'Se o conselho for bom, eu sigo', diz Lula sobre carta de alerta fiscal de economistas
Presidente eleito afirmou que ninguém deve
gastar o que não tem, mas, se precisar fazer alguma dívida para investir, que
isso seja feito de forma responsável
Gian Amato / O Globo
O presidente eleito Luiz Inácio Lula da
Silva afirmou hoje, após encontro com o primeiro-ministro de Portugal, Antonio
Costa, que ainda não leu a carta
enviada pelos economistas Arminio Fraga, ex-presidente do Banco
Central, Pedro Malan, ex-ministro da Fazenda, e Edmar Bacha, ex-presidente do
BNDES, que apoiaram sua candidatura no segundo turno e fizeram um alerta para o
papel da responsabilidade fiscal.
Lula disse ter sido informado por
companheiros que havia uma carta alertando sobre problemas econômicos e o
aconselhando.
- Eu ainda não li, mas fiquei feliz quando
companheiros me ligaram dizendo que tinha tido uma carta de pessoas
importantes, ex-ministros, me alertando dos problemas econômicos e
aconselhando. Sou um cara muito humilde e gosto de conselho. E se o conselho for
bom, eu sigo.
Lula citou a melhora de indicadores
econômicos como emprego e inflação ao fim do seu governo e destacou que o país
tinha acumulado reserva cambial bilionária e tinha pago a dívida com o FMI.
O presidente eleito disse que fica chateado
quando vê sinais de “qual a política fiscal?”
- Eu tenho dito que ninguém tem autoridade para falar em política fiscal comigo porque durante todo o meu período de governo eu fui o único país do G20 que fiz superávit primário em todos os oito anos.
E acrescentou:
- Aprendi com minha mãe, que era analfabeta:
só pode gastar o que tem ou que ganha. Mas se a gente tiver que fazer uma
dívida para construir um ativo novo, que a gente faça com responsabilidade para
o país voltar a crescer. Vou voltar a ser responsável do ponto de vista fiscal
sem precisar atender tudo que o sistema financeiro quer - afirmou.
Ele afirmou ainda ter sido eleito para
cuidar de 215 milhões de brasileiros, sobretudo das pessoas mais necessitadas e
"eu já dei demonstrações que responsabilidade fiscal a gente aprende
dentro de casa, aprendi com minha mãe e tive responsabilidade fiscal. Portanto,
não há nenhuma razão para este medo, esta flutuação da bolsa. É importante
apenas que a gente tome cuidado para não ser vítima da especulação".
Carta aberta
Na véspera, os três economistas enviaram a
carta ao presidente eleito destacando que compartilham das preocupações sociais
e civilizatórias de Lula. "Não dá para conviver com tanta pobreza,
desigualdade e fome aqui no Brasil", afirmam.
Mas ressaltaram que o desafio é tomar
providências que não criem problemas maiores do que os que o país já enfrenta.
Lula havia voltado a criticar durante seu
segundo dia de participação na COP27 o teto de gastos, a regra fiscal que
limita o crescimento das despesas públicas. Os comentários foram feitos no
momento em que o governo eleito tenta negociar a aprovação de uma proposta de
emenda à Constituição (PEC) da Transição que libera quase R$ 200 bilhões em
gastos fora da regra fiscal.
Os recursos são destinados ao pagamento do
Bolsa Família de R$ 600, à recomposição de verbas de programas sociais e para
investimentos.
Na quinta-feira, Lula havia afirmado que o
modelo atual "tenta desmontar tudo o que é da área social", sem tirar
um centavo do sistema financeiro.
Os economistas destacaram que o teto de
gastos "não tira dinheiro da educação, da saúde, da cultura, para pagar
juros a banqueiros gananciosos. Não é uma conspiração para desmontar a área
social."
Eles ponderam que um quadro de indisciplina fiscal gera mais inflação, juros mais altos e crédito caro, um quadro ecônomico que acaba penalizando mais os mais pobres.
O Paulo Jegue estava de olho nessa reserva - quem não tem capacidade de criar apossa-se da criação do outro com a cara mais dura possível. Fora Jegue!
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