domingo, 3 de julho de 2022

Eliane Cantanhêde: Fim do tripé do governo

O Estado de S. Paulo

Queda de Pedro Guimarães da CEF encerra núcleo ideológico no primeiro escalão

Ao se esborrachar na Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães foi praticamente a última cara dos ideológicos no primeiro escalão. Jair Bolsonaro elegeu-se com o tripé militar/policial, evangélico e ideológico, mas logo no primeiro ano de governo o “núcleo conservador” levou um safanão e quem passou a dar as ordens foi o Centrão. A “nova política” foi escanteada no Congresso e vem sendo empurrada para o terceiro e quarto escalões.

Já à deriva, os ideológicos afundaram de vez com a morte de Olavo de Carvalho. Sem chances, o diplomata Ernesto Araújo, defenestrado do Itamaraty, tenta assumir o papel de Carvalho com sua lenga-lenga apocalíptica sobre o fim do Ocidente, contra a China e a favor de Donald Trump. Araújo e Abraham Weintraub, ex-ministro da Educação sem poder ser, esperneiam, mas ninguém dá bola.

Ricardo Salles, ex-ministro do Meio Ambiente sem jamais ter pisado antes na Amazônia, anda mais ocupado em se livrar de inquéritos sobre desvios em São Paulo e relações com madeireiras criminosas. E Damares Alves, ex-ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, é candidata a alguma coisa no DF.

Também pastor e da cota dos ideológicos como Damares, Milton Ribeiro já foi preso e jogou o presidente na fogueira duas vezes: ao dizer que foi ele quem meteu no MEC os dois pastores mergulhados até o último fio de cabelo em negociatas e lhe passou informações privilegiadas sobre busca e apreensão.

Até os filhos Eduardo e Carlos Bolsonaro, do núcleo mais ideológico, andam mais discretos. Assim, quem manda no governo e faz qualquer coisa pela reeleição são o filho 01, senador Flávio Bolsonaro, o Centrão de Ciro Nogueira e Arthur Lira e o núcleo militar do futuro vice na chapa, general Walter Braga Netto. Enquanto eles trabalham, Bolsonaro atrapalha.

Mas, se os ideológicos sumiram no palco, continuam firmes e fortes em áreas como a Cultura, que concedeu a Medalha do Mérito do Livro para Daniel Silveira, incapaz de ler um livro, quanto mais de escrever um, mas agora ao lado de Carlos Drummond de Andrade.

Enquanto os ideológicos fazem dessas, o Centrão dá um golpe de mestre: a PEC da Reeleição, que cria o estado de emergência, faz picadinho da lei eleitoral e do teto de gastos e dá mais R$ 41 bilhões do dinheiro público para Bolsonaro recuperar as chances de vencer.

Com 33 milhões passando fome, essa é a maior urgência do Brasil. Mas só viram agora, como perguntou o senador José Serra, único com coragem para fugir da armadilha? Assim como o Senado, a Câmara vai aprovar em peso, e em tempo recorde, a tábua de salvação, não dos miseráveis, mas de Jair Bolsonaro. •

 

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