O Estado de S. Paulo
Evolução recente dos preços tem confundido
os analistas mais experientes no Brasil e no mundo
O comportamento da inflação no Brasil e no
mundo nos últimos dois anos tem confundido os mais experientes analistas e
banqueiros centrais a tal ponto que, em alguns casos, mesmo se houver queda nos
índices de preços ao consumidor, a avaliação sobre a dinâmica inflacionária
seguirá pessimista.
A situação é tão complexa que os bancos
centrais vão seguir tão ou mais pressionados a elevar os juros,
independentemente de a inflação subir ou ceder mais do que o previsto pelos
analistas.
É o que deve acontecer com o IPCA, o índice
oficial no Brasil, para julho, quando o mercado espera uma deflação no mês, a
primeira desde maio de 2020. As desonerações de impostos sobre combustíveis,
energia e telecomunicações aprovadas pelo Congresso vão levar a uma forte queda
nos preços de gasolina, etanol, energia elétrica residencial, entre outros
itens essenciais, já neste mês.
Por enquanto, as estimativas do mercado variam de uma deflação de 0,40% até 0,92% para o IPCA de julho. Certamente, a queda no índice ganhará destaques nas manchetes da imprensa, mas o alívio será considerado apenas passageiro, já que a redução de alguns tributos, como PIS/Cofins, é válida apenas até o fim deste ano.
Por outro lado, os preços de serviços vêm
subindo aceleradamente com a reabertura da economia e a recuperação mais forte
do mercado de trabalho, especialmente com a queda da desocupação. Além disso,
há o impacto da inércia inflacionária, visto que a taxa acumulada em 12 meses
do IPCA vem rodando acima de dois dígitos há quase um ano, pressionando os
reajustes salariais e outros preços com algum mecanismo de indexação.
E os preços de serviços são mais
persistentes e custosos para ceder do que outros componentes da inflação. Para
agravar a situação, a PEC Kamikaze, que injetará R$ 41,25 bilhões na economia
com o aumento do Auxílio Brasil e a bolsa-caminhoneiro, entre outras transferências
de renda, vai dar novo impulso à demanda, contribuindo para pressionar os
preços de serviços.
Já nos EUA, será divulgada hoje a inflação
para o mês de junho. O consenso das projeções aponta para uma taxa anual de
8,8%. Para os investidores, se a inflação seguir elevada, a avaliação é de que
a economia americana seguirá refém dos choques de oferta, o que é negativo. E,
se a inflação ceder, a culpa será de uma demanda mais fraca, agravando os
temores de recessão. Também ruim.
É de Jerome Powell, presidente do BC americano, a melhor definição para a situação atual: “Agora entendemos melhor o quão pouco entendemos sobre a inflação”.
Se correr o bicho pega,se ficar o bicho come.
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