Correio Braziliense
O debate de domingo serviu para mostrar que há
mais opções além da polarização entre os candidatos que a promovem. O
ex-presidente Lula (PT) e o presidente Bolsonaro (PL) podem não ser “imortais”
As feministas da geração de Simone Tebet
(MDB) e Soraya Thronicke (União Brasil) têm como uma das referências a
escritora francesa Simone de Beauvoir, que foi casada com o filósofo
existencialista francês Jean Paul Sartre. O livro Todos os homens são mortais
(Nova Fronteira), de sua autoria, que empresta o título à coluna, conta a
história de Régine, uma atriz ambiciosa e invejosa, e o Conde Raymond Fosca,
rei de Carmona, personagem nascido no ano de 1279 (séc. XIII), que havia tomado
o remédio da imortalidade.
Régine é uma anti-heroína que reconhece
seus defeitos e se arrepende deles, mesmo sabendo que não conseguirá mudá-los.
Fosca surge no romance pelos olhos da atriz: “Esse homem! — disse ela. — Por
que se levanta tão cedo?”. Dele se aproxima. O antigo rei lhe conta seu
segredo, o de ser imortal, e a partir daí, Régine torna-se obcecada pela ideia.
Para demovê-la, Fosca narra a história de sua vida, desde 1279 até o seu
encontro com Régine, num passeio da Idade Média à Modernidade.
O livro foi lançado em 1946. Fosca apresenta vantagens e desvantagens de ser imortal. Com o passar dos anos — das guerras, das pestes, das mortes de amigos e inimigos e de entes queridos, como esposas e filho —, Fosca desanima da vida e passa a buscar respostas para suas perguntas nos outros, assim como é através deles que tenta viver. Não se percebe mais capaz de ser um ser humano como os demais. Quando termina sua história, Fosca deixa Régine sozinha. Cabe a ele seguir por milênios, amaldiçoado. O livro de Simone de Beauvoir nos revela que cada um tem “a dor e a delícia de ser o que é”.
Fora da dicotomia
O debate presidencial de domingo serviu
para mostrar que há mais opções além da polarização entre os candidatos que a
promovem. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair
Bolsonaro (PL) podem não ser “imortais” como Fosca, que podia fazer qualquer
escolha, mesmo a mais sanguinária e/ou desastrosa, e sobreviveria aos seus
próprios erros e aos prejuízos que causaram.
Segundo o analista de redes sociais Sérgio
Denícoli, da Modalmais/APExata, “há vida política fora da dicotomia
bolsonarismo x lulismo”. Ao processar a análise de 400 mil tuítes, Denícoli
constatou que há um cansaço nas redes sociais com o embate entre as duas
maiores forças políticas do país, explícito não apenas nas falas dos
candidatos, mas nos sentimentos provocados pelo debate: a tristeza foi a emoção
predominante, representando 18,7% dos posts; em seguida, a raiva (14,66%) e o
medo (16,69%). A confiança foi apenas o quarto sentimento mais presente: 13,34%
dos tuítes.
A rejeição a Bolsonaro e a Lula passou ser
o fator determinante da polarização eleitoral, paradoxalmente, mantendo-os na
liderança por serem antagônicos. Quem rejeita um vota no outro, acredita que o
candidato escolhido é o único com chances de derrotar o adversário.
“Entretanto, o debate trouxe uma lufada de ar fresco, mostrando que há outras
equipes no páreo. O desempenho de Simone Tebet e Soraya Thronicke surpreendeu”,
destaca Denícoli.
Os dados da AP Exata mostram que as duas
candidatas mulheres foram as mais aprovadas pelos internautas. Simone teve
41,29% de aprovação entre os que a mencionaram, enquanto Soraya alcançou
41,25%. Ciro ficou em terceiro com 39,96%, Felipe D’Ávila veio na sequência
(37,41%), seguido de Lula (36,16%) e Bolsonaro (36,07%). Simone ainda liderou
nos sentimentos de confiança, surpresa e alegria. Bolsonaro foi o líder em
tristeza, e Lula, em desgosto e medo.
“O debate foi mais negativo para os
protagonistas da disputa, que chafurdaram em suas rejeições e em suas
fraquezas, claramente expostas”, conclui Denícoli. Em termos de menções, Simone
foi a que mais cresceu ao longo do debate. Iniciou com 3,6% e finalizou com
10,5%, um aumento de 191,6%. Ciro cresceu de 14,5% para 15,3%. Soraya ampliou
sua visibilidade de 2,5% para 7,6%, e D’Ávila de 1,7% para 3,4%. Lula e
Bolsonaro encolheram. O petista iniciou abarcando 41,3% das menções e finalizou
com 33,1%. Já o presidente saiu de 36,3% para 30,2%.
Considerando como os termos “voto” e
“votar” se associaram aos candidatos no Twitter, Bolsonaro teve a queda mais
acentuada, passando de 35,7% para 27,04%. Lula também caiu, de 39,12% para
32,9%. Ciro cresceu de 19,46% para 26,59% e Simone passou de 4,3% para 10,27%.
Nos próximos dias, o comportamento das redes mostrará se os efeitos do debate
vão se consolidar como tendência ou foram momentâneos.
O Brasileiro precisa aprender a votar. O dia que isto acontecer o país muda.
ResponderExcluirEstou muito feliz com a possibilidade da polarização entre o sujo e o mal lavado ser rompida. E termos reais possibilidades de mudança no país.
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