O Estado de S. Paulo
Bolsonaro não quer passar a faixa presidencial para Lula e tarefa pode ficar com Mourão
Desde que perdeu as eleições, o presidente
Jair Bolsonaro dá sinais de que vai apostar no confronto até a posse de Luiz
Inácio Lula da Silva, em 1.º de janeiro de 2023. Disposto a mostrar que comanda
a “tropa” nas ruas, Bolsonaro demorou quase 45 horas após ser derrotado para fazer um pronunciamento de pouco mais de dois minutos, no
qual vestiu o figurino de líder da oposição.
O discurso foi lido de duas formas. Para ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), Bolsonaro entendeu o recado de que, ao não se manifestar sobre os bloqueios nas estradas e deixar a confusão correr solta, estava cometendo crime de responsabilidade. No diagnóstico de seus apoiadores, porém, o chefe do Executivo apenas “despistou” os críticos quando conjugou, com todas as letras, o verbo da rendição: “Acabou”.
Eles podem ter razão. Com um aviso prévio em mãos, o presidente que se despede do Palácio do Planalto quer montar uma espécie de “gabinete paralelo” da direita contra Lula, após a virada do ano. A portas fechadas, Bolsonaro confidenciou que não pretende passar a faixa presidencial, deixando a tarefa para o vice, Hamilton Mourão. A ideia é seguir o mesmo roteiro de Donald Trump nos Estados Unidos.
Filiado ao PL de Valdemar Costa Neto, o
atual ocupante do Planalto almeja ser o principal antagonista de Lula e pavimentar
o caminho para 2026, se a Justiça deixar. O Centrão, porém, já começou a
desembarcar do governo.
“Lula precisará ter muita habilidade para
pacificar, senão o Brasil vai pegar fogo”, afirmou o líder do União Brasil na
Câmara, Elmar Nascimento (BA). “Bolsonaro é homem de confronto, mas nós não
vamos apoiar uma guerra.”
Às vésperas do segundo turno, Elmar disse
ao Estadão que, se o STF considerar inconstitucional o orçamento
secreto distribuído pelo Congresso, sofrerá retaliações. “Se tirar o nosso, a gente tira o deles”,
avisou. Questionado na tarde desta terça-feira, 1º, o deputado – que é aliado
do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) –, adotou outro tom. “A hora é de
unir o Brasil e as instituições precisam ser respeitadas”, insistiu ele.
Tradução: com o café frio no Planalto, o Centrão já pisca para Lula.
Na tentativa de entender a cabeça de
Bolsonaro, ministros do STF se debruçaram, nos últimos tempos, sobre livros que
tratam de fake news e teorias da conspiração. Um deles foi Os Engenheiros
do Caos, de Giuliano Da Empoli. Em um dos trechos, o autor diz que “o sucesso
dos nacional-populistas se mede pela capacidade de fazer explodir a cisão
esquerda/direita para captar os votos de todos os revoltados e furiosos, e não
apenas dos fascistas”.
Bolsonaro quase conseguiu isso nas eleições, mas, ao não sair de sua bolha, perdeu para ele mesmo. Agora, parece querer revanche. Pobre Brasil.
Pobre Brasil mesmo.
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