quarta-feira, 13 de julho de 2022

Fábio Alves: Paradoxos da inflação

O Estado de S. Paulo

Evolução recente dos preços tem confundido os analistas mais experientes no Brasil e no mundo

O comportamento da inflação no Brasil e no mundo nos últimos dois anos tem confundido os mais experientes analistas e banqueiros centrais a tal ponto que, em alguns casos, mesmo se houver queda nos índices de preços ao consumidor, a avaliação sobre a dinâmica inflacionária seguirá pessimista.

A situação é tão complexa que os bancos centrais vão seguir tão ou mais pressionados a elevar os juros, independentemente de a inflação subir ou ceder mais do que o previsto pelos analistas.

É o que deve acontecer com o IPCA, o índice oficial no Brasil, para julho, quando o mercado espera uma deflação no mês, a primeira desde maio de 2020. As desonerações de impostos sobre combustíveis, energia e telecomunicações aprovadas pelo Congresso vão levar a uma forte queda nos preços de gasolina, etanol, energia elétrica residencial, entre outros itens essenciais, já neste mês.

Por enquanto, as estimativas do mercado variam de uma deflação de 0,40% até 0,92% para o IPCA de julho. Certamente, a queda no índice ganhará destaques nas manchetes da imprensa, mas o alívio será considerado apenas passageiro, já que a redução de alguns tributos, como PIS/Cofins, é válida apenas até o fim deste ano.

Por outro lado, os preços de serviços vêm subindo aceleradamente com a reabertura da economia e a recuperação mais forte do mercado de trabalho, especialmente com a queda da desocupação. Além disso, há o impacto da inércia inflacionária, visto que a taxa acumulada em 12 meses do IPCA vem rodando acima de dois dígitos há quase um ano, pressionando os reajustes salariais e outros preços com algum mecanismo de indexação.

E os preços de serviços são mais persistentes e custosos para ceder do que outros componentes da inflação. Para agravar a situação, a PEC Kamikaze, que injetará R$ 41,25 bilhões na economia com o aumento do Auxílio Brasil e a bolsa-caminhoneiro, entre outras transferências de renda, vai dar novo impulso à demanda, contribuindo para pressionar os preços de serviços.

Já nos EUA, será divulgada hoje a inflação para o mês de junho. O consenso das projeções aponta para uma taxa anual de 8,8%. Para os investidores, se a inflação seguir elevada, a avaliação é de que a economia americana seguirá refém dos choques de oferta, o que é negativo. E, se a inflação ceder, a culpa será de uma demanda mais fraca, agravando os temores de recessão. Também ruim.

É de Jerome Powell, presidente do BC americano, a melhor definição para a situação atual: “Agora entendemos melhor o quão pouco entendemos sobre a inflação”.  

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