segunda-feira, 21 de fevereiro de 2022

Fernando Gabeira: O lugar da Amazônia nas eleições de 2022

O Globo

Na semana passada, tive a chance de moderar um debate, organizado pela rede Uma Concertação pela Amazônia, sobre o papel da região nas eleições. O encontro virtual envolveu líderes indígenas, empresários e artistas da própria região, assim como inúmeras e importantes vozes nacionais.

A ideia básica era oferecer algumas propostas aos candidatos à Presidência e aos que ocuparão o Congresso. A primeira questão que se levanta é esta: se os partidos têm gente especializada para formular programas, por que se importar com o tema?

Por mais que um pequeno grupo possa formular ideias sobre a Amazônia, a complexidade e a extensão do problema demandam uma contribuição social, principalmente das pessoas que moram lá.

Demétrio Magnoli: Ruínas da ponte chinesa

O Globo

‘Esta foi a semana que mudou o mundo’, disse Richard Nixon em Xangai, em fevereiro de 1972, numa referência direta ao livro-reportagem “Dez dias que abalaram o mundo”, de John Reed, sobre a Revolução Russa de 1917. Nas declarações, logo após a assinatura do Comunicado conjunto, o presidente dos EUA anunciou a construção de uma ponte imaginária “através de 16 mil milhas e 22 anos de hostilidades”. A ponte ajudou a encerrar a Guerra Fria e abriu caminho à integração da China ao mundo, mas não ficou em pé para celebrar seu aniversário de 50 anos.

Sem o encontro histórico de Nixon com Mao Tsé-tung, não é fácil enxergar a transição chinesa do fracassado modelo estatista à “economia socialista de mercado” que começou em 1979, sob Deng Xiaoping. Sem o Comunicado de Xangai, base da aproximação geopolítica entre China e EUA, quem sabe quanto tempo ainda viveria a URSS?

Marcus André Melo: Lula e a reformafobia

Folha de S. Paulo

É contraintuitivo que Lula apresente-se como candidato antirreforma

Já me referi aqui na coluna à crítica implacável de Eça de Queiroz n’"As Farpas" ao reformista retórico. Eça escarneceu de uma infinidade de subtipos: reformeiros, reforminhas, reformecos, reformaricas, reformânticos, etc. Mas há um subtipo que Eça apelidou de reformafóbico, que Lula está encarnando à perfeição: "Quem é que disse que o Brasil precisava das reformas?", perguntou, referindo-se à reforma trabalhista, da Previdência e ao teto de gasto.

Eça mirava no elemento retórico de reformas meramente discursivas, ritualísticas. Elas servem, afirmou, para "um ministério fingir que administra, iludir a nação ingênua, imitar a iniciativa fecunda dos reformadores ‘lá de fora’ , aparentar zelo pelo bem da pátria, justificar a sua permanência no poder, fornecer alimento à oratória constitucional".

Eça restringiu-se às reformas como discurso e demagogia. Lula a reformas implementadas. Falar é barato. Credibilidade e reputação é o que importa.

Celso Rocha de Barros: Bolsonaro pede bênção a papai Orbán

Folha de S. Paulo

A viagem-manifesto do presidente foi um spoiler dos seus próximos movimentos

Com dois anos de atraso, Bolsonaro finalmente conseguiu fazer a viagem-manifesto que queria. Bolsonaro planejava visitar os líderes autoritários de Hungria e Polônia em 2020, na mesma época em que começou a convocar atos golpistas, mas foi impedido pela pandemia.

Viktor Orbán, primeiro-ministro húngaro, foi um dos poucos chefes de Estado que compareceram à posse de Jair. Logo depois da eleição, Eduardo Bolsonaro foi a Budapeste e voltou dizendo que havia aprendido como se lida com a imprensa. Na semana passada, a viagem-manifesto finalmente aconteceu.

Janela do troca-troca partidário na Câmara será teste de força para 3ª via

PT de Lula deve manter tamanho, PL de Bolsonaro cresce e demais presidenciáveis lutam para não murchar

Danielle Brant, Ranier Bragon, Renato Machado / Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - A janela do troca-troca partidário na Câmara dos Deputados, que se abrirá no dia 3 de março e irá até 1º de abril, representará um teste de força dos presidenciáveis da chamada terceira via, que tentam se desvencilhar do balaio de candidatos com baixa pontuação nas pesquisas e chegar perto dos dois mais bem posicionados, o ex-presidente Lula (PT) e o atual presidente, Jair Bolsonaro (PL).

Um fator primordial moverá os deputados: a avaliação sobre qual partido lhes dará as melhores condições regionais para conseguir a reeleição em outubro.

Para isso, é preciso haver uma definição mais clara sobre quais siglas vão de fato se unir em federações. A nova regra que permite a união de legendas aumenta a chance de eleição dos candidatos do bloco, mas exige atuação conjunta nos quatro anos da legislatura.

O PT, de Lula, que tem uma identidade ideológica mais consolidada, deverá ficar praticamente intacto, saindo dos atuais 53 deputados para 54, com a volta do deputado Josias Gomes (hoje secretário de desenvolvimento Rural da Bahia). A sigla é a segunda maior da Casa.

O PL de Valdemar Costa Neto, que conseguiu vencer a disputa e filiar Jair Bolsonaro, deverá ser a sigla que terá o maior crescimento, saindo dos atuais 43 para cerca de 60. Com isso, poderá ser a maior da Casa a partir de abril.

No pelotão da chamada terceira via, a disputa maior é para não murchar.

Ana Cristina Rosa: As vítimas do desleixo

Folha de S. Paulo

Praticamente nada foi feito para evitar que desgraça similar se repetisse

Quanto vale uma vida? Quem é razoavelmente instruído há de dizer que a vida não tem preço, é direito fundamental e inviolável previsto na Constituição Federal. No dia a dia, porém, o valor da vida no Brasil está atrelado a fatores como o Código de Endereçamento Postal (CEP) da residência, a cor da pele, a rede de contatos e o poder econômico da pessoa. E, como cantou Elza Soares, a voz do milênio, "a carne mais barata do mercado é a carne negra".

Mirtes Cordeiro*: Educação, a grande janela para a vida

João Lucca, meu neto, fez sete anos e atingiu a idade da razão.

Geralmente se pensa e se conta que a idade cronológica começa a partir do nascimento. Não é assim. A vida intrauterina desenvolve o ser humano em suas características físicas, genéticas e estabelecem outras relações entre a mãe e o bebê e o meio ambiente em que os dois estão habitando. Estudiosos falam do desenvolvimento do bebê no útero e mencionam sua estreita relação, começando aí, através da identificação da fala da mãe, a sua preferência e segurança.

Saindo da segunda infância que vai até os 6 anos, na visão de alguns estudiosos da psicologia, e adentrando à terceira infância que vai até os 11 anos. João abre uma janela muito importante na sua vida, porque diminuem as atitudes egocentristas, sai um pouco de si mesmo, se abre para o mundo através da estimulação da linguagem e da memória, logo se dispondo a ler, escrever e interpretar o que ler e o que conhece.

Carlos Pereira: A fantasia do bom governante

O Estado de S. Paulo

Lula não soube lidar com o Legislativo no passado e dá sinais de que não aprendeu a lição

Ao contrário do que muitos acreditam, a boa relação com o Legislativo não é determinada por habilidades pessoais do presidente, mas por suas escolhas de como montar e gerenciar coalizões. Mesmo presidentes que desfrutam de maiorias não serão bem-sucedidos no Legislativo se tais coalizões forem incongruentes com as preferências do Congresso.

Quanto mais a coalizão do presidente espelhar as preferências dos legisladores, mais fácil e mais barato seria governar. Por outro lado, quanto maior a diferença de preferências entre a coalizão e o Congresso, mais difícil e cara seria a gestão da coalizão e maior a probabilidade de forças minoritárias do Legislativo obstaculizarem o governo. A distância de preferências entre a coalizão e o Congresso é, portanto, o fator-chave para explicar tanto o sucesso legislativo do presidente, como também o custo de governabilidade. Há uma narrativa de que Lula, quando presidente, soube negociar bem com os parlamentares; mas dados evidenciam o contrário.

Bruno Carazza: Esperando a janela

Valor Econômico

Prazo para troca de partidos é abertura oficial da campanha

Há alguns meses as eleições mobilizam a atenção da mídia e das redes sociais. Da escolha dos pré-candidatos presidenciais às negociações para a formação das federações, as movimentações dos dirigentes partidários são acompanhadas de perto na tentativa de captar os sinais de alianças, apoios e traições a partir de quem encontrou com quem, onde, e o que teriam conversado.

A partir da semana que vem as articulações descem de patamar, passando do Planalto para a planície. Está aberta a temporada de troca-troca de legendas de deputados, senadores e todos os que buscam um lugar ao sol na política brasileira a partir de 2023.

Na teoria, o sistema político-eleitoral brasileiro gira em torno dos partidos. Afinal de contas, a legislação proíbe o lançamento de candidaturas independentes, assim como a distribuição de cadeiras nas Câmaras de Deputados e nas Assembleias Legislativas estaduais é determinada pelo total de votos angariados pelas legendas - e não simplesmente pelos candidatos mais votados individualmente.

Federação com PSDB pode levar senadora à vice de Doria

Sigla deve retirar pré-candidatura de Alessandro Vieira

Por Andrea Jubé  / Valor Econômico

BRASÍLIA - O Cidadania aprovou, no último sábado, em reunião virtual do diretório nacional, a formação de uma federação partidária com o PSDB. Embora o partido ainda mantenha o nome do senador Alessandro Vieira (SE) como pré-candidato à Presidência, a tendência é a retirada do parlamentar da disputa, e o apoio do Cidadania à postulação do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), na corrida pelo Palácio do Planalto.

Nessa nova configuração de forças, aumentam as chances da senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA), nova líder da bancada feminina no Senado, ser indicada para compor a chapa majoritária na vaga de vice de Doria.

Ao Valor, Eliziane comemorou a opção do Cidadania pelo casamento com os tucanos: “A federação com o PSDB é um grande passo para a construção de uma grande frente democrática, que possa quebrar a polarização entre o presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva”.

A senadora acrescentou que será preciso “juntar mais partidos nessa federação”, para ser possível unificar o campo da terceira via. Em paralelo, o PSDB também busca atrair o União Brasil e o MDB para a federação.

Antes da confirmação da federação entre PSDB e Cidadania, o diálogo entre Doria e Eliziane já estava avançado. Há cerca de duas semanas, ela foi recebida pelo governador no Palácio dos Bandeirantes, e até acompanhou uma reunião do secretariado paulista.

O que a mídia pensa: Editoriais / Opiniões

EDITORIAIS

Criatividade ajuda a elevar índices de vacinação infantil

O Globo

Diante da omissão do Ministério da Saúde e de decisões obscuras que só servem para boicotar a campanha de vacinação infantil, governos locais, profissionais de saúde e instituições assumiram o protagonismo necessário para imunizar 20 milhões de crianças de 5 a 11 anos o mais rápido possível. São louváveis as iniciativas em andamento nos mais diversos cantos do país para aumentar os índices de cobertura — um mês depois de iniciada a aplicação das doses para essa faixa etária, menos de um terço das crianças foi vacinado.

É um alento ver a criatividade ocupar o lugar do obscurantismo. Num posto de Goiânia (GO), profissionais na linha de frente da imunização se vestiram de super-heróis para atrair a atenção das crianças e tornar menos tenso o momento da picada. Viraram heróis de verdade: a iniciativa aumentou a frequência de 60 para cerca de 150 por dia, como mostrou o jornal “Hoje”. Inúmeras cidades pelo país passaram a emitir “certificados de coragem” aos pequenos que estendem o braço à agulha. Outras distribuíram brindes. Em Belo Horizonte (MG), locais de vacinação se tornaram playgrounds. Um centro de saúde de Aquidauana (MS) emprestou óculos de realidade virtual para distrair os pequenos.