Valor Econômico
Eventual descarte do general Braga Netto
como vice pode sugerir que o carimbo militar já deu o que tinha que dar
Se o presidente da República vai abandonar
a lógica do vice como um seguro anti-impeachment para colocar, na sua chapa,
uma parlamentar do Centrão, com ascendência sobre uma bancada, como a
ruralista, com 180 votos, é porque para ser derrubado, precisa, antes, ser
eleito.
O eventual descarte do general Braga Netto
como vice pode sugerir que o carimbo militar já deu o que tinha que dar. Não
apenas frustrou a tutela como lambuzou-se de bolsonarismo. Sua substituição
pela deputada Tereza Cristina (PP-MS) não deixaria de ser uma demonstração de
que o capitão deu uma fraquejada e agora precisa que lhe arrumem votos. A
dúvida é se a ex-ministra da Agricultura o faria.
Se o comando da Agricultura deu a Tereza Cristina uma boa avaliação entre empresários do setor, por outro lado, também dificulta a execução da missão que viria a ter na chapa presidencial. A rejeição de Bolsonaro entre as mulheres dá-se, entre outros motivos, pela associação do presidente com a violência no campo e o desmatamento, pautas das quais a ex-ministra, pelo cargo que exerceu no governo, terá dificuldade de se dissociar.
Se Tereza Cristina enfrentou, no governo, a
oposição de nomes como o ex-ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, tampouco
é uma ministra associada a pautas ditas “femininas”, como, por exemplo, Damares
Alves, ex-titular da Pasta da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos no
Brasil.
Na Câmara dos Deputados a atuação de Tereza
Cristina sempre esteve muito mais vinculada à Frente Parlamentar da Agricultura
e à Comissão da Agricultura do que às comissões mais tradicionalmente ocupadas
por mulheres como educação, saúde ou seguridade social.
Basta ver como se dá a corrida pelo Senado
no Mato Grosso do Sul, vaga disputada pela ex-ministra da Agricultura até que
sua adesão à chapa bolsonarista venha a se confirmar. Seu principal adversário
é um ex-colega de Esplanada, o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta.
A saída da ex-ministra da disputa lhe é
prejudicial, segundo avaliam aliados do ex-ministro da Saúde. Isso porque a
disputa hoje no Estado se divide entre os que “vendem carne” e os que “compram
carne”. Mandetta, apesar de relações familiares no agronegócio, busca, por sua
passagem na Câmara e, principalmente, no ministério, granjear votos no segundo
bloco. E teria mais facilidade em fazê-lo se fosse capaz de antagonizar com
quem, como Tereza Cristina, se identifica, mais claramente, com os que “vendem
carne”.
O ex-ministro mantém uma relação próxima
com o PT que já governou o Estado (de 1999 a 2007) e vai lançar um professor
universitário sem experiência eleitoral para o Senado. Seu primo, o senador
Nelson Trad, candidato ao governo pelo PSD, não hostiliza nem o ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva nem Bolsonaro.
A associação da ex-ministra Tereza Cristina
com o agronegócio arrisca fortalecer Bolsonaro onde ele já tem voto sem ajudar
naqueles setores que o presidente não conquistou. Então por que cogitá-la como
parceira de chapa? Uma hipótese é a facilidade que a ex-ministra teria para
convencer o agronegócio a colaborar financeiramente com a campanha, faculdade
da qual Braga Netto é desprovido.
A outra hipótese é que, com a saída de
Tereza Cristina do páreo do Senado no Mato Grosso do Sul, a senadora Simone
Tebet (MDB-MS) poderia vir a desistir da disputa presidencial para tentar a
reeleição. Esta hipótese, porém, é completamente descartada, tanto por
interlocutores da senadora quanto pelo meio político local.
Ao colocar, novamente, o nome de Tereza
Cristina na roda, o grupo político de Bolsonaro pode até pretender medir a
temperatura da candidatura presidencial de Simone Tebet, sem, contudo, ser
capaz de desviar a senadora de sua rota.
A presença de uma representante de um
Estado agrícola, por excelência, na disputa presidencial, pode dividir mais o
apoio dos empresários do agronegócio do que aquele do eleitorado do
Centro-Oeste. O agronegócio contabiliza os benefícios auferidos com Bolsonaro,
mas teme os limites impostos pelo mercado internacional à escalada presidencial
contra o clima e os direitos humanos.
Os efeitos sobre o eleitorado advindos da
entrada da senadora emedebista na disputa presidencial, porém, ainda não se
fizeram sentir. No Mato Grosso do Sul, as pesquisas indicam que Lula polariza
com Bolsonaro, de quem está atrás por um percentual de votos mais reduzido do que
pretendia a retaguarda presidencial.
O agronegócio já devia ter acordado para o perigo de uma reeleição de Bolsonaro.
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