Valor Econômico
Apoio de Lula e esquerda unida adianta só
no 1° turno
Luiz Inácio Lula da Silva teve seu batismo
nas urnas em 15 de novembro de 1982, quando com número 3 (o 13 seria adotado
logo depois) apareceu na cédula de votação para o cargo de governador de São
Paulo na primeira eleição do recém-criado Partido dos Trabalhadores.
Fundado pela união de sindicalistas com
acadêmicos, artistas e lideranças católicas que tinham em comum a oposição ao
regime militar e ideologia de esquerda, o PT possui DNA fortemente paulista.
Apesar de ter se nacionalizado em 42 anos,, ironicamente o PT nunca venceu o
Estado de São Paulo.
Desde o 4º lugar na estreia de Lula em 1982, o PT escalou figuras históricas e nomes promissores do partido para disputar o Palácio dos Bandeirantes: Eduardo Suplicy (4º em 1986), Plínio de Arruda Sampaio (4º em 1990), José Dirceu (3º em 1994), Marta Suplicy (3º em 1998), José Genoino (2º em 2002), Aloizio Mercadante (2º em 2006 e 2010), Alexandre Padilha (3º em 2014) e Luiz Marinho (4º em 2018). Os petistas, porém, nunca chegaram nem perto de assumirem o comando da mais poderosa unidade federativa brasileira.
Fernando Haddad é a aposta da vez para
quebrar essa escrita. Prefeito da capital paulista entre 2012 e 2016 e
candidato derrotado à Presidência da República em 2018, ele largou na frente
nas pesquisas eleitorais, posicionando-se com boa folga nas intenções de voto
tanto no primeiro quanto no segundo turno.
Além de seus atributos pessoais - como
formação profissional e experiência política - o nome de Haddad tem um forte
recall junto ao eleitorado paulista, o que explica a boa pontuação nesta fase
de pré-campanha. O professor da USP e ex-ministro da Educação conta ainda com o
empurrão de Lula, que lidera a disputa por um terceiro mandato presidencial.
Essa dobradinha Lula-Haddad dá esperanças à esquerda de encerrar um domínio do
PSDB em São Paulo que já dura sete eleições seguidas (de 1994 a 2018). Mesmo
assim a batalha não será fácil.
Como pode ser visto no gráfico abaixo,
historicamente o PT enfrenta muita resistência no Estado. Tomando as médias de
votação dos candidatos petistas ao governo desde 1994 em cada município
paulista, observamos que o partido se mostra competitivo somente em dois
enclaves principais: a região do seu berço sindical (Diadema, São Bernardo,
Santo André e Cubatão) e o entorno de Campinas, onde seu desempenho sempre
supera a média de 35% dos votos válidos.
Em outras áreas, como a capital e cidades
populosas como São José dos Campos, Araraquara e Ribeiro Preto, a pontuação cai
para a faixa de 20% a 25%. À medida que se avança para o interior e o litoral,
a preferência pelo PT cai significativamente, gravitando entre 10% e 15%.
Essa resistência ao PT fora dos grandes
centros urbanos e industriais de São Paulo é o maior obstáculo aos planos de
Haddad de se tornar o primeiro governador do partido no Estado, principalmente
diante da formação das chapas adversárias.
Em entrevista recente concedida a Cristiane
Agostine e César Felício, do Valor, Fernando Haddad comemorou o fato de ter
construído uma ampla coalizão de esquerda em torno de si (PT, PV, PCdoB, Psol e
Rede), enquanto a direita e a centro-direita estariam fragmentadas entre as
candidaturas do bolsonarista Tarcísio de Freitas (Republicanos) e do atual
governador Rodrigo Garcia (PSDB).
Quanto à possibilidade cada vez mais real
de enfrentar também Márcio França (PSB), Haddad citou no Estadão números do
Datafolha que indicam que 40% dos eleitores do ex-governador considerarem o
governo Bolsonaro ótimo ou bom. Ao se posicionar como o único nome viável da
esquerda, Haddad considera que o caminho até o Bandeirantes está pavimentado,
pois os conservadores se dividirão entre três opções diferentes.
Não há muitas dúvidas de que, com o apoio
de Lula e dos principais partidos de esquerda, Haddad praticamente sacramenta
presença no segundo turno, repetindo o feito de José Genoino em 2002. O risco
da sua candidatura, contudo, está justamente em repetir a história desse
ex-presidente do partido.
Em 2002 a campanha de Genoino para o
governo de São Paulo foi turbinada pela ascensão de Lula rumo ao Palácio do
Planalto, e assim ele terminou o primeiro turno com 32,5% dos votos,
relativamente próximo de Geraldo Alckmin (com 38,3%) e bem à frente do terceiro
colocado, Paulo Maluf (com 21,4%).
Sem construir pontes à direita, entretanto,
Genoino não teve para onde crescer, enquanto os votos de Maluf migraram quase
totalmente para Alckmin. Resultado: o ex-tucano foi reeleito com 58,6% dos
votos, contra apenas 41,4% do petista.
Ainda é cedo para cravar que Haddad é o
novo Genoino. Mas o que ele considera trunfo (ser o ungido de Lula na esquerda)
pode se configurar uma armadilha no segundo turno, caso os eleitores
conservadores de Tarcísio, Garcia e França migrems para o adversário do
petista, seja ele quem for.
*Bruno Carazza é mestre em economia e doutor em direito, é autor de “Dinheiro, Eleições e Poder: as engrenagens do sistema político brasileiro” (Companhia das Letras)”.
PT e PSDB são equivalentes,a tragédia brasileira se chama Bolsonaro.
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