terça-feira, 21 de junho de 2022

Eleição de Petro fortalece frente de esquerda na América Latina

Expectativa a partir de agora será pela eleição presidencial brasileira, na qual o novo presidente da Colômbia apoia abertamente Luiz Inácio Lula da Silva

Por Janaína Figueiredo /O Globo

Com a eleição de Gustavo Petro como novo presidente da Colômbia, seis países da América do Sul passarão a ter governos articulados numa frente de esquerda, que deixou claras suas posições, demandas e bandeiras na Cúpula das Américas, realizada na primeira semana de junho, em Los Angeles.

O grupo, já formado por Argentina, Bolívia, Chile, Peru, Venezuela e, agora, Colômbia, se fortalece com a presença e liderança do México, governado por Andrés Manuel López Obrador, que não participou do encontro presidencial em repúdio à exclusão, por parte da Casa Branca, de Venezuela, Nicarágua e Cuba.

Em seu discurso de vitória, Petro disse estar, junto a seus aliados e eleitores, "escrevendo uma nova história para a Colômbia e a América Latina". Uma história que o presidente eleito espera escrever junto a Luiz Inácio Lula da Silva, a quem apoia publicamente na campanha eleitoral brasileira.

Os contatos e conversas acontecem há bastante tempo. Petro esteve na posse de Boric no Chile, em março passado. É provável que convide Lula para sua própria posse, no próximo dia 7 de agosto, como também o fez o presidente chileno. Já o venezuelano Nicolás Maduro não deverá estar na lista de convidados, porque já faz algum tempo que Petro entendeu que devia se descolar do chavismo para derrubar fantasmas de que sua eleição transformaria a Colômbia numa nova Venezuela.

Mas o presidente eleito vai recompor relações com o país vizinho, e também retomar o diálogo. Os países dessa nova e cada vez maior frente de esquerda latino-americana condenam violações dos direitos humanos, mas pregam a inclusão de governos que os violam em debates regionais.

É um novo momento da política continental. Planos de intervenção e ofensivas para derrubar Maduro são coisas do passado. A palavra de ordem agora é diálogo e os que defendem medidas da chamada diplomacia coercitiva, entre elas sanções econômicas e políticas, são cada vez menos.

Os três países que lideraram a campanha internacional a favor do reconhecimento de Juan Guaidó como presidente interino da Venezuela, em 2019, foram Estados Unidos, Brasil e Colômbia. Restam os EUA, que na Cúpula das Américas foram pressionados para mudar de posição, e o Brasil de Jair Bolsonaro.

Até a noite deste domingo, o Palácio do Planalto não havia se pronunciado sobre a eleição na Colômbia. Como no caso de Boric, no Chile, a relação bilateral deverá esfriar até a eleição brasileira. A Colômbia de Petro, como o Chile de Boric, aposta na volta de Lula ao poder.

Esta nova frente de esquerda cresce e se consolida em momentos de grandes desafios regionais e globais. As articulações poderiam levar à reativação de blocos como a União de Nações Sul-americanas (Unasul), ou alguma iniciativa similar. As experiências efêmeras de grupos criados por governos de direita nos últimos anos devem desaparecer. A Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac) deve ganhar ainda mais peso. A expectativa agora é o Brasil, que saiu da Celac em 2020 e, desde então, se recusou a participar de encontros do grupo.

A direita latino-americana e global sofreu mais um revés num país que acreditava dominar, e está em estado de alerta.

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