O Estado de S. Paulo.
Tentativas deliberadas de perpetuar a polarização, de atacar o candidato derrotado, são inconsequentes e arriscadas. E traem sua valiosa promessa
Estamos a dois dias do Natal e a pouco mais
de uma semana do ano-novo. O Natal traz esperança e exorta todos a exercerem a
fraternidade. Mas a fraternidade exige a adesão deliberada de cada um e reflete
as condições sociais e morais das nações. Entre essas condições, o ambiente
político do País exerce papel preponderante, e essa é a razão do pessimismo que
pode prevalecer na expectativa do próximo ano novo, por oposição ao otimismo
que o Natal provoca.
O otimismo está no fato de que a democracia representativa, posta em risco nestas eleições, prevaleceu sobre todas as tentativas de violar o voto livre e secreto dos cidadãos. A natureza tem-nos favorecido e, graças à qualidade da inovação científica e tecnológica de nossa agricultura, desfrutamos de plenas condições de segurança alimentar. Nossa base industrial tem sofrido com os equívocos das políticas econômicas adotadas nas duas últimas décadas, mas as expectativas são de que o investimento no Brasil pode voltar a ser atraente se o futuro governo tomar as decisões necessárias para garantir sua credibilidade. Em que pese a insuficiência de nossa base tecnológica, em razão da falta de formação profissional pós-ensino médio, temos um corpo de profissionais com extensa experiência de gestão pública e privada, e com disposição para colaborar numa empreitada de reerguer o País.
Já os fundamentos do pessimismo estão em
dois aspectos do ambiente político, que se sobrepõem. Um é o aguçamento da
polarização, que anula qualquer expectativa de fraternidade entre duas metades
do eleitorado, mobilizadas pelo medo, que decidiram seu voto seja por temer
Bolsonaro, seja por desconfiar de Lula. Alguns fantasmas foram difundidos deliberadamente
pelos dois lados, mas a maioria moderada tinha bastante experiência do governo
de ambos para ter medo do que via.
Esse aguçamento provém, de um lado, da
recusa do atual presidente a reconhecer a legitimidade da Constituição, que
confere ao candidato eleito o direito e o dever de exercer o mandato
presidencial. Recusa que se estende ao conjunto da Carta, uma vez que só
reconhece um único artigo, o 142, que, a seu critério, lhe daria a prerrogativa
de derrubar o governo legítimo. Sua omissão diante da ocorrência de atentados
violentos, organizados para mostrar a disposição de seus organizadores para
obstaculizar, senão impedir, a posse do presidente eleito, somada a
manifestações presidenciais dúbias, convergem para sinalizar uma clara
estratégia para manter, a qualquer preço, a polarização e a sobrevivência de
sua liderança, hoje declinante.
O aguçamento também se alimenta da
duplicidade quase doentia da persona pública de Lula, o candidato aberto a tudo
e a todos, disposto a agasalhar toda a diversidade de ideais, todas as crenças
e posições políticas, a perdoar os antigos adversários e honrar todas as
heranças, benditas ou não. Estendeu a mão a todos e recebeu a mão estendida de
todos, mesmo dos que, ainda que temendo Lula, foram convencidos a temer mais
seu contendor.
Quando candidato, deixou claro que seu
passado de glórias e feitos lhe propiciava prescindir de especialistas para
planejar seu governo, de empresários para contribuir para o crescimento da
economia e da ajuda de gestores públicos experientes que contribuíssem para
ampliar a capacidade governativa de sua coalizão. Absteve-se – o que é grave –
de abrir canais que pudessem trazer para sua campanha a considerável
diversidade de ideais e interesses representada nos partidos e movimentos que o
apoiaram. Ao contrário, todas as vezes em que foi cobrado a revelar seu
programa, sua resposta era a mesma: “Eu sei o que fazer, eu já fiz, eu vou
fazer”.
Sua vitória provocou alívio entre os que
nele votaram, tanto os fiéis petistas quanto os desconfiados e até os céticos.
Mas o presidente eleito manteve-se ausente do processo de transição por quase
todo um mês, deixando uma equipe gigante, de quase mil membros, desprovida de
orientação e de decisões vitais que Lula dizia ter em sua cabeça.
Quando veio a público, desencadeou um
processo exageradamente precoce de erosão de seu indiscutível capital político,
antes mesmo de assumir o governo. O mundo mudou, o Brasil mudou muito desde seu
último mandato, e a economia mundial está sofrendo uma transformação extrema.
Mas Lula não mudou. Pior: não percebeu a mudança.
Talvez isso se deva à sua necessidade de
dividir o mundo, as pessoas e a política, numa dualidade simplificadora, o bem
contra o mal, a verdade contra a mentira, os pobres contra os ricos, nós contra
eles, os que cuidam do pobre contra os que ficam olhando a política fiscal.
Nesse contexto, as tentativas deliberadas de perpetuar a polarização, de atacar
com frequência o candidato derrotado, são inconsequentes e arriscadas. E traem
sua promessa de pacificar o País.
A resiliência que o povo brasileiro tem
mostrado para evitar a ameaça de golpe deve servir, neste momento de transição,
para exigir de Lula o cumprimento de sua promessa de campanha mais valiosa: a
de pacificar o País.
*Senador (PSDB-SP)
"Nesse contexto, as tentativas deliberadas de perpetuar a polarização, de atacar com frequência o candidato derrotado, são inconsequentes e arriscadas. E traem sua promessa de pacificar o País."
ResponderExcluirNão existe o contexto citado pelo Serra. Só o genocida quer perpetuar a polarização. E LULA não ataca o derrotado - onde houve ataques de LULA?
Talvez Serra queira uma anistia pro(s) criminoso(s) da República, mas nao tem coragemde admitir como Temer fez.
ANISTIA NUNCA MAIS, Serra, nunca mais. Anistia dá a sensação de paz - mas incentiva vândalos como o bozo, os generalecos, o gado, tendo como efeito prático a impunidade q gera mais crimes e nao pacifica o Brasil. Anistiar quem quer ditadura é compactuar com os golpistas.
Serra quer um senatoriozinho vitalicio pro bozo e anistia pros golpistas. Crê, equivocadamente, q isso pacífica o país. Ledo engano. Isso incentiva o caos e aventureiros inconsequentes como o genocida e o gado.
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