O Globo
Perfil conciliador, negociador e
trabalhador que foi útil na campanha, está sendo muito bem-vindo na transição,
e poderá ser ainda mais importante no governo
Enquanto Luiz Inácio brilhava no Egito, com
todos os méritos, nos braços dos ambientalistas globais, no Brasil quem operava
a máquina da transição com eficiência e diligência era Geraldo Alckmin. Lula escolheu
um candidato a vice para ganhar a eleição e encontrou um aliado para governar
efetivamente a nação. Alckmin é um homem honesto, de hábitos simples e gestos
limitados. Não é exuberante e muito menos extravagante. Seu perfil conciliador,
negociador e trabalhador que foi útil na campanha, está sendo muito bem-vindo
na transição, e poderá ser ainda mais importante no governo.
Alckmin passou por todos os testes dentro do PT. Foi visto com muita má vontade quando Lula começou a falar internamente em seu nome como candidato a vice. Num dado momento, líderes do PT tentaram barrar o ex-tucano, mas Lula o bancou. Depois de sacramentada a chapa, foi sendo digerido com paciência. Muitos acharam que ele seria apenas mais uma das sacadas políticas do líder, que serviria para ganhar a eleição e nada mais. Os diversos gestos de deferência feitos por Lula em direção a Alckmin mostraram o contrário, e os reticentes começaram a entender que o papel do vice seria importante. Sua nomeação para coordenar a transição não deixou mais dúvidas, o presidente eleito apostava em seu vice.
O primeiro grande serviço de Alckmin em
benefício de Lula se deu algumas horas depois de o presidente eleito responder
questão sobre furo do teto de gastos para contemplar programas sociais: “Se eu
falar isso, vai cair a Bolsa, vai aumentar o dólar? Paciência”. A frase infeliz
naturalmente causou imediata turbulência no mercado. Numa entrevista a Míriam
Leitão na GNews, pouco mais tarde, Alckmin disse a mesma coisa que Lula, só que
com outras palavras e acrescentando o óbvio. “Estamos frente a um problema
emergencial, que está sendo corrigido no Orçamento. Se não votar agora a PEC
que tira o Bolsa Família do teto, vamos ter milhões de famílias sem os R$ 200
(...) me parece lógico desconstitucionalizar e depois discutir por lei uma
(nova) regra com o mercado, com a sociedade, com os partidos (...) não há
hipótese de haver irresponsabilidade fiscal”.
O vice-presidente eleito disse ainda que
todos os gastos do governo serão revistos pela nova gestão, que dezenas de
milhares de contratos serão revisados. Avisou que os subsídios também serão
revisitados. Alckmin lembrou ainda que o teto de gastos não foi cumprido em
nenhum ano desde a sua aprovação pelo Congresso. E por isso, reiterou o que já
havia dito antes, será necessário se criar uma nova âncora fiscal através de um
amplo entendimento político.
O ex-governador de São Paulo sabe escolher
as palavras certas. Sua ponderação e habilidade para ouvir os interlocutores,
com paciência de maneira entender bem o argumento e então responder
corretamente, ajudam muito nesse mar agitado em que foi incluído. Não que ao PT
faltem quadros ponderados e habilitados para qualquer tipo de negociação
política. Muito pelo contrário. Mas um bom picolé de chuchu pode fazer a
diferença em meio ao cardápio de sabores da sorveteria petista. Tanto que no
dia seguinte ao desarranjo causado no mercado pelas palavras de Lula, a Bolsa
voltou a subir e o dólar retornou ao patamar da véspera. A reversão do quadro
não pode ser atribuída à fala de Alckmin, mas não dá para negar que equilíbrio
sempre ajuda.
No comando do gabinete de transição, o
vice-presidente eleito foi conquistando apoios e simpatias mesmo de certos
petistas que antes o julgavam um provável estorvo. Por ser discreto, amigável,
por saber ouvir, por falar baixo e pausadamente, por não dar ordens, mas
orientações, por saber jogar o jogo político, Alckmin só não é unanimidade
porque alguns ainda temem que ele se agigante demais politicamente, jogando
sombra sobre lideranças do partido de Lula. Claro que Alckmin tem suas próprias
ambições, mas da mesma forma sua lealdade é bem conhecida desde os tempos de
Mario Covas.
O governo Lula e o Brasil só têm a ganhar
com o protagonismo de Geraldo Alckmin.
Pobreza e desmatamento
Lula disse no plenário da COP 27 que não se
pode dissociar o aquecimento global da pobreza. Poderia ter se aprofundado na
questão brasileira com mais dez linhas de discurso. No Brasil, em razão da
falta de oportunidades, populações rurais pobres são polos importantes na
devastação de florestas e poluição de rios. Não porque querem, mas porque não
têm outra alternativa para sobreviver. Sabe-se que historicamente o arco do
desflorestamento ocorre com mais intensidade em torno de novos assentamentos.
Os grileiros desmatam para criar áreas e vender para pobres que vão morar e
trabalhar na terra. Fora os donos das balsas, os garimpeiros que poluem os rios
são pobres sem perspectivas. Ou alguém acha bacana trabalhar nas condições
insalubres dos garimpeiros? Dar trabalho e condições dignas de vida, trabalho e
educação a esta gente e a seus filhos, longe das florestas e das reservas
indígenas, é também combater o aquecimento global.
Caco perigoso
Lula fez um discurso firme, inteligente e
comprometido no Egito. Entusiasmou a plateia. Quase toda a fala foi escrita por
técnicos e lida pelo presidente eleito. Num dos dois ou três cacos que
introduziu, Lula produziu uma certa agonia nos seus assessores. O caco que
preocupou foi o seguinte: “O mundo está precisando de uma governança global,
sobretudo nas questões climáticas, porque quando nós tomamos uma decisão e ela
é levada ao Estado nacional, os empresários não aceitam, deputados e senadores
votam contra e vai se criando um amontoado de papel sem funcionamento na
gaveta. Precisamos criar um fórum multilateral com poder de decisão definitivo
para ser aplicado”. Em que pese ele ter reiterado a soberania nacional no mesmo
discurso, a fala fora do script poderia ter causado impacto negativo.
Jatinho
Lula errou, e errou feio, ao aceitar carona
no avião de um empresário do setor de saúde para ir ao Egito. O agravante é
que, ao que parece, Lula não vê nada de errado nisso. Da mesma forma que jamais
se incomodou em usar de maneira exclusiva o sítio de um amigo por anos em
Atibaia. É verdade que nem todos os seus assessores têm coragem de apontar
erros que ele cometa ou possa cometer. Mas alguns poucos falam. O problema é
que Lula não ouve.
Lira na base
O mundo político é mesmo muito dinâmico.
Todos sabiam que o Centrão iria migrar para Lula assim que ele fosse eleito. O
grupo que já havia participado dos governos petistas antes não se envergonharia
ao dar mais um cavalo de pau. Sabia-se também que Arthur Lira, o mais poderoso
presidente da Câmara desde Ulysses Guimarães, negociaria com o presidente
eleito para permanecer mais dois anos no cargo. O que se vê agora não
surpreende. Mas o que resta saber é como Lira vai trabalhar com a ideia de se
acabar com o orçamento secreto.
Ministério amplo
Nenhuma dúvida que Lula vai dividir um
pouco mais o Ministério entre outras forças políticas do que no seu primeiro
mandato. Mas nada tanto assim, que ninguém se engane. Quem espera um Ministério
Frente Ampla pode acabar encontrando apenas um Ministério Amplo.
Calma, gente
Numa entrevista à GloboNews, ontem, Armínio
Fraga disse que teme que um fracasso do governo Lula abra espaço para a volta
da extrema-direita que ameace outra vez a democracia. Claro, com certeza. Mas,
calma, o novo governo ainda nem começou.
Auxílio militar
Não é de hoje que gente fora da faixa de
pobreza extrema se apropria ilegalmente de recursos como os do Auxílio Brasil.
Já na época do Bolsa Família houve muitos desvios denunciados pelos jornais.
Mas o de agora, dos 79 mil militares que receberam a ajuda do governo
Bolsonaro, foi extremado e quem identificou não foram jornalistas. Foi tão
escancarado, que rapidamente o TCU detectou a fraude e a denunciou.
8O horas
O bilionário Elon Musk, novo dono do
Twitter, anunciou que os empregados da companhia terão de trabalhar até 80
horas por semana para readequar a empresa ao seu perfil. Mais, disse que não
haverá mais almoço grátis nem outros benefícios para os funcionários. Quem não
aceitar, será demitido. Oitenta horas por semana significam 12 horas por dia
nos sete dias da semana. No Brasil, mesmo depois da reforma trabalhista de
Temer que Lula quer rever, Musk se daria mal.
Nome elaborado
O melhor da operação que desbaratou esquema
de corrupção na Fundação Getulio Vargas é o seu nome. Batizada de Sofisma, que
significa inventar argumentos verossímeis para tornar crível uma história
falsa, tem a cara do governo que vai chegando ao fim. Se fosse Operação Fake
News também caberia, mas Sofisma é bem mais elaborado.
Erro meu
Na semana passada, por erro na transmissão
da coluna, ficou ausente do papel o abre da coluna, que se publicou apenas no
site. Neste
link é possível ler seu inteiro teor.
Dr. Geraldo Alckmin é um homem honrado na acepção da palavra em quem nós orgulhamos sinceramente.
ResponderExcluirAlckmin foi uma lufada de ar fresco. Lula acertou na mosca, Alckmin deu uma alcalinizada no ambiente ácido do petismo radical e dos boçais do fascismo bundalelê.
ResponderExcluirLula e Geraldo,a melhor chapa de todos os tempos.
ResponderExcluir