Valor Econômico
Bolsonaro errou ao não deixar o “fígado” em
Brasília
Em algumas situações, tratados científicos
e ditados populares equiparam-se como fonte de sabedoria. O notório “quem
avisa, amigo é” não precisa partir de um Einstein para atingir o alvo. Se o
destinatário do alerta confia no conselheiro - um amigo, ou um aliado - deveria
ouvi-lo para tomar a melhor decisão no momento.
O mau desempenho do primeiro e do segundo colocados nas pesquisas sobre a sucessão presidencial no debate promovido pela TV Bandeirantes (em “pool” com a TV Cultura, portal UOL e “Folha de S.Paulo”), pode ser atribuído, parcialmente, à resistência do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do presidente Jair Bolsonaro em ouvir os aliados e acatar, ao menos parcialmente, os respectivos conselhos.
Erros e constrangimentos poderiam ser
evitados, na avaliação de integrantes da coordenação das duas campanhas, se
Lula e Bolsonaro fossem menos teimosos. Ou se não tivessem “compromisso com o
erro”, para relembrar a oportuna lição de Juscelino Kubitschek.
Diante do resultado negativo para ambos,
Lula e Bolsonaro avaliam não comparecer mais a debates, ao menos no primeiro
turno. Já está decidido que não irão ao debate programado para 24 de setembro,
promovido pelas emissoras CNN e SBT, em “pool” com a “Veja”, o jornal “O Estado
de S. Paulo”, o portal Terra e a rádio Nova Brasil FM. A presença de ambos no
debate promovido pela TV Globo, no dia 29 de setembro, ainda é incerta nas duas
campanhas.
A história registra, infelizmente, que os
líderes das pesquisas ganham mais faltando aos debates. Com esse comportamento,
perde o eleitor, perde a democracia. Mas na ponta do lápis, o saldo de votos ao
final compensa a pecha de “fujão”. Bolsonaro venceu o pleito em 2018, com
margem folgada, sem discutir propostas com adversários.
Em 2006, no embate pela reeleição, Lula se
manteve na liderança das pesquisas, bombardeado pelas denúncias do Mensalão,
mas ausentou-se do debate da TV Globo na véspera da votação do primeiro turno.
Após manter suspense, ele enviou um comunicado à emissora alegando que faltaria
ao evento para evitar uma "arena de grosserias e agressões, em um jogo de
cartas marcadas".
Naquele ano, Lula amargou o constrangimento da exibição pelas câmeras da Globo de um lugar vazio, ostentando o seu nome, durante as três horas de debate. Mesmo assim, o petista passou ao segundo turno com 48,6% dos votos válidos, contra 41,6% do tucano Geraldo Alckmin - uma margem de sete pontos percentuais de diferença. E venceu o adversário na etapa final. Passados 16 anos, Alckmin é hoje o festejado candidato a vice-presidente na chapa lulista, em uma dessas artimanhas da história que ninguém explica. Nem Freud.
Na linha do “quem avisa, amigo é”,
Bolsonaro foi alertado pelos caciques do Centrão de que deveria vestir o
figurino “moderado” no debate da Band e, para isso, era necessário “deixar o
fígado em Brasília”. Contudo, ao invés de obedecer à recomendação, quem
Bolsonaro deixou para trás na capital federal foi justamente o marqueteiro Duda
Lima, o mais tarimbado para orientá-lo nos bastidores do evento.
Além disso, um estrategista da campanha
bolsonarista ponderou à coluna que Bolsonaro excedeu-se com a jornalista Vera
Magalhães sem necessidade, porque ele tinha resposta para a pergunta sobre a
vacinação pública. A avaliação da ala política é que a presença de Duda Lima no
estúdio teria ajudado a manter Bolsonaro concentrado em não perder a linha.
Num momento em que tem que correr atrás do
votos das mulheres, segmento onde enfrenta altíssima rejeição, Bolsonaro
deveria dar ouvidos a pelo menos uma delas e uma das mais informadas em
política: Dona Ida Maiani de Almeida, ou Dona Mora, personagem do livro “A
história de Mora - A saga de Ulysses Guimarães”, do jornalista Jorge Bastos
Moreno (morto em 2017).
“Aprendi com meu marido a não ter
ressentimento. Na atividade de Ulysses [a política], o ressentimento é mortal.
Tanto que ele costuma dizer que não faz política com o fígado, nem guarda mágoa
na geladeira”, diz Mora, em trecho do livro de Moreno.
Políticos experientes argumentam que os
líderes das pesquisas, ao menos aqueles que despontam no primeiro e no segundo
lugar da corrida eleitoral, não deveriam comparecer aos debates, a despeito do
prejuízo ao eleitor. Isso porque a boa colocação transforma esses candidatos em
alvo preferencial da artilharia dos adversários, como ocorreu com Lula e
Bolsonaro no evento da Band.
Simone Tebet ganhou projeção inédita até
agora e Ciro Gomes (PDT) foi bem - embora Bolsonaro tenha lembrado que o
pedetista também tem flertes com o machismo. Resta saber se esse desempenho se
refletirá nas próximas pesquisas, embora não haja tempo hábil para superarem
Lula ou Bolsonaro - salvo o improvável. “Debate é escada para quem está atrás
subir”, resume um político com muitas horas de voo em eleições, que descarta
qualquer mudança no cenário de polarização.
Retomando o “quem avisa, amigo é”, uma ala
da campanha lulista sustentava que ele não deveria comparecer ao debate da Band
para que o petista surfasse por mais tempo a onda positiva proporcionada pelo
ótimo desempenho na sabatina do “Jornal Nacional” no dia 25 de agosto. Há quem
acredite, por exemplo, que os momentos de aparente “apagão” e nítido
constrangimento a que Lula se submeteu no domingo neutralizaram o ganho obtido
no confronto com William Bonner e Renata Vasconcellos.
Como nenhum outro veículo proporcionaria a
vitrine com a audiência de dezenas de milhões de espectadores do “JN”, a equipe
de Lula defende que ele não participe mais nem mesmo de sabatinas. Mas isso
está sub judice.
Em outra frente, Bolsonaro já decidiu que comparecerá às sabatinas promovidas, preferencialmente, por canais de televisão abertos. Ele irá às entrevistas da Rede TV e SBT e também à TV Jovem Pan. Ele quer intensificar a pauta da corrupção. Bolsonaristas acreditam que o PT ainda não alinhou o discurso de defesa sobre esse tema.
Esses 2 não tem nada que os faça mudar. Defeito de fabricacao, eu digo.
ResponderExcluirBolsonaro deixou seu marqueteiro em Brasília, mas foi assessorado no debate por Ricardo Salles, o canalha ex-ministro do Zero Ambiente, acusado de contrabando de madeira pela polícia federal americana e responsável por passar parte da "boiada" bolsonarista enquanto a imprensa se preocupava com a pandemia! Hoje, o restante da boiada muge aqui e ali tentando levar o capitão das rachadinhas para um improvável segundo turno!
ResponderExcluirQuem dera Bolsonaro fosse apenas corrupto,a corrupção,no seu caso,é o mal menor no meio de tantas monstruosidades.
ResponderExcluirBolsonaro é mesmo um monstro!
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