sábado, 12 de novembro de 2022

Ascânio Seleme - Lula não terá lua de mel

O Globo

O presidente eleito não terá vida mansa nem nos primeiros meses de sua gestão. Apesar do alívio nacional que causou com sua eleição, Lula não deve esperar aquela tradicional lua de mel de três meses, cem dias, concedida a todo novo governante. Como será obrigado a dar provas das suas boas intenções, as cobranças começarão ainda muito cedo, virão antes mesmo da posse, com o anúncio dos ministros. Aliás, a primeira já se viu esta semana, com a subida do dólar e a queda da bolsa em razão de fala muito rápida do presidente eleito sobre equilíbrio fiscal, repetindo o que já havia dito antes como candidato. Mas agora, eleito, suas considerações mexeram com o mercado.

DOIS ANOS

Lula não terá o direito de errar. Desde o primeiro dia de governo sua obrigação será acertar, acertar e seguir acertando. Seja na administração pública, tentando satisfazer as principais necessidades do Brasil e dos brasileiros, seja na política, porque sem ela não se alcança qualquer objetivo. Sobretudo nos dois primeiros anos será vital apresentar resultados, mostrar inteiramente as diferenças que separam este do futuro governo, para que os protagonistas dos últimos quatro anos não ganhem força nas eleições municipais.

LIRA FRACO

Lula já avisou a Arthur Lira que não vai se opor à sua candidatura para um segundo mandato na presidência da Câmara. Faz bem, das seis vezes anteriores em que o PT se meteu na disputa, duas acabaram gerando problemas graves. Na primeira, ganhou o Severino Cavalcanti, aquele que queria a “diretoria que fura poço” da Petrobras. A outra resultou em Eduardo Cunha e no consequente impeachment de Dilma Rousseff. Lira deve ficar, mas terá que abrir mão dos poderes imperiais que deteve nos dois últimos anos.

ALCKMISTAS X PETISTAS

Pronto, mal começou e já pipocam aqui e ali queixas de parte a parte entre os aliados que venceram a eleição como Lula. Petistas reclamam do protagonismo de Geraldo Alckmin. Do outro lado ouve-se lamentos pelo exagerado número de petistas na equipe de transição. Assim não dá, assim não pode.

VINGANÇA OU JUSTIÇA?

Na entrevista de quarta-feira, Lula pronunciou uma frase que soou como música nos ouvidos de muita gente no Palácio do Planalto: “Não há tempo para vingança”. Um destacado membro da assessoria de Lula me disse no início da semana “revanchismo, não”, referindo-se ao meu artigo da semana passada: “Anistia, não”. Sinal de que o novo Executivo não vai, ou pelo menos não quer, escarafunchar os últimos quatro anos tenebrosos. Mas a Justiça não pode se dar este luxo. Ela terá obrigatoriamente de investigar golpistas que atentaram e ainda atentam contra as instituições e a integridade dos Poderes, além dos malfeitos administrativos e outros crimes eventualmente cometidos. E se solicitar informações e dados, o Executivo terá de fornecê-los. Melhor, portanto, começar a recolher provas e evidências desde o primeiro dia de governo. Cumprir a promessa de levantar os sigilos de cem anos já é um bom início.

MINISTRO CIVIL

Não é só o mercado que quer logo a indicação de um ministro. Constrangidos com o fiasco protagonizado pelo ministro Paulo Sérgio na questão das urnas eletrônicas, generais do Alto Comando do Exército torcem para que Lula indique o mais cedo possível o civil que vai comandar a Defesa.

EXÉRCITO PEDE SOCORRO

Ao invés de “socorrer” os golpistas amontoados em frente ao QG de Brasília, o Exército pediu socorro à Polícia Militar do DF para limpar a área das porcarias ali produzidas e quem sabe se livrar da turba toda. Fez bem. Não cabia resolver o problema com as próprias forças.

ZERINHOS ITALIANOS

Dois zerinhos, filhos do falecido governo, querem agilizar a nacionalidade italiana que haviam solicitado há algum tempo. Devem imaginar que com a extrema-direita no poder em Roma poderiam cometer lá as barbaridades que cometeram aqui. Não, não poderão. Embora o governo italiano seja de direita, o país é democrático. Se errar, o governo cai. Se atentar contra as instituições, o governo cai e seus responsáveis são presos.

ADEUS

Mas, Ascânio, você vai terminar a coluna sem nenhuma linha sobre Bolsonaro? Não, nenhuma, ele já não tem mais qualquer importância. Bolsonaro nunca mais.

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