Folha de S. Paulo
Donos do governo agora querem estourar os
gastos com decreto de calamidade
O desespero é grande entre os políticos
aliados de Jair
Bolsonaro. Os regentes do governo, os primeiros-ministros desse
semiparlamentarismo aloprado, querem
agora aprovar um decreto de calamidade, um instrumento legal que liberaria
gastos do governo quase em geral, com exceção marcante de reajustes para
servidores públicos.
Os regentes são os líderes do centrão,
Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara, e Ciro Nogueira (PP-PI), senador
licenciado e ministro da Casa Civil. A medida desesperada ainda é improvável e
poderia parar na Justiça. Paulo Guedes, ministro da Economia, é contra, mas já
teve de engolir decisões dos regentes do centrão.
Um objetivo da liberação de gastos e do
rombo no teto
de gastos seria arrumar dinheiro para bancar parte do preço
dos combustíveis —para subsidiar diesel e talvez gasolina. Mas o céu é
o limite.
O governo federal está praticamente na mão dos regentes desde o trimestre final do ano passado. Eles e turma estavam mais confiantes em vitória de Bolsonaro, com Auxílio Brasil, inflação menor e algum crescimento da economia além da miséria que vemos desde 2017. Por vários motivos, não deu certo.
A subida
de Lula da Silva (PT) nas pesquisas deixou essa gente mais nervosa e
irritada (tem havido gritos e "ultimatos" em conversas entre regentes
e certos grupos do governo).
Como são muito toscos, ignorantes e, para
usar um eufemismo, irresponsáveis, não têm escrúpulo de aprontar qualquer
medida economicamente alucinada. A dúvida agora é descobrir quanto poder essa
gente tem de quebrar o governo de modo ainda mais desavergonhado do que de
costume a fim de ganhar uns votos, de resto incertos. Você mudaria seu voto se
o preço da gasolina ou do diesel baixasse R$ 1 (um real) por litro?
Caso passasse, o decreto do estouro da
boiada de gastos indevidos mal direcionados espalharia estilhaços bastantes
para garantir inflação mais alta logo mais adiante e um começo de governo ainda
mais miserável para quem vier a ser eleito em outubro.
Apesar de aloprado, um golpe político
descarado nas contas e na decência públicas, o plano do decreto de calamidade
passou a ser admitido até em público, como
em entrevista de Nogueira à CNN Brasil. Outras tentativas de baixar o preço
de combustíveis ou da conta de luz estão ainda encalacradas.
Entre as mais importantes: 1) a implantação
da nova regra de cobrança de ICMS sobre diesel, objeto de disputa entre governo
e estados; 2) o projeto de lei que reduz
o ICMS sobre combustíveis em geral, eletricidade, telecomunicações e
transportes; 3) o plano de cobrar mais imposto das petroleiras a fim de bancar
algum tipo de subsídio qualquer (seja por meio de compensação para o ICMS menor
ou uma gambiarra qualquer). Esse plano durou menos de uma semana e está quase
morto; 4) Mudar a direção da Petrobras, colocá-la no cabresto e/ou mudar o
estatuto da empresa a fim de conter novos reajustes.
Ainda que algum desses truques ou medidas
venha a ser implementado e, ainda por cima, funcione (que os preços caiam para
o consumidor final), não devem ter efeito antes de julho.
Por mais aloprados que sejam, dificilmente
vão baixar o preço de gasolina ou diesel em, digamos, mais de R$ 1 (um real)
por litro. Para tanto, seria necessário um subsídio de cerca de R$ 100 bilhões
em um ano (o Auxílio Brasil custa R$ 89 bilhões por ano).
Afora economistas e alguns outros suspeitos
de sempre, pouca gente está ligando para as ameaças do golpe fiscal dos
regentes do centrão (que poderia contar com a maioria larga dos votos da
Câmara). Mas faz muito vivemos não o tempo da imaginação no poder e, sim, do
inimaginável.
O desespero tomou conta dos aloprados.
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