Folha de S. Paulo
As instituições saem bastante debilitadas
destes quatro anos de Bolsonaro
"Tò òn légetai pollachôs",
"aquilo que é se diz de várias maneiras", ensinava Aristóteles 2.300
anos atrás.
Luiz Inácio Lula da Silva sagrou-se presidente derrotando
um adversário que disputava a reeleição no cargo, feito inédito no Brasil e não
muito frequente no mundo, e que não hesitou em colocar a máquina pública a
serviço de sua candidatura de forma superlativa e despudorada.
Jair Messias Bolsonaro ficou apenas 2,1 milhões de votos atrás de Lula (1,8 ponto percentual), a menor diferença num pleito presidencial desde a redemocratização, apesar da gestão desastrosa da pandemia, na qual pereceram quase 700 mil brasileiros, uma mortalidade quatro vezes maior que a taxa média do planeta, e de ter deixado que a inflação saísse de controle — dois fatores que, num mundo normal, fulminariam suas chances de recondução.
Bolsonaro também atacou e ameaçou, ao longo
de todo seu mandato, instituições e pessoas encarregados de controlá-lo, um dos
elementos centrais do sistema de freios e contrapesos que caracteriza a
democracia. Detalhe não trivial: 79% dos eleitores se dizem favoráveis à
democracia. É claro que o que cada um considera democracia e o que constitui
uma ameaça crível permanecem questões abertas a interpretação.
Ao fim e ao cabo, as instituições
sobreviveram a Bolsonaro. Ele ainda tem condições de produzir confusões, mas
ficou bastante isolado, no Brasil e no exterior, e parecem nulas as chances de
evitar a alternância no poder.
As instituições saem bastante debilitadas
destes quatro anos de Bolsonaro. Reconstruí-las vai dar trabalho.
Todos os períodos acima me parecem descrições razoáveis do que aconteceu no Brasil, cabendo a cada leitor escolher se fica com a versão otimista, a pessimista ou mesmo se tolera bem os ruídos entre elas. De minha parte, destacaria que a derrota do candidato que não incorporava as regras do jogo democrático é uma excelente notícia.
O despudor de Bolsonaro ficou evidente no episódio das meninas venezuelanas, onde foi entre canalha e pedófilo dependendo das interpretações, mas também em muitas outras situações. O impressionante é que um criminoso como Jair Bolsonaro tenha recebido 58 milhões de votos, mais de 49% dos votos válidos. A tolerância dos brasileiros com a VIOLÊNCIA bolsonarista é decepcionante! Isto é mesmo a banalização da maldade...
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