Folha de S. Paulo
Boa parte do eleitorado releva as atitudes
mais inflamadas do presidente
Um vulcano que chegasse à Terra
desconfiaria das capacidades lógicas da espécie humana. Pelas pesquisas, 75%
dos eleitores brasileiros consideram a democracia a melhor forma de governo e
25% são contrários ou indiferentes a ela ou não opinaram. Entretanto, 41% dos
nossos conterrâneos sufragaram o nome de Jair
Bolsonaro nas urnas (votos totais, incluindo brancos e nulos).
Uma conclusão possível é que 16% ignorem o princípio da não contradição (se
você é pró-democracia, não deve votar em quem a ameace), outra é que as pessoas
são mais complicadas.
Confesso que tenho dificuldades para compreender como alguém pode votar em Bolsonaro após ter vivido quase quatro anos e uma pandemia sob sua gestão. Mas são justamente os fenômenos mais intrigantes que mais demandam explicação. Ela vem em duas etapas.
Em primeiro lugar, boa parte do eleitorado
bolsonarista releva as atitudes mais inflamadas do presidente.
Elas não passariam de arroubos retóricos, que não devem ser interpretadas
literalmente. Ele pede paredão para 30 mil, mas não daria a ordem de
fuzilamento; ameaça descumprir decisões da Justiça, mas não o fez. Não haveria,
pois, razão para vetar Bolsonaro por fustigar as instituições. O risco não
seria real.
Em segundo lugar, as pessoas votam em
várias dimensões. Para alguns eleitores religiosos, defender os valores
tradicionais da família é o que há de mais importante; para espíritos mais
pragmáticos, o fundamental é a economia; há ainda setores da esquerda para os
quais a prioridade deve ser o combate ao racismo. Cada eleitor tem sua
hierarquia própria de dimensões, e, se você quer provocar uma briga, diga a seu
interlocutor que aquilo que ele mais preza é insignificante.
Eu até vislumbro raciocínios que expliquem
por que uma pessoa vota em Bolsonaro sem vê-la num monstro, mas acho que os
vulcanos têm razão. Quem preza a democracia deveria rechaçar o atual
presidente.
"Quem preza a democracia deveria rechaçar o atual presidente"
ResponderExcluirÓbvio.
Há q repelir o genocida.
Mas...
Todo mundo se considera dotado de bom senso mas é a burrice q sobressai em boa parte das pessoas.
Para muitos eleitores religiosos, é normal os pastores propineiros indicados por Bolsonaro pedirem as doações em barras de ouro... Pra eles, também é normal o candidato mentiroso compulsivo exaltar a Verdade como máxima de sua campanha mentirosa!
ResponderExcluirBolsonaro não fez o que fala porque as instituições barraram e barrarão,mas se der mais um mandato a ele...
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