O Estado de S. Paulo
Comparecer às urnas não significa aprovar
os candidatos em disputa, mas legitimar a instituição do voto popular
Faltam três dias para a eleição, uma data
sagrada para nossa democracia. É o momento decisivo para o exercício da
soberania popular, pois o poder democrático está em jogo nas mãos dos cidadãos.
A gravidade do ato de confirmar seu voto na urna eletrônica significa que o
eleitor confere ao seu representante, e especialmente ao chefe do Executivo
federal, o arbítrio para tomar decisões que afetam não somente a vida de cada
um, mas, sobretudo, a sobrevivência do País enquanto nação livre e soberana.
A crise da democracia representativa, que
se manifesta na perda da confiança dos cidadãos em seus representantes,
provocou um profundo ressentimento em várias partes do mundo. O sentimento de
desamparo, diante de uma representação política vista como cega e surda a suas
demandas mais urgentes, propicia comportamentos incompatíveis com a expressão
de um voto livre e consciente.
Um deles é o voto de protesto, deliberadamente conferindo algum símbolo de menosprezo pelas instituições democráticas, como animais e palhaços que infestaram eleições no Brasil e em países europeus de democracia consolidada. Esse gesto manifesta a ideia de que “este homem é louco, e só um louco é capaz de resolver todos os problemas do país”, e grassou em grande número de votantes nas eleições de 2018.
Todos têm direito a protestar e existem
várias formas mais eficazes de fazê-lo, desde abaixo-assinados até
manifestações de rua, portanto não é razoável jogar seu voto fora em quem não o
merece. Conquistar o exercício do voto demandou uma luta mais do que
centenária, que nos permitiu votar protegidos pelo segredo da cabine e
garantidos pela segurança da urna eletrônica. Os meios para fraudar o voto
secreto foram muitos no passado, desde o envelope fechado entregue pelo cabo
eleitoral ao eleitor até a adulteração das cédulas únicas de papel, facilmente
anuladas ou alteradas durante a apuração.
A suspeição lançada contra a urna
eletrônica, tentativa de eliminá-la, reintroduzindo o voto em papel, é o mais
recente ataque ao voto secreto e à transparência do processo eleitoral. Os
inimigos do voto popular têm empregado, ao longo do tempo, inúmeras medidas que
dificultam o acesso dos eleitores às urnas e às informações a que cada um tem
direito para decidir livremente.
A redução do período de campanha legal, a
verdadeira criminalização do ato de pedir votos, bem como algumas regras
burocráticas regendo debates e entrevistas são artimanhas que permitem a
algumas candidaturas esconderem suas propostas, suas verdadeiras convicções e
seu legado público, e fazem parte desta guerra de desorientação do eleitor. As
propostas de coibir a divulgação de pesquisas no período próximo ao pleito,
independentemente de sua confiabilidade, deram lugar a outras, de simplesmente
eliminar essa forma de informação do público e, mesmo, de criminalizá-las pura
e simplesmente.
O voto secreto é uma grande conquista de
todos nós e devemos defendê-lo de todos os assédios às nossas liberdades.
Infelizmente, uma polarização artificial tem sido imposta por uma campanha que
incute o medo e o ódio como tática para anular nossas liberdades de escolha.
Minha posição neste pleito já se tornou pública. Contudo, oponho-me à nefasta
pressão pública e privada para que personalidades não comprometidas com nenhuma
das candidaturas declarem seu voto, constrangidas para não passar por traidoras
e pelo medo da derrocada da liberdade supostamente provocada pelo resultado das
urnas.
Reitero, o voto é secreto, e o voto secreto
é a mais pura expressão da liberdade política. Protegido por esse caráter
secreto, o voto não é certo nem errado, não expressa uma verdade, mas sim a
liberdade de opinião e o cumprimento de um dever sobre o qual se sustenta a
democracia que queremos.
Não há por que você se envergonhar de sua
escolha, não há por que se curvar às pressões dos que, não sendo capazes de
convencê-lo, lançam mão de ameaças e ofensas. Votar por rejeição em quem não se
confia, para evitar mal maior, não é uma escolha livre, mas é inteiramente
legítimo, como é legítimo votar em branco ou nulo.
Entretanto, devemos levar em consideração
que nossa legislação elimina da contagem os votos brancos e nulos e a
abstenção. Assim sendo, nas eleições majoritárias, como no caso da do
presidente da República, o candidato eleito não precisa alcançar a maioria dos
cidadãos, mas apenas a maioria dos que votam em um candidato.
Uma abstenção em massa teoricamente diminui
a legitimidade do eleito, mas, por outro lado, legitima a eleição de quem não
obteve a confiança da maioria do eleitorado. Desconfie da campanha
aparentemente em curso em prefeituras que se recusam a dar passe livre no dia
da eleição, para provocar a abstenção em massa, dificultando o comparecimento
dos eleitores do adversário.
Comparecer não significa aprovar os
candidatos em disputa, mas legitimar a instituição do voto popular. Compareça,
vote com liberdade, vote consciente. Esse é o modo mais efetivo de defender a
democracia.
*Senador (PSDB-SP)
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