Folha de S. Paulo
É uma teia complexa de intercâmbios pela
qual flui o sangue das economias
O Povo (famélico) contra o Mercado (rico,
ganancioso, especulativo) –o tema circulou desde o esboço da PEC da Transição,
nos discursos de Lula, dos
dirigentes petistas e da torcida uniformizada na imprensa e nas redes sociais.
Neles, o Mercado emerge como um sujeito político: o inimigo do "governo
dos pobres". É investimento especulativo (ops!) na ignorância do público.
A política populista, ao contrário do que se pensa, não nasceu na América Latina, mas nos EUA. Seu protagonista icônico foi Andrew Jackson, o sétimo presidente (1829-1837), eleito sob o lema "a vontade do Povo". De lá para cá, o discurso populista fixou-se no mítico confronto entre Main Street (a rua popular do comércio) e Wall Street (a rua dos bancos). A cristalização da imagem geográfica desdobrou-se nas procissões de charges que opõem o "homem comum" ao banqueiro concupiscente. O mercado (financeiro) tornou-se o retrato do Mal.
O mercado, porém, não tem endereço, rosto
ou Comitê Central. Não é seis carinhas milionários da Faria Lima. É uma teia
complexa de intercâmbios pela qual flui o sangue das economias de mercado (ou
seja, de todos os países, inclusive a China, com
exceções insignificantes como a Coreia do
Norte).
São centenas de milhões de agentes
econômicos espalhados pelo mundo. Da teia, participam desde magnatas das
finanças até metalúrgicos aposentados cuja poupança repousa em fundos de
investimentos. Você e eu, que temos modestos patrimônios aplicados em produtos
financeiros, somos parte do tal mercado.
O mercado não é um partido. O paralelo melhor
talvez seja com o trânsito: sua dinâmica reflete inumeráveis ações individuais
derivadas do interesse próprio. Ninguém fala em nome do mercado (ou do
trânsito). Há apenas os que tentam interpretá-lo, de modo objetivo ou
interesseiro. Lula gabou-se muitas vezes de suas (reais ou supostas) façanhas
econômicas, "comprovando-as" por menções a altas na Bolsa. No
discurso populista, o mercado só é malvado quando pune os atos do governo
populista.
O mercado é uma bússola imprecisa, tendente
a bruscas oscilações determinadas por ataques especulativos e movimentos de
manada. Contudo, num horizonte mais extenso, sua agulha revela as direções
corretas. Quando Lula 2 e Dilma 1
ignoraram a bússola, o Brasil ingressou na areia movediça de uma depressão
histórica. No fim da linha, o líder populista tira dos pobres, com a mão
direita, o que lhes deu com a esquerda.
O mercado não tem ideologia. Ele condenou a
PEC Kamikaze, mesmo com a ultra-oportunista limitação temporal dos gastos
extras. O que nunca veio foi a punição política, pelo voto dos parlamentares. É
que a indômita oposição, PT incluído, preferiu a adesão.
O mercado sem ideologia apeia governos,
inclusive da direita ultraliberal. A prova mora no Reino Unido e chama-se Liz
Truss. Seu gabinete thatcherista, que jurava amar o mercado, durou 49 dias. O
Povo ("unido, jamais será vencido") nunca saiu às ruas para derrubá-lo.
A queda humilhante começou quando anunciou-se um pacote de corte de impostos
(especialmente para os ricos) baseado em emissão de dívida pública. O mercado
reagiu, recusando-se a comprar ativos em libras. Caput.
O mercado move-se ao sabor de fatos: não se
impressiona com declarações balofas, principalmente as falsas ("sempre,
nos meus governos, guiei-me pela responsabilidade fiscal"). "Nunca vi
mercado tão sensível como o nosso", reclamou Lula, fazendo eco a Truss. A
torcida uniformizada foi atrás, cumprindo o papel subordinado que lhe cabe. A
arrogância é péssima conselheira, ainda mais no atual cenário econômico
internacional. O mercado topa o Bolsa Família e a extinção do teto de gastos
–mas com uma pesada âncora fiscal.
Que ninguém se engane: o camarada Lira,
neo-aliado, pulará fora de um barco à deriva. Melhor prestar atenção na agulha
da bússola
Sensacional !
ResponderExcluirUma verdadeira aula com muito proveito. Texto para se guardar.
ResponderExcluirTimoneiro dos Sertrans, Detrans, Contrans, Denatrans, DNITs e PRFs do Mercado, esse talzinho Demétrio...
ResponderExcluirTem pessoas que morrem de inveja da inteligência de outras.. Sinto muito losers, inteligência não é para qualquer bestalhão.
ResponderExcluirOu bedtalhona bunda suja. Com certeza!
ResponderExcluir"O mercado não tem ideologia."
ResponderExcluirTem, sim, Magnoli. E a prova é q bolsonaro furou o teto em quase 1 trilhão e o mercado não chiou.
Outra prova foi o aumento da inflação, acima das metas do Bacen.
Outra prova é o fato de q o Brasil virou pária mundial arriscando nossas exportações e o agro calado ficou.
Todos sabemos q o paulo jegues foi um desastre e não cumpriu nenhuma de suas promessas e nem assim o mercado reclamou.
Basta comparar a valorização da bolsa no governo LULA com a deste desgoverno q se percebe o desastre - a ideologia é tanta, q o mercado perde dinheiro calado só pro LULA não voltar, ainda q ganhe mais dinheiro.com sua volta.
Ah, vemos diariamente os bloqueios impedindo a circulação de mercadorias. Sabemos q quem os financia é o mercado. Lembram daquele papo de q o Brasil não pode parar?
Eu, por exemplo, vi empresários de uma cidade turística fechando a única estrada q os une à capital (seus principais clientes). Alertei q os hóspedes não conseguiriam chegar mas não adiantou. Kkkkk Isso é ideologia burra.
Em tempo. Não é possível fugir da ideologia. O somatório de ideologias individuais e grupais como a daquela cidade turística compõe a ideologia estadual/nacional. Qd alguém diz "não haver ideologia" é porque ele a normalizou. Explico: eu não tenho sotaque; quem tem sotaque é o outro. Carioca crê não ter sotaque. Paulistas é baianos tb não. Gaúchos idem.
ExcluirEu não tenho ideologia - quem tem é o outro. Kkkkkkkkkkkk
To tempo do Jegue a desconfiança do dito mercado como um Ghost baixou no dólar que nunca parou de subir em tempo algum, apesar das mentiras cafajestes do espertalhão com complexo de Charles Chaplin com aquelas roupas extremamente largas e ridículas ou talvez, quem sabe para disfarçar a pequenez esquecendo-se do espírito mesquinho e lembrando da pequenez física. O maldito indo a Washington falar mal da economia brasileira antes mesmo do Lula tomar posse, não se importando em prejudicar o Brasil. Esse sim, merece toda lenha possível para queimá-lo publicamente. Vai de retro Satanás. - suma do país que vc simplesmente rebaixou a condição de uma ditadura Pinochet. Tudo que sabe espalhar é maldades, principalmente com os pobres que mandou para fila de ossos e sugeriu restos dos restaurantes. Ente malvado e cruel.
ResponderExcluirO colunista esbanjou sensos comuns misturados com seus próprios preconceitos, pra tentar nos vender sua ideologia. Alguns compram, mas estão pagando muito mais do que vale realmente... E o colunista embolsa mais uns reaizinhos, vendendo suas meia verdades! Pra mim, já está muito claro que não pode ser levado a sério!
ResponderExcluirQuem não leva esse jornalista a sério deveria ir para o clube da Luluzinha, 3 patetas, bronco, chapeuzinho vermelho, tico e teco, Peter Pan quem sabe ficariam mais a vontade sem precisar ser indelicados com pessoas da estatura de um Demetrio Magnólia ninguém está obrigando esses maus educados a ler os artigos dele. Além de ler sem precisar gastar um tostão ainda ficam agredindo. Coisa de doido.
ResponderExcluirAgressividades aa brasileira .
ResponderExcluirChamem o Jesus no leme c para controlar isso.
ResponderExcluirProfessor Demetrio, desculpe esses patetas que vem aqui e abusam de sua hospitalidade.
ResponderExcluirImagina pessoas no museu xingando os pintores ou em uma ópera vaiando os cantores, agressividade tem jeito de ser maneirada, só não é quando parte dos eleitores do ????????????????, pois é.
ResponderExcluirProva da ideologia "magnoliana" está em sua frase "mercado topa o Bolsa Família e a extinção do teto de gastos –mas com uma pesada âncora fiscal."
ResponderExcluirLembramos q o genocida não vetou o auxílio de 600 e q o jegues rompeu o teto em quase 1 tri. Em 4 anos, 4 furadas de teto.
Não vimos, em momento algum, o mercado "sem ideologia" do sr. Magnoli cobrar uma "pesada âncora fiscal".
Onde estava o mercado nestes momentos?
Respondo: estava apoiando com bozo o q reclama com LULA - isso se chama ideologia! O sr. Magnoli não a percebe porque já a internalizou, já a normalizou.
Tem um anônimo que não suporta Paulo Guedes,rs.
ResponderExcluirGuedes e Bozo,tudo a ver.
ResponderExcluirDemétrio é sempre polêmico.
ResponderExcluirTodo inteligente e polêmico, mas não precisa ser mau educado tem maneiras de discordar sem ser agredindo. Faltou vc aqui nesse pedaço com o Jesus no leme.
ResponderExcluirNao suporto o Jegue porque ele é fingido e mau.
ResponderExcluirPodemos perceber a diferença entre os textos de economistas que sabem o que é o mercado (ou o que são os mercados), como publicados por Carazza, Assis e Appy hoje e ontem neste blog, e os artifícios inventados aqui pelo jornalista Demétrio Magnoli, sem qualquer experiência econômica e tentando apenas empurrar sua ideologia e suposta (mas inexistente) experiência de economia. Magnoli é um enganador, acha que pode escrever sobre qualquer coisa, e frequentemente tropeça nas suas pobres ideias, como aqui! Quem quiser cair na sua conversa furada, é livre pra ser enganado ou se autoenganar! Pensamento crítico, sempre!
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