Folha de S. Paulo
Na universidade e na democracia, o debate
livre de ideias é princípio ético inegociável
A palavra "lúdico" vem do latim
"ludus" que, na Roma antiga, significava não apenas "jogo"
e "brincadeira", mas também era o nome das escolas onde crianças
aprendiam matemática, escrita e até retórica. Adoro essa relação entre jogo e
conhecimento, mas parece que desaprendemos a jogar.
Aumentam
casos em que palestrantes são impedidos de falar em universidades por alguma
militância política. Professores são "cancelados" e
até correm risco de demissão por dizerem algo considerado indevido, muitas
vezes por critérios subjetivos. Nos EUA, a moda começou nos anos 1990:
feministas exigiram a demissão de Camille Paglia só porque discordavam de
artigos da pesquisadora. O problema também atinge os alunos. Segundo pesquisa
do College Pulse, 80% dos 37 mil universitários entrevistados disseram já ter
praticado autocensura e 48% se sentem desconfortáveis em manifestar opiniões
sobre temas polêmicos.
No Brasil, uma turba raivosa tentou impedir
a exibição do filme sobre Olavo de Carvalho e, semana passada, o vereador
Fernando Holiday foi impedido de falar em um evento na Unicamp. Não
é necessário concordar com alguém para ser contra censurá-lo. Isso porque o
meio acadêmico é um jogo no qual a habilidade requerida é a argumentação:
chutamos com fatos, driblamos com analogias, fazemos gol com a lógica. Para
vencermos o jogo, é preciso deixar o adversário jogar: no caso, deixá-lo falar.
Na academia e na democracia, o debate livre é um princípio categórico ético
inegociável. Caso contrário, destrói-se o próprio fundamento dessas
instituições. Lá no século 17, Espinosa afirmava que ações podem ser
reprimidas, mas palavras não ("Num Estado livre cada indivíduo pensa como
lhe apraz e lhe é permitido dizer o que pensa"), e que quanto mais se
reprime a expressão de um grupo, mais resistente ele se torna. Ou seja, esse
senhor de 400 anos de idade é um atleta muito mais habilidoso e corajoso no
jogo democrático do que muito jovem universitário em pleno século 21.
Olavo de Carvalho e Fernando Holiday são figuras nefastas,mas não podem ser censuradas,a não ser quando cometem crimes,o primeiro até já morreu,coitado.
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