Folha de S. Paulo
O peso do setor no PIB não pode ser uma
licença para matar
Li uma vez, duas, três, até me convencer
que era real o que estava escrito: Jonatas, de nove anos, filho de um líder de
trabalhadores rurais, foi assassinado a tiros, em Barreiros, Pernambuco, por
pistoleiros que invadiram a casa da família. Aterrorizado, o menino estava
escondido embaixo da cama, de onde foi arrancado para ser executado na frente
dos pais.
Até o momento em que escrevo, não vi nenhuma manifestação de indignação por parte do governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB). Oferta de proteção à família do pai da criança, Geovane da Silva Santos? Nada. O crime aconteceu há quatro dias.
Jonatas é mais uma vítima imolada na
disputa pela terra, cerne da injustiça e da desigualdade que anos de avanços
sociais não conseguiram equacionar no Brasil. A síntese poética de João Cabral
de Melo Neto, em "Morte e Vida Severina", permanece dolorosamente
atual, quase 70 anos depois: a cova com "palmos medida (…) é a parte que
te cabe deste latifúndio".
A lista de mártires pós-redemocratização é
extensa: Padre Josimo Tavares, Paulo Fonteles, João Carlos Batista, Chico
Mendes, Dorothy Stang, José Cláudio e Maria do Espírito Santo, a família de
Zé do Lago (chacinada um mês atrás) são alguns deles. Corumbiara, Eldorado do
Carajás, Fazenda Primavera, Taquaruçu do Norte, Pau d’Arco? São chacinas de
trabalhadores rurais, a maioria ainda impune.
Assassinatos, grilagem, trabalho escravo,
desmatamento, uso indiscriminado de agrotóxicos são armas de destruição em
massa de qualquer resquício civilizatório. Tem quem separe o agronegócio do
"ogronegócio", como se existisse uma distinção entre civilização e barbárie
nesta atividade. Existe?
Então, quem está do lado civilizado que
venha a público condenar a matança desenfreada de brasileiros no campo e a
agenda do lucro e da morte. É preciso bem mais do que campanha publicitária no
horário nobre. O peso do setor no PIB não pode ser uma licença
para matar.
Confesso que li,gostaria de desler,assassinato de criança não tem explicação.
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