terça-feira, 16 de agosto de 2022

Míriam Leitão - No balanço dos números

O Globo

A corrida presidencial começa com o favoritismo de Lula, e um ambiente econômico benéfico a Bolsonaro

A diferença a favor de Lula em São Paulo e em Minas, de 10% e de 13%, reforça a posição do petista no Sudeste e confirma o favoritismo de Lula nessa entrada oficial da campanha eleitoral, faltando apenas 47 dias para a eleição no primeiro turno. O resultado de 44% para Lula e 32% para Bolsonaro, pelo Ipec, marca um ineditismo. Nunca um presidente disputou a reeleição numa situação tão desfavorável. Há outros dados contra o presidente. No cenário do segundo turno, ele tem 35%, ou seja, ganha apenas três pontos mostrando que tem mais teto que Lula. O ex-presidente agrega sete pontos entre o primeiro e o segundo turnos.

Serão dias intensos. Todos os dias. Hoje, no Tribunal Superior Eleitoral, podem se encontrar Lula e Bolsonaro. Podem se ver também Dilma e Temer. O roteirista do Brasil capricha nas cenas emblemáticas. E eles estarão juntos na posse do ministro Alexandre de Moraes, que tem sido o mais duro com os bolsonaristas e foi indicado pelo ex-presidente Temer, que Dilma, ainda hoje, define como “o traidor”.

Na economia também há pedras se movendo no tabuleiro. O governo terá agora o momento mais favorável do ano, exatamente quando ele mais precisa. A economia, como se sabe, é um grande indutor de voto. Com a deflação de julho, a deflação de agosto, e uma inflação baixa em setembro, o custo de vida terá tido três meses de refresco quando o eleitor for às urnas no primeiro turno. O país teve deflação de 0,68% em julho. A previsão do economista Luis Otavio Leal é de -0,20% em agosto e de 0,40% em setembro. Em outubro, sobe um pouco para 0,55%.

— O momento para os alimentos fica um pouco melhor pela sazonalidade — diz Leal.

Mesmo melhorando o ritmo dos preços de alimentos, não será de deflação, como acontece com os preços de combustíveis e energia. Para os pobres, o que pesa mais é alimentos. Dentro dos combustíveis, apenas o gás é relevante na cesta de consumo. Mas há outros dados importantes mostrando um cenário favorável ao governante.

—Na atividade econômica tivemos dados mais benignos, com ritmo bom no segundo trimestre e, no terceiro, estão entrando R$ 41 bilhões de estímulos diretos e mais o corte de impostos. Mesmo com a alta de juros, o país pode ter um bom terceiro trimestre — disse a economista-chefe de AC Pastore, Paula Magalhães.

Em resumo: inflação negativa nos três meses anteriores ao dia do voto, PIB em alta por causa dos estímulos e desemprego em queda. Em grande parte é um ambiente artificialmente criado. Mas há o efeito do cenário internacional desinflacionário. O petróleo está abaixo de US$ 100 há nove dias, pelo temor da recessão global

Ontem também foi o dia final do registro de programas dos candidatos no TSE. E mesmo que isso seja apenas, no Brasil, uma formalidade, não deixa de ser desanimador ler o que as duas principais candidaturas escreveram. No programa de Bolsonaro, anuncia-se que graças ao governo o Brasil atingiu a marca de 90% da população com uma dose e 84% com todas as doses contra o Covid. O país sabe o que aconteceu. A luta pela vacina foi do Instituto Butantan, da Fiocruz, dos infectologistas, do SUS e da imprensa, contra o presidente e seus ministros incompetentes. Bolsonaro tudo fez para atrapalhar, divulgando mentiras sobre as vacinas, e continua mentindo sobre o tema.

No programa do PT, o governo Bolsonaro é acusado de não ter feito o que de fato fez. Controlar preço de combustível. “O atual governo renunciou ao uso de instrumentos importantes no combate à inflação, a começar pela política de preços dos combustíveis.” O preço dos combustíveis só caiu tanto porque houve eliminação de impostos federais e imposição de limites no ICMS para gasolina e diesel. Tudo isso para manipular o preço dos combustíveis, à custa dos cofres públicos. A proposta do PT é “abrasileirar” o preço dos combustíveis. Como todas as commodities, é impossível impedir que a cotação internacional, em dólar, impacte o preço interno. É assim com a soja, com a carne, com o trigo, com os derivados de petróleo. O PT reconhece que o mundo vive uma “emergência climática” e isso é importante que o faça, mas defende subsidiar combustíveis fósseis

Nada é pior do que fez Bolsonaro. Abre o programa falando do seu sucesso em evitar o aumento da pobreza, acusa o PT de ter impedido que 30 milhões deixassem a linha de pobreza. E emenda numa defesa da liberdade. Justamente o governo onde a pobreza aumentou e que mais ameaça a liberdade.

Um comentário:

ADEMAR AMANCIO disse...

Vivemos no império das fake news.