quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

Jairo Nicolau*: O efeito inesperado da federação partidária

O Globo

A federação partidária é a mais badalada alteração da legislação eleitoral que passará a vigorar em 2022. Pela nova regra, dois ou mais partidos federados são obrigados a funcionar como uma organização única por quatro anos. Isso significa que disputarão juntos as eleições deste ano e as municipais de 2024 e que terão uma bancada única no Congresso e nas Câmaras Municipais de todo o país.

Até onde eu saiba, a federação partidária é uma invenção brasileira. Em todas as democracias, as legendas se aliam para disputar uma eleição ou dar sustentação a um governo. Ocasionalmente, partidos próximos no espectro ideológico se fundem e viram uma nova organização. O Brasil inventou a fusão envergonhada: um casamento partidário com respaldo para acabar depois de quatro anos.

Não é fácil fazer uma federação. Os partidos brasileiros têm uma grande autonomia estadual e municipal. Em muitos casos, seus parceiros preferenciais (e adversários) nos estados e municípios não são os mesmos da política nacional.

Em que pese o grande destaque que a discussão em torno de formação de federações partidárias tem recebido, a mais importante mudança da legislação eleitoral que entrará em vigor em 2022 é o fim das coligações nas eleições para deputado federal e estadual.

Vera Magalhães: O pior já passou para Bolsonaro?

O Globo

Foi sutil, embora nada trivial, a mudança de rota empreendida no governo e na campanha de Jair Bolsonaro desde o fim do ano passado. Operada de forma engenhosa pelo Centrão, que domou o voluntarismo do presidente e dos filhos, conseguindo até que eles colaborassem com o plano. O resultado parece ser ter estancado a queda livre do capitão. Saber se o pior momento para ele foi definitivamente superado, no entanto, dependerá de alguns fatores.

Os pragmáticos de plantão conseguiram fazer Bolsonaro parar de vociferar todos os dias contra a vacinação de crianças para Covid-19. Ficou evidente, por pesquisas, que a forma desarrazoada com que ele investiu contra a imunização dessa faixa no momento em que a Ômicron avançava, e as famílias estavam aflitas sem poder proteger os pequenos, poderia representar os pregos em seu caixão reeleitoral.

Tirar o presidente (e até Marcelo Queiroga, que seguia cegamente a cartilha do chefe) de cena naquele episódio foi essencial para estancar a sangria.

Bernardo Mello Franco: O desespero da terceira via

O Globo

O fracasso está subindo à cabeça da chamada terceira via. Seus candidatos comem poeira nas pesquisas, mas insistem em se vender como salvadores da pátria. Sem modéstia, sugerem que o país vai acabar se eles não forem ungidos ao poder.

Ontem dois presidenciáveis voltaram a apostar no discurso apocalíptico. Em seminário promovido pelo banco BTG Pactual, João Doria previu uma fuga de empresários caso Lula e Jair Bolsonaro passem ao segundo turno.

“O risco de vocês começarem a pensar em não permanecer no Brasil será enorme. Será que é isso o que a gente quer?”, questionou. Um ouvinte distraído poderia confundi-lo com Mario Amato, o industrial que projetou a debandada de 800 mil empresários se Lula vencesse Fernando Collor em 1989.

Raphael Di Cunto: O nome que a terceira via agora trabalha

Valor Econômico

Estratégia é rifar Doria depois de abril e focar nos Estados

A bola da vez na “terceira via” é a senadora Simone Tebet (MDB-MS). Mulher, preparada, com posições firmes, discurso afiado, sem escândalos no currículo e, principalmente, com baixa rejeição, ela é o nome que passou a ser visto por dirigentes de partidos de centro-direita como alternativa ao ex-juiz Sergio Moro (Podemos), rejeitado pela classe política, a Ciro Gomes (muito à esquerda, no PDT) e ao governador João Doria (PSDB) - que, se não chega a ser rejeitado por eles, tampouco desperta simpatias.

Atente-se, aqui, que a expectativa desses dirigentes não é de vitória. Todos creem que a Presidência será ocupada por Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ou Jair Bolsonaro (PL) em 2023. A polarização estaria consolidada e vários deles citam que quase 60% dos eleitores respondem nas pesquisas espontâneas que já escolheram votar em um dos dois. Isso antes mesmo de serem informados sobre quem são os candidatos, o que aponta grau maior de convicção na escolha, e que é algo inédito tantos meses antes da eleição.

Luiz Carlos Azedo: Doria está derretendo e pode disputar reeleição em São Paulo

Correio Braziliense

Quem está com o mico na mão é o Cidadania, que aprovou a federação com o PSDB por apenas um voto, mesmo sabendo que Doria estava se inviabilizando

Num encontro promovido pelo banco BTG Pactual para operadores do mercado financeiro, ontem, o governador de São Paulo, João Doria, pela primeira vez, admitiu que pode desistir de concorrer à Presidência da República, em razão da alta rejeição e do fraco desempenho nas pesquisas. “Não vou colocar o meu projeto pessoal à frente daquilo que sempre foi a índole. Se chegar lá adiante e, lá adiante, eu tiver de oferecer o meu apoio para que o Brasil não tenha mais essa triste dicotomia do pesadelo de ter Lula e Bolsonaro, eu estarei ao lado daquele ou de quantos forem os que serão capacitados para oferecer uma condição melhor para o Brasil”, disse.

Elio Gaspari: A carta chinesa virou um mico

Folha de S. Paulo / O Globo

Há 50 anos, Richard Nixon descia em Pequim

Há meio século, o presidente americano Richard Nixon desembarcou em Pequim, coroando uma espetacular reaproximação com a China. Teve de tudo: uma viagem secreta de Henry Kissinger, seu assistente para assuntos de segurança nacional, e convites a equipes de pingue-pongue.

Nixon foi recebido por Mao Tsé-Tung, o Grande Timoneiro da Revolução Chinesa. A fotografia do encontro correu o mundo. Poucos sabiam que Mao estava chumbado, com dificuldade para falar e respirar. (Na sala ao lado, guardava um respirador portátil mandado por Kissinger.)

Vinicius Torres Freire: A guerra de Putin e Brasil

Folha de S. Paulo

Rússia pode ter meios de bancar sanções e prolongamento da crise na Ucrânia

As retaliações do "Ocidente" contra a Rússia divulgadas até agora não devem tirar o sono do Vladimir Putin, que talvez nem durma. Quem sabe seja um Vampiro Highlander movido a venenos energéticos da defunta, mas viva, KGB.

Além da piada, e daí? Se Putin pode aguentar as sanções, pode ainda por muito tempo comer a Ucrânia pelas bordas e, assim, manter o salseiro na política e na finança do "Ocidente".

Se por mais não fosse, isso nos interessa, habitantes do extremo ocidente, periferia do mundo, do Brasil. Para contínua e quase geral surpresa, o real e a Bolsa continuam a se valorizar, a subir dos buracos profundos onde a epidemia, a dívida e Jair Bolsonaro haviam jogado os preços dos ativos financeiros do país.

Bruno Boghossian: A polícia faz política

Folha de S. Paulo

Protesto contra governador em MG reacende alerta de politização das forças de segurança

O país parece ter se acostumado a ver policiais fazendo política dentro e fora dos quartéis. No início da semana, agentes em Minas Gerais organizaram um protesto contra o governador Romeu Zema para cobrar um aumento salarial anunciado no início do mandato. As entidades que representam as categorias ameaçam fazer uma paralisação.

A tranquilidade com que os agentes foram às ruas reflete um lento processo de desestabilização das forças de segurança em muitos estados. Zema cometeu uma barbeiragem ao prometer um reajuste que não teria como pagar, mas a lei proíbe greves de policiais porque é preciso proteger até o governante mais inábil da pressão de homens armados.

Fábio Alves: A polêmica da meta

O Estado de S. Paulo

Muitos analistas acreditam que, como meta de longo prazo, 3% de inflação ainda é plausível

Numa das já tradicionais reuniões trimestrais de economistas do mercado financeiro com diretores do Banco Central, na semana passada, foi levantado o temor de que, se eleito, o eventual governo do ex-presidente Lula, a partir de 2023, iria revogar, entre outros pontos da agenda econômica, a meta de inflação de 3%, estabelecida para 2024.

A meta para 2025 deverá ser fixada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) em junho. E já se fala que a meta ficará novamente em 3%, patamar que sempre foi almejado por autoridades de governos anteriores para convergir com o objetivo perseguido por vários países emergentes.

O debate entre analistas do mercado é de que, no Brasil, até o teto da meta foi estourado em 2021 e muito provavelmente o será também em 2022. Em 2021, a inflação foi de 10,06%, enquanto o teto da meta era de 5,25%. Já neste ano, a projeção do mercado é de uma inflação de 5,56%, acima do limite superior de 5,0%.

Roberto DaMatta: A vida em caixas de papelão

O Estado de S. Paulo

O transitório nos faz ser o que somos, pois sem ele seríamos todos tediosa e perigosamente iguais

Um dos meus professores me disse que sua vida profissional cabia em caixas de papelão. “Em 42 caixas, para ser preciso!”, afirmou, irônico.

Não entendi bem o “Mestre” pois, aos 20 anos, como eu ia entender um cara com suas 80 e tantas primaveras?

“Como 42 caixas?”, repliquei agastado co moque tomava co mouma auto desvalorização. “O senhor tem uma bela carreira e seus livros são importantes. Sua trajetória é impecável.”

“Você não entendeu. Falo de uma vida encaixotada que vai para um depósito para ser, dizem, pesquisada, mas que será esquecida como ocorre com todas as vidas. Roída por traças, como diria um duro Machado de Assis que, por sinal, não foi esquecido...”

O que a mídia pensa: Editoriais / Opiniões

EDITORIAIS

Invasão redesenha mapa geopolítico do Pós-Guerra Fria

O Globo

A entrada de tropas russas em território ucraniano, depois do discurso agressivo em que Vladimir Putin contestou a própria existência da Ucrânia como país independente da Rússia, pôs em marcha um conflito de desdobramentos ainda imprevisíveis no curto prazo. Já houve escalada da mera diplomacia ao endurecimento de sanções, por parte tanto dos americanos quanto dos europeus. A Alemanha suspendeu a licença para um novo gasoduto que traria energia russa à Europa Ocidental.

Analistas se debruçam agora sobre cenários de invasão que vão desde a anexação das duas províncias ucranianas de maioria étnica russa — que a Rússia reconheceu como independentes — até a ocupação de toda a Ucrânia, com ataques aéreos e o avanço dos 190 mil soldados mobilizados por Putin. Independentemente do dano que qualquer conflito venha a causar à região e do choque inevitável na economia global — cujo primeiro sinal é a nova alta na cotação do petróleo —, estão no médio e longo prazos as consequências mais preocupantes.