Folha de S. Paulo
Apesar da pesquisa
Ipec desta
segunda-feira (15), tudo indica que a corrida deve se acirrar nas próximas
semanas. A
economia trabalha a favor de Bolsonaro, mas não é só isso. Com o início da
campanha, a comunicação ganha ainda mais peso. E a fluência bolsonarista na
linguagem das redes sociais não foi igualada por ninguém, nem mesmo pelo Lula,
que construiu seu vínculo com o eleitorado numa outra era. Esse capital pode
ser o bastante para elegê-lo. Mas quando vai para as redes, fica claro que está
defasado.
Essa defasagem é recente. Dez anos atrás, nos
tempos daquele artefato pré-histórico chamado blog, o petismo reinava na
internet. Blogs a serviço do partido, que se faziam de sites de notícias,
veiculavam narrativas favoráveis ao mesmo tempo em que demonizavam a imprensa
séria, apelidada de PIG (Partido da Imprensa Golpista). O que mudou nesse meio
tempo foram as redes sociais e aplicativos de mensagem, que engatinhavam na
época e hoje dominam o espaço.
Há atores políticos que aprenderam a
navegar essas novas águas: André
Janones, que agora está com Lula, é um deles. O MBL é outro. Mas ainda são
poucos. Cabe elencar alguns pontos dessa nova comunicação.
Primeiro: para chegar a muita gente, precisa fazer barulho. Precisa chocar. Uma fala justa e ponderada terá dificuldade para ir longe. Uma afirmação taxativa e exagerada tem muito mais chance de viralizar. Atacar e ridicularizar o inimigo conta mais, infelizmente, do que um argumento sensato. Bom gosto, elegância; esses estão fora.
Segundo ponto: a comunicação nas redes é,
acima de tudo, horizontal. Você conversa com um igual, e não há carteirada,
credencial, diploma ou jargão técnico que vença um debate por WO. Para a
maioria que assiste, o uso da autoridade (mesmo quando válida) é visto como
arrogante e até suspeito. Não é à toa que "especialista" virou quase
um termo de insulto.
E, em terceiro lugar, a comunicação é
pessoal. Tudo que é frio, institucional, profissional, distanciado não consegue
se conectar com as pessoas. Ninguém conversa com uma instituição, e não ver um
rosto do outro lado apenas alimenta fantasias negativas de quem está ali ou a
quem serve. O autêntico (isto é, aquilo que parece autêntico a quem vê), mesmo
tosco, é preferível à precisão fria.
A conversa de Bolsonaro
no Flow Podcast na semana passada —cinco horas de conversa livre, não
entrevista sob fogo cruzado— foi um acerto para ele. Com seu jeito tosco e
debochado, conseguiu se humanizar. Ser o "tiozão do churrasco" e não
o demônio encarnado, que alguns pintam, basta para conquistar a simpatia de
muita gente. O vídeo já foi visto mais de 10 milhões de vezes.
Nesse sentido, Bolsonaro deixa ao menos um
legado positivo na comunicação política: a sua live de quinta-feira. Sim, ele
a usa
para repetir as mentiras e abobrinhas de sempre, mas criar esse espaço
periódico e pouco estruturado para falar dos assuntos do momento, responder a
críticas comuns, apresentar o que ele considera bom é um jeito bom de
solidificar o vínculo com seus eleitores.
Claro que o meio não é neutro quanto ao
conteúdo da mensagem. Não foi à toa que imprensa tipográfica serviu de veículo
para uma religião que colocava a leitura direta do livro como valor central.
Também não é à toa que a política antissistema, personalista e extremista ganhe
espaço hoje.
Habituar-se a esse novo tempo, mais democrático e também mais instável, é o único caminho para as instituições e para os líderes que busquem algo melhor do que a destruição que é o bolsonarismo. O domínio das redes só vai aumentar.
Bolsonaro: repetidor das mentiras e abobrinhas de sempre! Mas comunicador esperto... Bem interessante o texto do colunista!
ResponderExcluirTem gente que gosta de ouvir ''mentiras e abobrinhas'',infelizmente.
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