Por Marlen Couto / O Globo
Estudioso da ditadura militar, professor da UFRJ avalia que união de empresários, juristas e atenção à diversidade confere caráter inédito e torna ato mais amplo e efetivo que manifesto de 1977
O que diferenciam os atos em
defesa da democracia de manifestações de oposição a Bolsonaro?
A singularidade deste protesto contra o governo Bolsonaro, embora os organizadores não queiram caracterizá-lo dessa maneira, está na presença de empresários e de juristas de uma grande instituição defensora do estado democrático de direito, de um pensamento majoritariamente liberal. Ninguém poderá acusar a maioria dos pensadores da Faculdade de Direito, do pensamento jurídico brasileiro, de revolucionários ou esquerdistas. Ter os empresários e esse tipo de institucionalidade se posicionando em favor da democracia é inédito, importante e até tardio. Demorou um pouco, mas antes tarde do que nunca. É uma fala contra o autoritarismo de setores que não estão na esquerda e que, portanto, têm credibilidade nos setores empresariais e liberais. Teve importância em 1977 e tem agora.
A carta organizada pelos
juristas é uma reedição do documento lido em 1977, na ditadura. Há semelhanças
na forma como as duas cartas mobilizaram a sociedade?
Não acho que há semelhança. Em 1977, houve
uma grande indignação da sociedade com a ditadura. Aquela carta foi a expressão
dessa indignação, uma manifestação de setores mais institucionalizados, como os
advogados e empresários. Foi importante, mas que não apressou o final da
ditadura militar e não teve consequências práticas visíveis. É diferente de
hoje, um episódio que envolve amplos setores da sociedade. Vimos toda uma
preocupação dos organizadores no sentido de que estivessem presentes mulheres,
estudantes, e que temas da diversidade fossem abordados, ao contrário de 1977,
quando a gente tinha apenas juristas brancos e homens. A carta de 2022 gerou
consequências até mesmo antes da divulgação. O presidente da República se
manifestou incomodado com o protesto. Teve consequências mais efetivas, eu
diria, do que apenas significar do ponto de vista do imaginário social um
marco, como foi em 1977.
A mensagem pró-democracia do
ato consegue chegar a uma parcela maior da população?
A carta de 1977 teve o significado
simbólico de agregar setores que não necessariamente eram radicalizados num
protesto contra o autoritarismo, como acontece agora. Esse simbolismo está
presente nos dois momentos. No entanto, hoje em dia, por conta das
circunstâncias que caracterizam a contemporaneidade, seria muito difícil
conseguir uma repercussão ampla do manifesto sem atender essa demanda por
diversidade que existe na sociedade.
Apesar dessa reação contra os
ataques de Bolsonaro ao sistema eleitoral, ele continua a ter apoio
significativo na sociedade. A que se deve essa força?
Os anos Bolsonaro têm sido uma espécie de
choque de realidade para aqueles que consideravam a sociedade brasileira muito
afinada com princípios democráticos. É o que chamamos de autoritarismo
socialmente existente. Há uma parcela expressiva, em torno de 20%, que concorda
com um perfil político autoritário e desvalorizador dos direitos humanos.
Infelizmente, parte da nossa sociedade tem se aproximado desses princípios. Não
diria que todos que apoiam Bolsonaro sejam racistas ou autoritários, mas
certamente há uma parcela da população não vê problema na defesa desses pontos
de vista pelo presidente.
Há chance de se retomar o
apoio desse grupo à democracia?
O princípio básico da democracia é a
prevalência da vontade da maioria. Não se trata nem de otimismo, mas de uma
esperança baseada na crença democrática. Espero que ao longo dos anos, com o
aprendizado contínuo, que a sociedade brasileira faça escolhas mais
democráticas, sobretudo a partir da vivência em momentos de dúvida, de crise,
que nos levam à necessidade de ainda hoje termos de reafirmar algo que deveria
ser óbvio. Temos uma experiência curta com a democracia. Tivemos uma breve
experiência de 1945 a 1964 e estamos vivendo a experiência democrática desde
1985 ou 1989. Não é muito tempo. Isso talvez explique porque a gente ainda tem
que fazer manifestos como o que foi feito hoje.
Os militares são personagens
do atual contexto histórico, assim como em 1977. Eles estão no governo
Bolsonaro e parte de seus representantes apoia ataques às urnas. Como os
militares sairão deste processo?
Os militares têm sido muito prejudicados pelo governo Bolsonaro. Vão sair muito mal em função dessa promiscuidade que se estabeleceu entre o Executivo e as Forças Armadas, o que não deveria existir e desqualifica a democracia. Tudo isso tem se transformado e se expressado na queda de credibilidade das Forças Armadas, que é vista com muita preocupação por militares da ativa.
Geralmente a volta ao passado reaviva situações que nos levam ao raciocínio dos erros constantes da linha do tempo e manobras de dominação combatidas que vêm destruindo à resistência com excecivo nº de mortos principalmente dentro de Brasília desde a Constituinte de 1988 cujo movimento democrático era pela volta de militares aos quartéis mas um dispositivo da constituição autorizou a eleição de militares ao mesmo tempo, Deputados e Senadores passaram a exercer cargos no executivo extinguindo orgãos institucionais que alimentavam os atos da resistência, vários também mortos a administração pública virou uma Parafernalha de incompetência tendo sido aposentados alguns sobreviventes, a fome chegou junto com a pandemia os preços subiram, o poder de compra desceu, as indústrias do passado se tornaram obsoletas, as novidades estão nas mãos dos mas jovens, o movimento democrático ficou cego aguardando a justiça ainda incapaz de se livrar dos penduricalhos salariais de valor superior ao mínimo marginal vigente com 30 milhões de pessoas desempregados e dependentes do "Auxílio Brasil"...
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