Valor Econômico
Presidente montou armadilha para tomar base
social do PT
A aprovação, pelo Congresso, da PEC do
desespero, dará ao presidente Jair Bolsonaro um volume mensal de recursos (R$
12 bilhões), em valores nominais, quatro vezes maior do que aquele despendido
pelo Bolsa Família (R$ 2,9 bilhões). O PT não vai mais poder se agarrar ao
passado. Para estancar o avanço do bolsonarismo sobre sua base social, patente
na pesquisa Quaest, terá que mostrar como ir além.
Isso acontece num momento em que o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva começa a se aproximar do empresariado.
Dele vem a cobrança por um discurso centrista que restabeleça responsabilidade
fiscal e mantenha deprimidos os custos do trabalho que, na crise, têm permitido
a sobrevivência de empresas. A armadilha do erário escancarado colocou Lula
numa encruzilhada. E não é sobre o número de turnos da eleição. É sobre a
determinação do presidente em vencê-la.
Com a PEC, Bolsonaro jogou em todas as posições. Emparedou o Judiciário e sua defesa do devido processo eleitoral, impediu o protagonismo da oposição em propor que as mudanças ultrapassassem 2022, e, finalmente, abriu uma avenida para ter o reconhecimento eleitoral dos beneficiados.
Leandro Ferreira, presidente da Rede
Brasileira de Renda Básica, diz que, para manter o poder de compra alcançado
com os R$ 600 em 2020, o Auxílio Brasil teria que ser de R$ 727 (pelo INPC).
Argumenta ainda que, no auge da pandemia, o programa teve 69 milhões de
beneficiários, ao passo que agora serão 20 milhões. Mas hoje há outros
benefícios, como o vale-gás, e outros beneficiários, ainda que não exatamente
na base da pirâmide social, como caminhoneiros e taxistas.
E é inegável que, ao entrar na cabine, o
eleitor estará recebendo mais dinheiro do governo do que o fazia na época do
PT. É bem verdade que às custas de políticas sociais na educação e na saúde,
rifadas pela redução do ICMS sobre combustíveis. Se é um ganho de curto prazo,
este é o prazo da eleição.
Os sinais de que Bolsonaro vinha avançando
sobre a base do lulismo já haviam sido captados pelo PT. Não apenas pela
perspectiva de um Auxílio Brasil mais avantajado mas pela queda no desemprego.
Ainda que precarizados, emprego e renda voltaram a subir. Em 12 meses, a taxa
de desemprego despencou cinco pontos percentuais e é a mais baixa (9,8%) em
seis anos.
O sinal, que é amarelo no PT, ainda pode
avermelhar. Com a queda no barril do petróleo, provocada pelo freio da economia
mundial, não espantará se o preço nos combustíveis, além de reduzidos pela
queda no ICMS, o forem também pela Petrobras. Na Quaest, Bolsonaro é menos
culpado (25%) pelos preços, que Petrobras, governadores, dólar, guerra, mercado
internacional e donos de postos somados (60%). Se o preço cair mais, vira
“herói da bomba”.
Se o avanço de Bolsonaro no Sudeste está
relacionado aos combustíveis, as posições ganhas no Nordeste e entre as
mulheres, dois redutos lulistas, não deixam dúvidas do impacto da melhoria e da
perspectiva de melhoria na renda para sua candidatura. O presidente cresceu
quatro pontos entre as mulheres a despeito de mais da metade delas ter tido
conhecimento de que o ex-presidente da Caixa Econômica Federal valeu-se do
cargo para subjugar mulheres às suas taras. Dá pra ter dúvida de qual é a
agenda da eleição?
O que resta ao PT fazer para retomar o
poder de agenda nessa discussão? Em encontro na Fundação Perseu Abramo, a Rede
Brasileira de Renda Básica apresentou a proposta de uma renda básica de R$ 190
para cada um dos 65 milhões de crianças e jovens até 18 anos. Filho de rico
recebe também, mas 90% dos benefícios vão para famílias de até dois salários
mínimos.
Este programa totaliza R$ 129 bilhões, um
pouco mais do que o gasto anualizado da farra eleitoral do bolsonarismo, mas
sem os penduricalhos e problemas cadastrais como o de casais que se declaram
separados para receber o benefício em dobro. Aloizio Mercadante aprovou, mas os
demais insistiram que a marca é o Bolsa Família. Quando a discussão terminou, a
impressão que ficou foi a de um partido aprisionado no passado. Até o site que
recolhe sugestões para o programa de governo está formatado para só aceitá-las
dentro da atual concepção do Bolsa Família.
Se a discussão para o resgate da baixa
renda anda em círculos, a da porta de saída dá um passo para frente e dois para
trás. Felipe Nunes, da Quaest, vê Bolsonaro fazendo aquilo que faltou ao PT em
1994. Se ainda hoje os petistas são cobrados por terem sido contra o Plano
Real, Bolsonaro aprendeu com o erro alheio. Apropriou-se da agenda petista. A
resposta, diz, teria que vir de uma proposta arrojada para o mercado de
trabalho.
Quando foi governo, o PT deixou como marca
a valorização do salário mínimo e o emprego formal. Nesta campanha chegou a
propor a revisão da reforma trabalhista, mas enfrentou resistências
empresariais e da própria aliança. Reformulou o enunciado para contemplar tanto
empresas que abrigam funcionários temporários quanto trabalhadores de
plataformas. Pode até ter conseguido avançar no centro, vide a paralisia da 3ª
via, mas viu Bolsonaro sair do cercadinho para pastar em sua grama.
Se alguém duvida do quanto o tema pode ser
decisivo basta ver a dificuldade de Lula furar a bolha de Bolsonaro entre os
evangélicos. O partido desistiu de cativar as lideranças. Considera-as fechadas
em copas com o bolsonarismo.
Os petistas atribuem o fracasso na
participação do PSD na aliança de Fernando Haddad em São Paulo à pressão do
deputado federal Cezinha da Madureira (PSD-SP), pastor da Assembleia de Deus e
líder da Frente Parlamentar Evangélica. Vice-líder do governo na Câmara, foi o
principal cabo eleitoral de André Mendonça no Supremo. É bolsonarista roxo. No
PSD de São Paulo é o único que pode se considerar um puxador de votos capaz de
alavancar mais do que seu próprio mandato para aumentar a acanhada bancada de
quatro deputados em São Paulo.
Sem perspectiva de fisgar lideranças
evangélicas, resta ao PT cativar os fiéis. Como? Não pode disputar a pauta de
costumes porque colide com seus princípios. Nem criticá-la. Da última vez que
Lula tentou, crucificaram Rosângela Silva, a Janja. A saída é ir além. Avançar
na pauta da geração de emprego e do empreendedorismo.
Se Bolsonaro recupera o eleitor evangélico de 2018 não é porque o governo lhes devolveu alguma renda. Ficou fácil para os pastores pedirem voto para Bolsonaro. Resta mostrar que se trata de uma falsa convergência, baseada numa fartura passageira que nada tem a ver com uma ética protestante do capitalismo.
Você está igual samba do crioulo doido quando fala no PT esquece da Dilma né por conveniência você sabia que ela era do PT também foi indicado por Lula deixou mó recessão de todas as épocas e um desemprego de 11 milhões de brasileiros vocês são muito sem vergonha pra me dizer canalhas
ResponderExcluirDuvido muito que haja ganhos significativos com essa inflação. Muito difícil.
ResponderExcluirLá vai o anônimo comparar o governo Dilma ao desgoverno Bolsonaro!
ResponderExcluirQuem dera o Bozo fosse apenas incompetente.