Folha de S. Paulo
Auxiliares vão com Bolsonaro até o fim ou
vão mostrar arrependimento se ruptura fracassar?
Pouco antes da derrota de Donald Trump nas
urnas, o secretário de Justiça americano dizia que as eleições do país estavam
sujeitas a fraudes. Ecoando o discurso do chefe, William Barr repetiu suspeitas
falsas e autorizou a
abertura de inquéritos que tinham o objetivo de reverter o
resultado da votação.
O comportamento de Barr só mudou depois que o caos estava instalado. Ele passou a descartar a hipótese de irregularidade e acabou demitido em dezembro, antes que Trump incitasse seus apoiadores a invadirem o Capitólio. Agora, em depoimento na investigação sobre o ataque, o ex-secretário diz que o presidente estava "desconectado da realidade" e confiava em teorias "totalmente sem sentido".
Em sua longa campanha para desqualificar as
eleições, Trump contou com a participação ativa e o silêncio de gente que
ocupava espaços importantes na estrutura do poder. O processo não foi obra de
meia dúzia de lunáticos. Uma rede de operadores e avalistas ajudou a cultivar,
por vários meses, o ambiente de ruptura e o projeto de insurreição liderado
pelo então presidente.
A tropa que atua a favor de Jair Bolsonaro
dá ao presidente algumas vantagens sobre Trump. Além do apoio explícito de
aliados, o brasileiro costurou o envolvimento das Forças Armadas e abriu canais
dentro da máquina pública –como se viu no vazamento do
inquérito da PF usado pelo governo para alimentar desconfianças sobre as urnas.
Uma fatia não desprezível dos auxiliares de
Bolsonaro deve acreditar genuinamente nos disparates repetidos pelo presidente.
Outros insistem na ilusão de que podem domar o chefe. Mas a adesão prática ou
tácita ao plano de contestar o resultado da eleição se deve a um único fator: o
poder. Ninguém parece interessado em perder espaços e privilégios se a
reeleição fizer água.
Os próximos meses mostrarão quantos
arrependidos como William Barr surgirão em terrenos bolsonaristas –e quantos
deles serão responsabilizados.
Bolsonaro tem muita gente perigosamente graúda do lado dele.
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