A estabilidade política para governar e
fazer avançar a agenda dos desafios nacionais depende de formação de maioria
parlamentar. Embora a proibição das coligações proporcionais e a cláusula de
desempenho tenham racionalizado o quadro de representação parlamentar, a
fragmentação ainda é grande, dificultando a recuperação do chamado “presidencialismo
de coalisão”.
Lula tem grande experiência e habilidade
política, acumuladas em seus dois mandatos anteriores e durante toda sua
trajetória. Acompanhou de perto a crise do governo Dilma Rousseff e sabe que
não conseguirá êxito na superação da crise sem maioria parlamentar.
É natural que as forças que pretendem compor a base de sustentação parlamentar do novo governo queiram participar do Ministério e da administração. Lula, até a última quinta, havia anunciado apenas nomes ligados ao PT e seus aliados de esquerda. Aguarda o desenlace da votação da “PEC da Transição” e a definição sobre o “orçamento secreto”.
A dinâmica política se dará, grosso modo,
em torno de cinco vetores: o PT e a esquerda, o bolsonarismo e a direita, o
centro democrático, o centro independente e o Centrão.
O bolsonarismo, tudo indica, finalmente fará
uma aposta numa construção partidária orgânica. As declarações do presidente do
PL, Valdemar da Costa Neto, apontam para a estratégia de consolidar Bolsonaro
como líder da oposição, mirando 2026. Mas os primeiros sinais revelam que o PP
e os Republicanos não acompanharão este movimento. Também governadores como
Tarcísio de Freitas, Zema e Ratinho Jr adotarão uma postura de distencionamento
da polarização e convivência administrativa cooperativa com o Governo Federal.
O Centrão, subtraído o PL, deve manter sua
tradição de movimento pendular e, a partir do parlamento, defender seus
interesses, mas sem uma postura oposicionista radical. O centro independente,
onde se situam MDB, União Brasil e PSD, negocia adesão à base do governo e
posições no novo ministério.
O centro democrático, formado por PSDB,
Cidadania e Podemos, apesar da perda de peso eleitoral e parlamentar, optou por
uma postura independente e de construção de uma alternativa tanto à Lula,
quanto à Bolsonaro. Terá a complexa tarefa de recuperar elos efetivos com a
sociedade, ampliar sua militância e sua capacidade de mobilização, fortalecer
suas redes sociais, aumentar sua visibilidade com atuação parlamentar vigorosa
e reconstruir suas bases programáticas. O caminho poderia ser outro com uma
aliança com o MDB e Simone Tebet ou com as forças socialdemocratas do PSB e
PDT, através do vice-presidente Geraldo Alckmin. Mas isto implicaria em rever
sua postura de oposição à Lula e ao PT.
Por último, cabe à Lula, ao PT e à esquerda
mostrarem que fizeram a leitura correta das urnas, adotando uma postura ampla e
agregadora e abandonando sua postura histórica um tanto exclusivista e
hegemonista.
A sorte está lançada. O Brasil precisa urgentemente de paz, crescimento, superação da crise, avanços e reformas.
Verdade.
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