O Globo
Bolsonaro poderia ter começado a colher
algumas boas notícias na economia, mas teve uma semana de exposição negativa
pelo seu ataque às urnas
Quando o presidente Bolsonaro começaria a
colher boas notícias na economia, ele mesmo lembrou a todos que o grande ponto
desta eleição é a democracia e não as oscilações da conjuntura econômica. Foi
uma semana inteira de exposição negativa e de reação de entidades, servidores
públicos e embaixadas provocadas pelo seu mais violento atentado ao sistema
eleitoral feito diante de testemunhas estrangeiras. A classe média está
começando a sentir alívio ao ir ao posto de gasolina, como resultado das muitas
intervenções de Bolsonaro na economia, mas não é sobre isso a eleição de 2022.
No mês de junho, o leite subiu 5,68%, os combustíveis caíram 1,2%, e a energia, 1,07%. Hoje, o litro do leite é mais caro que o litro da gasolina e essa distância vai continuar. No índice de julho, o combustível cairá mais. De janeiro a junho, o preço da energia elétrica caiu 14,25%, mas os alimentos subiram 8,42%. Dentro deles, leite e derivados tiveram alta de 22,38%. Isso porque o governo centrou seu esforço anti-inflacionário na dupla energia e combustíveis. A classe média e os ricos são consumidores intensivos de energia e gasolina. Para os pobres, o que pesa é o alimento.
Bolsonaro planejou atacar em duas frentes
para virar o jogo eleitoral. Melhorar a sensação econômica e levantar suspeitas
sobre as urnas eletrônicas. Mesmo antes da guerra, o plano feito pelo centrão
era aumentar muito o gasto público para ganhar a eleição. A primeira versão da
PEC Kamikaze foi pensada em setembro do ano passado e teria um custo de R$ 130
bilhões. Ela incluía subsídio direto à gasolina e não havia sequer o argumento
da guerra. Isso foi seriamente discutido dentro do governo numa reunião com os
ministros Ciro Nogueira, Onix Lorenzoni, Rogério Marinho, Paulo Guedes, Fábio
Faria, Bento Albuquerque. O então ministro da Energia não apoiou, mas ficou em
silêncio. Guedes foi contra. A ideia, abandonada na época, reapareceu agora ao
custo de R$ 41 bilhões.
Os benefícios aos caminhoneiros, taxistas e
aos que recebem Auxílio Brasil vão começar a chegar na ponta. Mas justamente
neste momento Bolsonaro provocou a tempestade institucional ameaçando até a
realização das eleições. A resposta foi uma forte onda de reações, mas na
sexta-feira estava lá ele de novo mentindo sobre as urnas eletrônicas e
tentando intimidar uma repórter. O roteiro é o mesmo. Ele escolhe uma repórter,
grita, pergunta, não a deixa responder, para dizer, como fez na sexta, “você
não sabe? Mas que vergonha”. Sua obsessão por humilhar as mulheres é um caso
clínico.
A economia mundial teve uma boa notícia. O
acordo entre Rússia e Ucrânia para liberar os estoques de alimentos começou a
chegar aos preços. O trigo teve queda de 6,29% na bolsa americana. Mas o
problema no Brasil é que o dólar voltou a subir. A moeda americana chegou a R$
5,49, patamar mais alto desde janeiro.
Qual é o cenário do segundo semestre no
Brasil? O economista José Roberto Mendonça de Barros conta que, se o primeiro
semestre foi melhor do que o imaginado, ele terminou já desacelerando um pouco:
— Tudo o que depende de crédito está muito
mais difícil. Além disso, o setor de serviços teve preços muito altos e começa
a ter dificuldade. O preço das passagens aéreas explodiu de uma tal maneira que
a pessoa que fez uma viagem, com a retomada do movimento de ir e vir, pode não
fazer a próxima. Isso é verdade para outros serviços. Haverá alguma melhora por
causa do pacote eleitoreiro, mas as condições financeiras vão continuar
difíceis. O grosso desse pacote vai entrar pela economia no consumo de cesta
básica. Agora está na entressafra e o preço do leite deve continuar alto. Em
compensação, a safrinha de milho foi boa, o que pode aliviar os preços do
frango e do ovo.
Se na economia há boas e más notícias, na
área política há apenas essa tensão institucional aumentando. Informações de
dentro do governo dão conta de que houve até um movimento para fazer um
abaixo-assinado de ministros contra o STF. Isso não foi adiante, porque há
reações internas a essa escalada de Bolsonaro, mesmo entre aqueles que acham
que ele também é vítima de “radicalização da mídia e do judiciário”. Uma dessas
fontes do governo me disse uma frase enigmática. “Se o Brasil permanecer
democrático, foi tudo muito bom.”
Nada tem sido bom, na verdade. Na economia,
haverá bombas a desarmar. Mas a grande dúvida é qual o estrago dessa sucessão
de ataques sobre a democracia brasileira.
''Nada tem sido bom'',correto.
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