Não que a conferência tenha sido pura decepção. Os piores pressentimentos de Ricupero, tanto em relação à disputa entre as duas superpotências, China e Estados Unidos, quanto à participação brasileira, acabaram por não se confirmar. O pessimismo do embaixador vem da certeza de que os compromissos assumidos, por mais tímidos que sejam, não se farão cumprir e, se o forem, não evitarão o cataclisma climático.

José de Souza Martins* - Quanto custa a pobreza?

Valor Econômico / Eu & Fim de Semana

Somos o oposto de países cuja economia se organiza com base nos pressupostos civilizados de que a vida e o bem-estar são capitais sociais

A sombria indiferença social de muitos patronos e defensores deste modelo econômico, que arrasta o país para a incerteza e o abismo, justifica as perguntas que se lhes deve fazer. E, também, fazê-las aos cúmplices que, de vários modos, políticos e não políticos, lhes garantem a inacreditável sobrevida. Indiferença que indica a nenhuma preocupação com as vítimas deste subcapitalismo. Vítimas que são potenciais atores de um desenvolvimento econômico e social apenas possível. Aqui a indiferença terá custos históricos muito altos.

Quanto custa um faminto à economia, à sociedade e ao Estado? Não estou falando da ajuda financeira tópica que sequer sacia sua fome. Mas dos desdobramentos da fome e da pobreza nos diferentes âmbitos da realidade por ela afetados.

Quanto custa um desempregado? Um subempregado? Uma pessoa em situação de rua, um desesperançado? Um ser humano indevidamente doente porque não teve os meios para alimentar-se corretamente e evitar doenças e deficiências evitáveis que têm preço a curto e a longo prazo? Quanto custa à economia e à sociedade um doente cuja doença por muito menos poderia ter sido prevenida? Quanto custa à economia e à sociedade o barateamento dos custos do que não pode nem deve ser barato? Por que não poupar no que é desnecessariamente caro para aplicar na vida que é cara mas necessária?

Flávia Oliveira - De consciência, orgulho e afeto

O Globo

Neste 20 de novembro, faz 50 anos que um grupo de negros brasileiros plantou, em Porto Alegre, a semente do Dia da Consciência Negra. A data do assassinato, em 1695, de Zumbi dos Palmares — tornado ícone do quilombo que, da Serra da Barriga (AL), encarnou o sonho (ainda vivo) de liberdade e bem-estar do povo preto — foi escolhida como contraponto ao 13 de maio de 1888, efeméride de uma alforria concedida, que escondeu resistência e protagonismo negros. Ainda nos anos 1970, o Movimento Negro Unificado (MNU) incorporou a data a manifestações, primeiramente em São Paulo e, na sequência, Brasil afora. Em 2003, a Lei nº 10.639, que estabelece a obrigatoriedade do ensino de história e cultura afro-brasileiras, inseriu o Dia Nacional da Consciência Negra no calendário escolar.

O texto entrou para o rol da legislação brasileira nunca plenamente aplicada, resiste pelo trabalho, muitas vezes solitário, de professoras, diretoras de escola e ativistas, a maioria negras, como atesta Cida Bento, psicóloga social à frente do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (Ceert), que, em sete edições do Prêmio Educar para a Igualdade Racial e de Gênero, formou um banco de 3 mil boas práticas em 1.100 municípios brasileiros. Para o ano que vem, está confirmada a oitava.

O que a mídia pensa - Editoriais / Opiniões

EDITORIAIS

Mais saneamento

Folha de S. Paulo

Dados dão sinais de que investimentos no setor podem decolar com o novo marco

Pouco mais de um ano após a aprovação do novo marco regulatório do saneamento, que abriu espaço para maior participação do setor privado, há sinais de que o país poderá finalmente reverter décadas de descaso com o setor.

Segundo dados do Ministério da Economia, nos 12 meses encerrados em setembro a carteira de novos projetos em fase de contratação no BNDES chegou a R$ 35,3 bilhões, algo como dez vezes o padrão que vigorava até 2019.

O financiamento privado por meio de debêntures de infraestrutura, título de crédito que propicia isenção de Imposto de Renda no rendimento para pessoas físicas, também disparou no mesmo período, atingindo R$ 12 bilhões. Trata-se de um avanço notável ante média anual de R$ 2,4 bilhões que vigorou entre 2013 e 2019.

As concessões recentes têm atraído forte interesse, como evidenciado nas operações concluídas em Alagoas, no Amapá e no Rio de Janeiro, que juntas geraram R$ 25 bilhões em outorgas e projetam investimentos de R$ 47,3 bilhões ao longo da vigência dos contratos.

A partir de tais números, o país poderá se aproximar do patamar de investimentos observado internacionalmente. Entre 2000 e 2016 aportou-se no setor apenas 0,2% do Produto Interno Bruto ao ano, segundo o BNDES, metade do contabilizado na América Latina e menos de 20% da cifra chinesa.

Já não soa irreal, assim, a meta de universalização do acesso à água potável e de cobertura de 90% das residências com coleta e tratamento de esgoto até 2033.