O Globo
A corrida presidencial começa com o
favoritismo de Lula, e um ambiente econômico benéfico a Bolsonaro
A diferença a favor de Lula em São Paulo e
em Minas, de 10% e de 13%, reforça a posição do petista no Sudeste e confirma o
favoritismo de Lula nessa entrada oficial da campanha eleitoral, faltando
apenas 47 dias para a eleição no primeiro turno. O
resultado de 44% para Lula e 32% para Bolsonaro, pelo Ipec, marca um ineditismo.
Nunca um presidente disputou a reeleição numa situação tão desfavorável. Há
outros dados contra o presidente. No cenário do segundo turno, ele tem 35%, ou
seja, ganha apenas três pontos mostrando que tem mais teto que Lula. O
ex-presidente agrega sete pontos entre o primeiro e o segundo turnos.
Serão dias intensos. Todos os dias. Hoje, no Tribunal Superior Eleitoral, podem se encontrar Lula e Bolsonaro. Podem se ver também Dilma e Temer. O roteirista do Brasil capricha nas cenas emblemáticas. E eles estarão juntos na posse do ministro Alexandre de Moraes, que tem sido o mais duro com os bolsonaristas e foi indicado pelo ex-presidente Temer, que Dilma, ainda hoje, define como “o traidor”.
Na economia também há pedras se movendo no
tabuleiro. O governo terá agora o momento mais favorável do ano, exatamente
quando ele mais precisa. A economia, como se sabe, é um grande indutor de voto.
Com a deflação de julho, a deflação de agosto, e uma inflação baixa em
setembro, o custo de vida terá tido três meses de refresco quando o eleitor for
às urnas no primeiro turno. O país teve deflação de 0,68% em julho. A previsão
do economista Luis Otavio Leal é de -0,20% em agosto e de 0,40% em setembro. Em
outubro, sobe um pouco para 0,55%.
— O momento para os alimentos fica um pouco melhor pela sazonalidade — diz Leal.
Mesmo melhorando o ritmo dos preços de
alimentos, não será de deflação, como acontece com os preços de combustíveis e
energia. Para os pobres, o que pesa mais é alimentos. Dentro dos combustíveis,
apenas o gás é relevante na cesta de consumo. Mas há outros dados importantes
mostrando um cenário favorável ao governante.
—Na atividade econômica tivemos dados mais
benignos, com ritmo bom no segundo trimestre e, no terceiro, estão entrando R$
41 bilhões de estímulos diretos e mais o corte de impostos. Mesmo com a alta de
juros, o país pode ter um bom terceiro trimestre — disse a economista-chefe de
AC Pastore, Paula Magalhães.
Em resumo: inflação negativa nos três meses
anteriores ao dia do voto, PIB em alta por causa dos estímulos e desemprego em
queda. Em grande parte é um ambiente artificialmente criado. Mas há o efeito do
cenário internacional desinflacionário. O petróleo está abaixo de US$ 100 há
nove dias, pelo temor da recessão global
Ontem também foi o dia final do registro de
programas dos candidatos no TSE. E mesmo que isso seja apenas, no Brasil, uma
formalidade, não deixa de ser desanimador ler o que as duas principais
candidaturas escreveram. No programa de Bolsonaro, anuncia-se que graças ao
governo o Brasil atingiu a marca de 90% da população com uma dose e 84% com
todas as doses contra o Covid. O país sabe o que aconteceu. A luta pela vacina
foi do Instituto Butantan, da Fiocruz, dos infectologistas, do SUS e da
imprensa, contra o presidente e seus ministros incompetentes. Bolsonaro tudo
fez para atrapalhar, divulgando mentiras sobre as vacinas, e continua mentindo
sobre o tema.
No programa do PT, o governo Bolsonaro é
acusado de não ter feito o que de fato fez. Controlar preço de combustível. “O
atual governo renunciou ao uso de instrumentos importantes no combate à
inflação, a começar pela política de preços dos combustíveis.” O preço dos
combustíveis só caiu tanto porque houve eliminação de impostos federais e
imposição de limites no ICMS para gasolina e diesel. Tudo isso para manipular o
preço dos combustíveis, à custa dos cofres públicos. A proposta do PT é
“abrasileirar” o preço dos combustíveis. Como todas as commodities, é
impossível impedir que a cotação internacional, em dólar, impacte o preço
interno. É assim com a soja, com a carne, com o trigo, com os derivados de
petróleo. O PT reconhece que o mundo vive uma “emergência climática” e isso é
importante que o faça, mas defende subsidiar combustíveis fósseis
Nada é pior do que fez Bolsonaro. Abre o programa falando do seu sucesso em evitar o aumento da pobreza, acusa o PT de ter impedido que 30 milhões deixassem a linha de pobreza. E emenda numa defesa da liberdade. Justamente o governo onde a pobreza aumentou e que mais ameaça a liberdade.
Vivemos no império das fake news.
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