O Globo
Com mudança na Lei das Estatais, Lira dá a
Lula o que Bolsonaro sempre quis e nunca conseguiu
Não é pequena a lista de motivos de Jair
Bolsonaro para ter inveja de Lula,
mas nesta semana ela ganhou um novo item bem vistoso. Com a alteração na Lei
das Estatais que eliminou a quarentena imposta a políticos que queiram ocupar
cargos em empresas públicas, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL),
deu a Lula algo que Bolsonaro sempre quis — e nunca conseguiu.
Na noite de terça-feira, em apenas sete
minutos, num lance que pegou de surpresa muito deputado experiente, a relatora
do projeto que alterava a Lei das Estatais, Margarete
Coelho (PP-PI), fez aprovar a emenda que permitirá ao coordenador do
programa de governo de Lula, Aloizio
Mercadante, assumir a presidência do BNDES sem sofrer nenhuma contestação
do Ministério Público ou da oposição.
Mercadante não será o único. Atrás dele virá uma frente ampla de políticos e dirigentes partidários, todos liberados da obrigação de esperar pelo menos três anos depois de sair dos antigos postos para ingressar na administração de estatais. A emenda ainda precisa passar pelo Senado, mas a expectativa geral é que seja aprovada.
Na Câmara, a coisa foi rápida. Já estava
prevista e combinada a aprovação de um aumento no limite de gastos de estatais
com publicidade em época de eleição. Às 19h23, porém, foi protocolada no
sistema da Câmara uma nova emenda, reduzindo a quarentena de 36 meses para 30
dias, praticamente umas férias. Lido às 21h38, o texto foi colocado em votação
às 22h44. Às 22h51, estava aprovado.
Horas antes, Mercadante, ex-ministro
de Dilma
Rousseff e coordenador da transição de Lula, havia sido confirmado
pelo presidente eleito para o BNDES, mas havia dúvidas sobre se ele poderia
assumir o cargo.
Mercadante foi coordenador do programa de
governo de Lula, e a lei estabelece a quarentena de três anos para quem “tiver
atuado como participante de estrutura decisória de partido político ou em
trabalho vinculado à organização, estruturação e realização de campanha
eleitoral”.
Mas, assim que se cunhou no Congresso o
apelido “Emenda Mercadante”, os petistas disseminaram a versão de que nem o
partido nem ele tinham nada a ver com a história, porque sua nomeação é
perfeitamente legítima e não fere a Lei das Estatais.
Usaram como referência o caso de Fábio Abrahão,
diretor do BNDES aprovado em 2019 pelos comitês do banco, que contribuiu para o
programa de governo de Jair Bolsonaro na área de infraestrutura. Diferentemente
de Mercadante, porém, o executivo não teve participação formal na campanha, nem
aparece em documentos do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Pode-se argumentar que é uma diferença
meramente burocrática e que ambos fizeram trabalho semelhante. Um erro, porém,
não justifica outro.
A aprovação da Emenda Mercadante foi
amplamente comemorada no Centrão. Afinal, todo mundo que tem interesse em
alguma boquinha no próximo governo poderá se beneficiar.
O próprio Arthur Lira já disse mais de uma
vez a aliados que pretende conseguir um bom posto para a relatora Margarete
Coelho, que não foi reeleita para a próxima legislatura. O mais cotado para a
presidência da Petrobras, Jean Paul
Prates (PT-RN),
também não foi reeleito para o Senado.
Mas não dá para dizer que o Centrão é o pai
da emenda ou que Lula e o PT não têm nada a ver com isso. O autor do texto é um
deputado do PSB de
Pernambuco, Felipe
Carreras, e os líderes que a endossaram são da base lulista: além do
próprio PSB, PDT, PT
e PCdoB.
Também não adianta argumentar que a Lei das
Estatais criminaliza a política. Ela não manda prender ou punir ninguém, apenas
estabelece controles para tentar evitar que se repita a experiência traumática
dos saques aos cofres de estatais registrados em seguidos escândalos em anos
recentes.
Só do petrolão, mais de R$ 6 bilhões
desviados foram devolvidos à Petrobras. Foi essa memória que fez investidores
promover uma agressiva liquidação das ações da companhia na Bolsa, que derreteu
R$ 37 bilhões na tarde de ontem.
Desde outubro, o temor de que a empresa
volte aos velhos tempos já fez desaparecer R$ 145 bilhões em valor de mercado —
o equivalente a uma PEC da Transição.
Considerando que o governo detém 37% do capital da companhia, seria o caso de se preocupar. Mas o pessoal no Congresso está comemorando. Abriram finalmente a porteira para passar a boiada que sonha em voltar para a máquina estatal. E isso, para muita gente, vale ouro.
Lula e Lira,quem diria!
ResponderExcluirO Centrão sempre foi sócio do PT nos governos de Lula... Ou seja, Lula é sócio do Centrão há muito tempo, ainda que haja diferenças enormes entre eles.
ResponderExcluirAfinal eliminar a quarentena é bom ou ruim? E "aumentar o limite" significa elevar ou baixar?
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