Para economista, queda da Bolsa e alta do dólar não quer dizer nada, o que importa é a discussão macroeconômica que está por vir
Por Vitor da Costa / O Globo
A economista e professora da Universidade
Johns Hopkins, Monica de Bolle, criticou a reação do mercado às declarações do
presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, afirmando que o sobe-e-desce do
dólar e da Bolsa não quer dizer nada. Em uma rede social, ela disse esperar que
ele não atrapalhe a transição.
Como vê as declarações do
mercado em relação às falas do presidente eleito?
O mercado está sempre com posições
compradas e faz esses movimentos de Bolsa e dólar para ganhar dinheiro. Esses
movimentos não querem dizer nada. O que realmente importa é a discussão
macroeconômica por vir. Os economistas do mercado têm uma visão míope e estão
com ela há muito tempo. O pessoal está olhando o Brasil há bastante tempo com
certa condescendência.
Se ele tivesse alguma racionalidade, teria
tido uma reação muito forte a todas as oscilações feitas no atual governo no
teto de gastos. Quando teve a PEC Kamikaze, que foi a coisa mais populista e
gastadora, a maior licença para gastar, o mercado nem se mexeu. Foi uma
cosquinha. Com o orçamento secreto, não fez quase nada.
O teto de gastos já não existe há bastante tempo, basicamente desde que foi criado. Foi modificado em praticamente todos os anos do governo Bolsonaro. Quando você pega o conjunto de mudanças ocorridas, foi uma regra fiscal para jogar no lixo. A reação do mercado é ideológica.
O que deve ser feito com o
teto?
O momento é de revogar e fazer um teto
novo. Tem que ser algo que funcione e não pode ser feito às pressas.
O que seria um bom teto?
Uma regra fiscal bem feita não pode ter um
horizonte de curto prazo, como no Brasil. Geralmente são de dois a três anos.
Uma boa regra tem de ter previsibilidade para se adequar a momentos ruins. O
nosso regime de inflação tem flexibilidade. O mesmo tipo de coisa vale para uma
regra de teto de gastos.
Essas mudanças de desenho tornam o teto
realista, permitem que você tenha um mecanismo de amortecimento quando você
precisa. E permite que tenha uma regra com flexibilidade suficiente para não
ser alterada o tempo todo, o que afeta a credibilidade. Ninguém está falando
aqui em licença para gastar.
Alguns economistas defendem
que gastos do Bolsa Família fora do teto trazem impacto na inflação...
Isso demonstra total desconhecimento de
como a economia funciona. O gasto social com as famílias mais pobres vai para o
consumo. Inflação não é causada por um grupo de pessoas de baixa renda
consumindo. Isso é uma espécie de economia simplória. Quando você permite e
aumenta o gasto, como fizemos no Auxílio Emergencial, as pessoas consumiram e
isso gerou crescimento.
A economia brasileira não teve recessão como outras por causa do auxílio. Vimos inflação não em 2020, mas em 2021 pela gestão Bolsonaro, com o fim dos estoques reguladores por causa da inflação dos alimentos. O Brasil acabou com estoques reguladores em 2019 para agradar ao agronegócio. E, em 2021, quando veio o choque de preços, não tinha mecanismo para usar.
Precisa e exata! A variação no "humor" do mercado é mas rápida que a velocidade de transmissão da luz, como se todos os robos que operam fossem mãe Dináh!
ResponderExcluirO deus Mercado é realmente volúvel e autocentrado... Mas Lula não precisa ficar provocando o próprio e seus fiéis operadores, investidores e especuladores! Lula tem que fazer mais e falar menos!
ResponderExcluirFalar menos mas só depois de anunciar o novo ministro da economia. Não é hora de colocar uma mulher? Que tal a Dilma?
ResponderExcluirMuito boa a entrevista,curta e direta.
ResponderExcluirAdoro a Dilma,mas eu acho que ela no leme da economia espantaria o mercado pra sempre,rs.
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