sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

Vinicius Torres Freire – A cara do ministério Lula 3

Folha de S. Paulo

Governo é o mais diverso da história, mas não muito, e agora vai ter nomeações do centrão

Luiz Inácio Lula da Silva nomeou 21 dos seus 37 prováveis ministros. Por enquanto, é um ministério dominado por PT, aliados, companheiros de viagem e de gente representativa de movimentos sociais, negros em particular. Agora em diante é que são elas (poucas elas): vem a barganha com centrão e Congresso.

É um ministério de gente muito experiente, que ocupou cargos executivos de importância. Vai ser o mais diverso da história, mas lá não muito. Mulheres talvez chefiem um quarto das pastas ou um tico mais do que isso, por exemplo.

É um governo marcadamente nordestino. Embora seja injusto e ignorante jogar as pessoas da região nesse balaio genérico, o adjetivo tem, no contexto, significado político. Lula deve sua eleição às largas maiorias que teve no Nordeste, que tem tido muitos governadores de esquerda. No mais, o gabinete é em boa parte paulista.

Dos nomes confirmados, sete são ex-governadores. Fernando Haddad, ex-prefeito paulistano, entra nessa conta de sete porque a prefeitura de São Paulo é o terceiro maior governo do país. Fica apenas atrás do Executivo da República e do estado.

O gabinete pode ter pelo menos mais um governador, pois Renan Filho, de Alagoas, deve ter um ministério na "cota" do MDB-Renan Calheiros.

Há cinco ex-ministros, todos de governos do PT, inclusive José Múcio Monteiro (Defesa). Por falar nele, Múcio é uma das poucas figuras, além de Geraldo Alckmin (Desenvolvimento, Indústria e Comércio) e Márcio França (Portos e Aeroportos), que não são de esquerda. França e Alckmin são do PSB, que junta de ex-tucanos a ex-psolistas e muito mais. Há quatro nomes que já ocuparam cargos de secretário nos governos petistas (segundo escalão, abaixo de ministro) e ministros em outros postos.

O ministério da Saúde escapou da mão do centrão e ficou com Nísia Trindade. Era presidente da Fiocruz, que, em termos de assuntos e importância, é como um ministério, embora sem o tamanho e a complexidade prática da Saúde.

A Educação ficou com Camilo Santana (PT) e Izolda Cela, que governaram o Ceará, estado com poucos recursos materiais que tem mostrado como usar a cabeça para melhorar o ensino.

Até agora, falta "união nacional". Lula 3 colocou Alckmin no Mdic, só, o que, por falar nisso, não diz boa coisa sobre a capacidade do governo de agregar outros quadros econômicos que fiquem muito longe da esquerda. Mas a "união nacional" de Lula começou e praticamente acabou em Alckmin.

O que vai vir de centrão e Congresso não deve significar diálogo maior com aquela parte da sociedade que se uniu a Lula contra a reeleição das trevas. É a barganha sabida para dar estabilidade político-parlamentar ao governo.

Simone Tebet (MDB "voo solo") não tem cargo ainda. É uma figura emblemática. Foi uma candidata sem chances, ignorada pelo seu partido e que, enfim, teve pouco voto, mas que mostrou capacidade política para ficar maior do que tudo isso e de mudar sua biografia.

Juntou em torno de si o que restou dos quadros do velho PSDB e de novos tucanos "em espírito", em especial na área econômica (que já se distanciou de Lula 3 e está pessimista com o governo). É também um elo com as elites mais civilizadas do país.

Falta também saber o que será feito de Marina Silva (Rede), outra ponte com elites civilizadas (não apenas econômica) e com o resto do mundo. Um programa ambiental forte, com ramificações econômicas e tecnológicas, é uma avenida possível de sucesso para Lula 3. Se Marina Silva e os quadros que desenvolveram as instituições ambientais nos governos petistas não tiverem relevância (sem prejuízo de agregar gente nova), Lula e o país terão um problema grave.

 

2 comentários:

  1. Faz sentido.
    Muitosentido.

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  2. Marina e Simone,grandes mulheres,gostaria de vê-las no governo,apesar que a primeira foi eleita deputada e de certa forma já estará.

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