Folha de S. Paulo
Lula forma base sólida para resistir a
investidas de Bolsonaro por eleitor que pode mudar de voto
Em duas semanas de campanha no segundo
turno, Lula (PT)
e Jair
Bolsonaro (PL) tentaram apresentar ao eleitor sua melhor imagem
e o que há de
pior no lado oposto. Os dois podem ter fortalecido conexões com
apoiadores, mas nenhum deles arrastou os votos que faltam para definir a
disputa.
A estabilidade
da nova pesquisa do Datafolha indica que uma faixa do
eleitorado ainda não foi impactada de maneira decisiva pelas mensagens dos dois
candidatos e prefere esperar antes de fazer uma escolha.
O quadro mantém Lula em posição mais
confortável, uma vez que o petista carregou do primeiro para o segundo turno
uma vantagem de 6 milhões de votos e mantém um bloco sólido na etapa atual.
Lula parte de uma base de 48% das intenções de voto, considerando os eleitores que dizem votar "com certeza" no petista. Outros 6% dizem que podem votar no ex-presidente no segundo turno.
Bolsonaro tem um piso mais baixo, o que faz
com que cada semana sem variação nos números torne mais difícil seu esforço
para virar o jogo. De acordo com o Datafolha, 42% dos entrevistados afirmam
votar no presidente, e mais 6% dizem que talvez façam o mesmo.
Os números desenham uma margem estreita
para os movimentos das próximas semanas –o que amplia o foco das campanhas
nesses poucos eleitores com voto aberto. Considerando os eleitores que admitem
mudar de voto, é possível traçar um perfil que deve ser alvo de Lula e
Bolsonaro. Há mais gente disposta a trocar de lado entre os mais jovens (11%),
os mais pobres (8%) e aqueles que se declaram pretos (10%).
Estão na mesma situação os eleitores que
votaram em Simone Tebet (MDB) no primeiro turno (24% podem mudar) e no
pedetista Ciro Gomes (28%). Uma parcela considerável dos apoiadores de Simone e
de Ciro, aliás, parece ter estacionado na opção de voto em branco ou nulo entre
o primeiro e o segundo turno. É o caso de 22% dos eleitores da senadora e de
24% dos eleitores do ex-governador.
Os números sugerem que esses grupos não
estão dispostos a escolher entre Lula e Bolsonaro, mas podem indicar que eles
preparam uma decisão de última hora –ou até mesmo que não se sentem
confortáveis para declarar voto em um dos dois.
Uma boa oportunidade para Bolsonaro
expandir sua base neste segundo turno está no grupo que
classifica o governo como regular (22% do eleitorado). Apostando
na rejeição a
Lula, ele tem a chance de converter votos de um segmento que não
aprova sua gestão, mas também não a considera desastrosa.
Essa faixa dá vantagem a Lula (50% a 38%),
mas 14% dos entrevistados dizem que ainda podem mudar de voto. Os eleitores que
classificam o governo Bolsonaro como regular também são aqueles que mais
declaram voto em branco ou nulo: 8%.
O quadro geral de eleitores
indecisos e que podem mudar de voto ficou praticamente estável desde
a última pesquisa, o que mostra que os eleitores não receberam nenhum estímulo
forte o suficiente para fazer uma escolha definitiva. O congelamento dos
números de rejeição reforça essa hipótese.
Após uma semana em que cada candidato
trabalhou para vincular o adversário a criminosos, não variou
significativamente o percentual de eleitores que
dizem não votar em Lula ou Bolsonaro de jeito nenhum.
Com o clima acirrado, pouca coisa indica
que terão sucesso em reduzir suas rejeições. Se a situação se mantiver assim,
as taxas de intenção de voto tendem a se aproximar das cifras de rejeição do
lado oposto.
Essa característica estimula o que seria um
voto pragmático por oposição. O Datafolha perguntou aos eleitores se eles
pretendem votar em um candidato porque ele é o melhor nome ou se a escolha tem
o objetivo de derrotar o rival. Lula consegue agrupar uma fatia maior de
eleitores que votam por oposição: 20% dos entrevistados que declaram voto no
petista dizem fazê-lo para derrotar Bolsonaro, enquanto 13% dos eleitores do
atual presidente afirmam que vão às urnas para evitar Lula.
Eleição em alta tensão.
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