Folha de S. Paulo
Tudo indica que ele será o substituto,
piorado, do que foi o WhatsApp em 2018
Reportagem de Marcelo Rocha, publicada
nesta Folha, mostra que o aplicativo de mensagens Telegram tem representante
legal no Brasil, desde 2015. O empresário russo Palev Durov, um dos fundadores
da plataforma, contratou o escritório Araripe & Associados, do Rio de
Janeiro, para representá-lo junto ao Instituto Nacional da Propriedade
Industrial, órgão do governo federal que faz o registro de marcas no país.
A revelação tira o Telegram da conveniente clandestinidade em que tentou permanecer até agora, ignorando esforços de contato das autoridades do Judiciário brasileiro. Há seis meses o aplicativo não responde a uma determinação do STF para remover publicação de Bolsonaro com ataques às urnas eletrônicas. Também ignora convite do TSE para discutir o combate a mentiras na campanha eleitoral que se aproxima. É como se dissesse: "E daí?".
O Telegram está no centro da discussão
sobre ferramentas digitais de uso planetário que atuam à margem das autoridades
e das leis dos países. O aplicativo não tem bons antecedentes. É a rede
preferida dos terroristas do Estado Islâmico. Presta-se aos crimes de
pedofilia, tráfico de drogas e de armas.
Tornou-se a fossa digital da extrema
direita mundial. Aqui, tudo indica que será o substituto, piorado, do que foi o
WhatsApp em 2018.
Não é mera coincidência que Bolsonaro tenha
viajado à Rússia, país de origem do aplicativo, e à Dubai, sede atual do
Telegram. Enquanto isso, o que faz a Câmara? O chamado projeto das fake news
tramita a passos de cágado, sob a indulgência cúmplice
de Arthur Lira e a pressão bolsonarista para evitar punições como
suspensão, bloqueio ou banimento de plataformas que ajam acima da lei.
A Alemanha deu
um bom exemplo de como enquadrar o Telegram. Diante da possibilidade de
bloqueio, o aplicativo tirou do ar 60 canais usados por extremistas. A
liberdade de expressão nas redes acaba quando a vida das pessoas está sob risco
e a democracia por um fio.
Claro como o dia.
ResponderExcluir