O Globo
No Brasil, os desafios estruturais que as
mudanças climáticas e a educação enfrentam são da mesma natureza
‘A
eleição presidencial brasileira determinará o futuro do planeta”. Este foi,
traduzido, o título de um editorial do New York Times publicado três dias antes
do pleito que deu a Luiz Inácio Lula da Silva seu terceiro mandato. É
sintomático do tamanho da expectativa que a comunidade internacional deposita
no novo governo.
Esta situação dá ao país uma oportunidade
de reconquistar seu protagonismo internacional, conforme estamos vendo na
conferência do clima da ONU, a COP 27, e em sinalizações como a da Noruega em
relação ao Fundo Amazônia. É fundamental, portanto, que nos posicionemos como
liderança global que concilie a agenda ambiental e climática com o
desenvolvimento econômico e social.
Para isso, precisaremos de ações ambiciosas, transversais e aceleradas em duas frentes: mitigação e adaptação. Em ambas será fundamental investir na educação e nos sistemas de formação profissional de forma a construir uma ponte que viabilize a instalação de uma economia de baixo carbono e que transforme nossas vantagens comparativas em competitivas.
De acordo com relatório do Observatório do Clima em 2022, na frente de
mitigação, os esforços de transição para uma economia verde permitem projetar o
Brasil como a primeira grande economia a atingir a neutralidade de carbono em
2045. Só que estratégias de compensação são insuficientes no longo prazo se
almejamos compor a primeira liga das nações.
A agenda do clima permite inovações e
competitividade muito além da preservação. Para isso, serão fundamentais mudanças
de adaptação na transição para a economia de baixo carbono.
Nesta direção, destaca-se, entre outras, a
necessidade de garantir infraestrutura de qualidade para reduzir custos e
impactos da degradação ambiental, permitindo maior adaptação a eventos extremos.
Também promover a transição para a agricultura sustentável e resiliente, com
segurança hídrica para o setor e para o país.
E, ainda, acelerar a digitalização e o
desenvolvimento tecnológico em direção a uma matriz energética e produtiva
descarbonizada e segura, além de fomentar a inovação industrial, inclusive
estimulando o desenvolvimento local em regiões desfavorecidas.
Para além da solidariedade climática e da
preservação da vida, abrem-se caminhos para o reposicionamento estratégico do
país na economia e na geopolítica global. A educação e qualificação do nosso
capital humano se apresentam aqui como estratégicos.
Segundo relatório deste ano do Programa da ONU para o Meio Ambiente (Unep), essas serão
variáveis-chave para trazer uma perspectiva verde para todas as profissões,
aumentar a recolocação profissional dos que já estão no mercado, melhorar a
qualidade dos currículos para atender ao percurso da carreira e às necessidades
do professor e do empregador, além de conectar estudantes a profissionais para
realizar projetos aplicados, entre outros.
Sem educação de qualidade para todos e
sintonizada com os novos desafios do mundo, não exploraremos nossa biossocioeconomia
de forma sustentável.
Há, no entanto, diversas implicações que
requerem atenção. Davide Consoli e coautores da Universidade de Sussex
constatam, em artigo de 2016, que novos empregos verdes são
caracterizados por níveis mais altos de habilidades cognitivas e maior
dependência de educação formal e de mais experiência no mercado de trabalho.
Isso pode ser explicado pelo fato de
estarem fortemente ligados à expertise em novas tecnologias, caso de
engenheiros de biocombustíveis ou nanotecnologistas, por exemplo.
Já mudanças em ocupações verdes existentes
tendem a se concentrar em vagas de baixa e média qualificação, em que
habilidades tradicionais precisarão ser complementadas por novas, por meio de
treinamento contínuo ou requalificação, como soldadores na fabricação de
turbinas eólicas ou técnicos na montagem de carros movidos a hidrogênio.
O corolário deste movimento deverá ser a
transição justa, sem erosão de empregos e amplificação das desigualdades.
Os caminhos indicados têm o potencial de
gerar milhões de empregos, alavancar o crescimento, reduzir a pobreza e,
segundo relatório deste ano da Unicef, proteger as mais
de 40 milhões de crianças e adolescentes brasileiros expostos a riscos
climáticos. No Brasil, os desafios estruturais que as mudanças climáticas e a
educação enfrentam são da mesma natureza.
Como tenho argumentado, ambas solicitam
novos trilhos — tanto para o desenvolvimento econômico e socioambiental, como
para a educação de qualidade para todos. E ambas precisam acelerar em muito a
velocidade dos seus percursos. Nesse sentido, emergência climática é também emergência
educacional.
Belíssimo artigo. Realmente economia e educação devem andar juntas para transformarmos o nosso desenvolvimento em realidade sustentável.
ResponderExcluirTemos aí o desafio de transformar palavras em ações!
ResponderExcluirAgora eu sinto que vai.
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