Folha de S. Paulo
O sucesso depende de sua capacidade de
articular estabilidade e mudança
Muito antes de Darwin, Maquiavel já
preconizava —em seus "Discursos"— ser a capacidade de adaptação a
principal responsável pela sobrevivência da República. Associada à diversidade
e à liberdade dos cidadãos, a disposição para mudar permitiria à República se
adaptar às novas circunstâncias, preservando o cerne de sua Constituição.
As constituições modernas são dispositivos institucionais que buscam contribuir para que as Repúblicas sejam capazes de se adaptar, ao estabelecer a liberdade, o pluralismo e a alternância no poder como suas regras essenciais; criando obstáculos, no entanto, para que os que venham a exercer o poder não possam colocar em risco as premissas fundamentais para a sobrevivência da própria República.
O sucesso de uma Constituição depende,
nesse sentido, de sua capacidade de articular estabilidade e mudança.
Estabilidade do jogo democrático e dos direitos que lhe são constitutivos, com
a flexibilidade necessária para as constantes correções de rumo. Correções de
rumo voltadas a atender as próprias promessas de dignidade, justiça ou
bem-estar, que levam os diversos setores da sociedade a aderir ao pacto
constitucional.
Em um período de frenética transformação,
como o que vivemos, manter os canais democráticos desobstruídos é fundamental
para que as transformações sociais, tecnológicas ou econômicas possam ser
processadas, sem violência e ruptura do sistema político.
A ideia romântica de Thomas Jefferson de
que cada geração deveria se dar uma nova Constituição, para não ficar submetida
ao "governo dos mortos", tem se demonstrado cada vez mais custosa. As
dificuldades de coordenar um novo pacto político em sociedades contemporâneas,
altamente complexas, são enormes.
Nesse sentido, temos que zelar pelos pilares
de nosso patrimônio constitucional, pois eles é que assegurarão as condições
políticas para que as mudanças institucionais necessárias possam ser feitas,
com o objetivo de que as promessas de uma vida melhor feitas pela Constituição
possam ser cumpridas. Quando essas promessas não são cumpridas, as
Constituições ficam vulneráveis a ataques de populistas e oportunistas
autoritários, como os que sofremos nos últimos quatro anos.
Torço para que o governo que agora se
instala tenha a ousadia de promover as reformas necessárias para que as
promessas constitucionais possam ser cumpridas. Como é final de ano —e retomada
do processo democrático—, tomo a liberdade de apresentar minha lista de desejos
constitucionais para o próximo quadriênio. O primeiro desejo é que sejam
eliminados privilégios indefensáveis entrincheirados na Constituição, assim
como uma reforma tributária voltada a fomentar mais prosperidade e reduzir a
obscena desigualdade que estrutura a sociedade brasileira.
Em segundo lugar, desejo que as políticas
públicas, especialmente nas áreas de educação, saúde, moradia e meio ambiente,
devastadas pelo desgoverno que foge, sejam reformuladas, para que os setores
mais vulneráveis tenham as condições e capacidades necessárias para viver, com
autonomia, num mundo cada vez mais competitivo e desafiador.
Meu terceiro desejo é a modernização de
nosso sistema de aplicação da lei, com o objetivo de reduzir a desigualdade e o
arbítrio a que muitos cidadãos são submetidos diariamente, em função de sua
raça ou condição social. De quebra, as reformas poderiam contribuir para
aumentar a segurança jurídica, a transparência e reduzir a impunidade.
O fato de a Constituição ter sobrevivido ao
bolsonarismo não significa que o seu futuro esteja assegurado. Para sobreviver,
precisará se transformar.
*Professor da FGV Direito SP, mestre em direito pela Universidade Columbia (EUA) e doutor em ciência política pela USP.
"...com o objetivo de que as promessas de uma vida melhor feitas pela Constituição possam ser cumpridas. Quando essas promessas não são cumpridas, as Constituições ficam vulneráveis a ataques de populistas e oportunistas autoritários, como os que sofremos nos últimos quatro anos..."
ResponderExcluirLula cumpriu suas promessas. A vida melhorou, e por isso saiu com 87% de aprovação. É q os atores querem mais. Muito mais. São insaciáveis. O "empresário" brasileiro é tão ruim q não consegue pagar $1.200 de salário. Porra, "empresario", ponha seu currículo no Bradesco/Itaú! Ah, eles não me querem. E o q cê quer? Eu quero q qq salário eu possa pagar. Mas aí seu empregado morre de fome. Ain, ele num estudô! E como fica a aposentadoria desse seu funcionário? Ain, pra q? Tem q trabaiá, deixá de sê vagabundo.
E nem precisa dizer q o salário mínimo terá ganho real - aí o empresário brasileiro diz q quer a volta da escravidão e apoia o genocida.
O porteiro de meu prédio teve a mais mió de bom melhora de vida nos tempos do Lula. Ele pensa q é da classe social dos moradores, q o tratam mui bem, e votou no genocida. Tá sem aumento real há 4 anos e seu hospital público piorou, a vida piorou. Agora votou no LULA. Duvido q aprendeu. É pobre votando no genocida. É negro votando no fujão. Se fosse LGBT... cometeria o mesmo erro, acumuladamente. Burrice?
Muito bom o artigo.
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