segunda-feira, 11 de abril de 2022

José Eduardo Faria: O Festival e a Consciência política dos jovens

Horizontes Democráticos

A confusão armada pelo presidente Jair Bolsonaro e sua turma por causa dos protestos ocorridos no Lollapalooza Brasil, um festival de música alternativa, deu a dimensão do receio que eles têm das novas gerações. O que mais os preocupou não foi o que aconteceu no primeiro dia do evento, quando a cantora Pabllo Vittar ergueu uma bandeira em favor do ex-presidente Lula, pré-candidato na eleição de outubro, deflagrando com isso uma onda de xingamentos do público jovem contra o inquilino do Palácio do Planalto.

Foi, isto sim, o que aconteceu no segundo dia, quando o cantor Emicida aproveitou o momento para promover a campanha pelo voto jovem, incentivando adolescentes a tirarem seu título de eleitor para votarem contra Bolsonaro, com o objetivo de impedir sua reeleição. Após o protesto do primeiro dia, um partido bolsonarista recorreu ao Tribunal Superior Eleitoral, alegando que o ato de Vittar era ilegal, por configurar campanha eleitoral antecipada. Como um ministro da corte acolheu o recurso, tomando uma decisão desastrosa e inconstitucional, a ponto de impor uma descabida censura à liberdade de expressão, o caso teve uma enorme repercussão negativa em todo o País. Foi justamente por isso que a fala de Emicida causou enorme impacto junto ao público jovem, deixando o bolsonarismo apavorado com o risco de adolescentes correrem para tirar seu título de eleitor.

Ainda que tosco e ignaro, o presidente da República, que sempre desqualificou a juventude brasileira por considerá-la simpatizante de ideias “marxistas”, passou recibo. Ao perceber o quanto o voto dos adolescentes que pediriam ao TSE a emissão de seus títulos de eleitor poderia dificultar sua reeleição, ele exigiu do partido que o apoiava que voltasse atrás e desistisse o mais rapidamente possível da ação. Se as grandes ansiedades dominam os espíritos, qual é o motivo que leva as novas gerações a terem horror a um dirigente que despreza seus anseios, que faz pouco caso de seus valores e que tenta reiteradamente desqualificá-las?

Marcus André Melo*: O ciclo da popularidade

Folha de S. Paulo

É temerário atribuir a recuperação de Bolsonaro à recente movimentação pública bizarra de Lula

A recuperação da popularidade de Bolsonaro deve-se a vários fatores, mas do ponto de vista do conhecimento acumulado da ciência política sobre o assunto, ela já seria em larga medida esperada. O ciclo da popularidade presidencial é conhecido: lua de mel no início do mandato; seguida de declínio nas taxas de aprovação; e finalmente elevação seis meses antes das novas eleições.

Identificado de forma rigorosa há pelo menos 50 anos para os EUA, só recentemente o padrão foi analisado para a América Latina. Carlyn e coautores (2018) utilizaram informação trimestral oriunda de 346 pesquisas de opinião e dados para 140 presidentes, de 1980 a 2014. O modelo de séries temporais controla pela taxa de crescimento do PIB e inflação, fatores que também afetam a popularidade presidencial.

O padrão é válido e ainda mais pronunciado na região do que nos EUA; no período de lua de mel, na média, a popularidade é 6,5% superior à linha de base, enquanto no último semestre do mandato é 5% menor. O padrão em Chile, Costa Rica, Panamá e Argentina é muito similar ao dos EUA. No Brasil ele também foi identificado com pequenas variações: de Sarney a Dilma, a popularidade presidencial sobe no último semestre antes das eleições (salvo o governo de FHC 2), o que também ocorreu com o governo Lula 2.

Celso Rocha de Barros: Lula com Alckmin, Bolsonaro com Ustra

Folha de S. Paulo

Líderes nas pesquisas, candidatos mostram suas diferenças

Nos últimos 15 dias, os dois candidatos que lideram as pesquisas eleitorais deixaram claro suas diferenças.

Em um movimento em direção ao centro, Luiz Inácio Lula da Silva anunciou que quer como seu companheiro de chapa Geraldo Alckmin, outro constituinte de 1988, superando uma disputa política de 20 anos.

Por sua vez, Bolsonaro lançou-se candidato elogiando o torturador Brilhante Ustra. Seus apoiadores celebraram o aniversário do golpe de 1964 e Eduardo Bolsonaro fez piada com a tortura de uma jornalista.

A turma de Lula tirou dezenas de milhões de brasileiros da miséria e colocou alguns milhões de pobres e negros na universidade.

A turma de Alckmin derrotou a hiperinflação que paralisou o Brasil por 15 anos e regulamentou os medicamentos genéricos.

A turma de Bolsonaro deixou morrer centenas de milhares de brasileiros sem vacina e sem uma única palavra de consolo do presidente. Montou um esquema de orçamento paralelo de R$ 16 bilhões. Ameaça diariamente a democracia. Para eles, a eleição é um plebiscito sobre o golpe.

Bruno Carazza*: Lula pesca no seu próprio aquário

Valor Econômico

Movimentos do ex-presidente estão presos à sua bolha

Lula defende união das centrais sindicais em evento na CUT. Lula participa de debate com ex-presidente do Parlamento Europeu. Lula discute revisão da reforma trabalhista com ministra da Espanha. Em discurso no Encontro Internacional Democracia e Liberdade, Lula diz que é preciso derrotar a fome. Em reunião com petroleiros no Rio, Lula diz que a defesa da Petrobras deve ser uma briga de todos os brasileiros. Lula marca presença no “Festival Vermelho”, comemoração dos 100 anos do PCdoB. Ao lado de Guilherme Boulos, Lula visita condomínios construídos pelo MTST com recursos do Minha Casa, Minha Vida.

Todas as chamadas acima foram extraídas, com algumas adaptações de redação, das notícias relativas ao ex-presidente Luiz Inácio da Silva publicadas nas duas últimas semanas na página do Partido dos Trabalhadores na internet.

Entre os eventos partidários, Lula esteve na Bahia para lançar Jerônimo Rodrigues, secretário estadual de Educação, como candidato do PT ao governo da Bahia, e celebrou a indicação do ex-tucano Geraldo Alckmin (PSB) como vice em sua chapa.

Muito se falou sobre a parceria entre Lula e seu ex-rival nas eleições de 2006 como sinal da disposição do candidato do PT a formar uma frente ampla de políticos de diversos matizes ideológicos, da extrema esquerda à centro-direita, para tirar, nas urnas, Bolsonaro do Palácio do Planalto em primeiro de janeiro de 2023.

Alex Ribeiro: Inflação maior e juros altos por mais tempo

Valor Econômico

Em reação a novas surpresas negativas, como o IPCA de março, os analistas econômicos estão elevando projeções de inflação de 2023 para 4% ou mais

O recado do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, de que pretende parar de subir os juros em junho está levando o mercado a rever as suas apostas para a inflação e juros. Em reação a novas surpresas negativas, como o Índice de Preços ao Consumidor (IPCA) de março, os analistas econômicos estão elevando projeções de inflação de 2023 para 4% ou mais. Também estão prevendo que será preciso manter os juros altos por mais tempo no próximo ano.

O IPCA de março, divulgado na sexta-feira, ficou em 1,62%, acima das previsões mais pessimistas. Uma boa parte dessa alta está ligada ao reajuste feito pela Petrobras na gasolina e, em tese, não deveria assustar tanto. O próprio Campos Neto chamou a atenção, recentemente, sobre como o repasse da alta de preços pela empresa está chegando mais rápido aos postos de combustíveis. Se o índice fica maior agora, pode ficar menor mais adiante, pois as diferenças acabam por se compensar ao longo do tempo.

Michel Temer*: Pacificação, programa de governo e o voto contra

O Estado de S. Paulo

É impertinente e inadequado dizer-se de esquerda, direita ou centro. Vale o ‘resultado’ das políticas públicas.

Este artigo tratará de obviedades, mas é interessante notar como elas devem ser relembradas. Serão pontos que chamam a atenção.

Primeiro ponto: o eleitor acostumou-se ao voto “contra”. Vota a favor para estar “contra” a outra candidatura. Não vejo voto a favor de um projeto. Aliás, não há projetos. Tornou-se tudo muito personalizado. Voto em “a” ou em “b”. E só. É claro que não falo das propostas do tipo “sou a favor da educação”; “tenho preocupação com a saúde”. Falo de propostas concretas do tipo “estou fazendo estudo para abrir milhões de vagas do ensino em tempo integral”; “estudos para construção de dezenas de hospitais para atender aos vulneráveis”. Em Segurança Pública, “restabelecer o ministério para coordenar o combate à insegurança em todo o País”. São exemplos de propostas concretas que o eleitor conhecerá e perguntará: quem é o autor deste projeto? Voto nele, projeto, representado pelo candidato “x”. Este fato eleva o debate político no País.

Outro ponto é o da pacificação nacional. Temo ser repetitivo neste tema, mas o objetivo deve ser permanentemente relembrado. Até porque essa é a determinação constitucional.

Denis Lerrer Rosenfield*: A força do Ocidente

O Estado de S. Paulo

Para certos ideólogos conservadores, a Europa ocidental – e a oriental dela dependente ou associada – seria incapaz de responder a uma invasão russa.

Tornou-se um ponto comum de certo pensamento conservador considerar o Ocidente como decadente. Estaríamos no fim de um tipo de civilização, que se esgotaria no niilismo, na autossatisfação e no egoísmo, resultantes do abandono dos valores tradicionais e religiosos. Tal pensamento terminou se desenvolvendo de uma forma política e ideologicamente marcante na Rússia, baseando-se em sua própria história e tradição e, em particular, na Igreja Ortodoxa. Para esses ideólogos, estaria aí o alvorecer de uma nova civilização, superior à ocidental, devendo, porém, ainda enfrentar o poderio econômico e militar americano, aliando-se a outros Estados, como o chinês e o islâmico, culturalmente diferenciados e alternativos.

Mais especificamente, a Europa ocidental – e a oriental dela dependente ou associada – seria incapaz de responder a uma invasão russa, por estar imersa no hedonismo, no individualismo, na liberdade de escolha e no questionamento dos valores. Estados democráticos fundados e organizados em torno da ideia de bem-estar social tornam-se inaptos para a guerra, não abraçam o patriotismo, cedendo para conservarem o seu status quo. O indivíduo impera sobre tudo, com o consequente abandono das formas de vida comunitária, não sabendo resistir a pressões externas. Sempre procurarão a acomodação e a negociação diplomática, contanto que o seu bem-estar não seja prejudicado.

Mirtes Cordeiro*: O Brasil de frente para as eleições

É urgente que as escolas sejam capacitadas e tenham as condições de apoiar seus alunos na condição de estresse, ansiedade e violência, além do processo de aprendizagem. Isso é possível e necessário.

Somos um país em crise desde a colonização, não praticamos a democracia por um extenso período e custou muito para os democratas a resistência à ditadura militar para construirmos o que chamamos de redemocratização do país.  Mesmo com a eleição de 2018, elegendo um presidente comprometido com posturas ditatoriais, não podemos agora jogar fora o esforço realizado para se conseguir viver numa sociedade igualitária.

O meu país parece ser realmente um mundo à parte do mundo, pelo menos na cabeça de muitas pessoas.

Segundo Darcy Ribeiro, após escrever o seu livro O Povo Brasileiro: a formação e o sentido do Brasil, “a coisa mais importante para os brasileiros (…) é inventar o Brasil que nós queremos. “(in documentário)

Tudo acontece com muita lentidão e geralmente decisões sobre questões fundamentais são tomadas sem planejamento, ficando a depender do humor e interesse particular dos governantes ou autoridades de plantão.

Desde sempre, estudos lotam as prateleiras indicando que o país cresce em população, mas com indicadores bem definidos sobre a infraestrutura deficitária, ausência de saneamento básico, avanço da desigualdade social gerando fome e miséria, baixo índice de aprendizagem das crianças, transporte chamado público muito precário, pessoas morando nas ruas e esperando por ajuda e solidariedade que geralmente vem de outros pobres que ainda conseguem sobreviver com algum tipo de renda.

Fernando Gabeira: O que restou do nosso amor?

O Globo

Não costumo escrever sobre futebol nem discutir política no Flamengo, onde nado há quase 30 anos. Às vezes, no passado, um petista questionava minhas posições. E eu dizia: “Vamos nadar, a água está ótima”. Depois veio um bolsonarista, com ácidas críticas a meu trabalho na TV. E eu dizia: “Vamos nadar, a água está ótima”.

Excepcionalmente, escrevi um artigo sobre o Flamengo e o Brasil. O futebol do clube avançou muito em 2019, derrubando vários mitos. Afirmei que era um exemplo para o Brasil, cujo crescimento era curto e irregular, um voo de galinha.

Hoje bato na boca. A estrutura profissional montada pela equipe europeia de Jorge Jesus foi embora. E a galinha pousou. Os cargos foram substituídos por critérios políticos e de amizade. Como na canção: É necessário uma viração pro Nestor/Que está vivendo em grande dificuldade.

Na nova temporada, os jogadores voltaram mais gordos das férias. Perderam o impulso do atleta de ponta de se superar a cada jogo.

O diretor de futebol resolveu se candidatar a vereador. Não percebeu que, ao acumular cargos, enganaria seus eleitores ou a torcida, talvez ambos.

O salto alto com que entravam em campo foi se desgastando com o tempo, hoje mal se arrastam.

Como se não bastasse, o presidente do clube se tomou de amores pelo bolsonarismo. Ao odor da decadência, fundiu-se o cheiro forte de uma visão política que não carrega embrulho nem fala com pobre, alheia ao torcedor que gasta parte de seu salário para ir ao Maracanã e perder parte da noite na volta para casa.

Miguel de Almeida: Reeleição, herança maldita

O Globo

Quentin Tarantino chocou multidões ao interferir na história e executar Adolf Hitler em “Bastardos inglórios”. A narrativa vinha numa toada de cinebiografia, espionagem clássica, quando de repente o diretor praticou vingança catártica ao perpetrar um bem-sucedido (imaginário) atentado.

Pode-se dizer que não foi um assassinato, mas um justiçamento.

Causou estranheza. Mas, claro, mesmo em discordância com a linha histórica, difícil quem não tenha internamente sorrido ao ver o déspota crivado por balas.

A arte existe porque a vida não basta, dizia categoricamente Ferreira Gullar. A imaginação serve assim como um bálsamo ou um discreto regozijo diante da ingrata realidade.

Tratando-se da realidade política brasileira, chame-a pela alcunha correta —rematada tragédia, com lances de humor mórbido.

Ao olhar a História, não tão distante, apenas a republicana basta, se percebe como os capítulos são escritos com poucos avanços e funestos atrasos. O roteirista da “Comédia Brasil”, talvez por ser mal pago, oferece desfechos canhestros, inverossímeis em sua canastrice.

No passado recente se esconde a resposta à dúvida — em que momento começou a danação?

Até hoje se pergunta por que Fernando Henrique Cardoso, mesmo avisado por gente séria como Mário Covas, insistiu em bancar o instituto da reeleição. Ali talvez estivesse a salvação de um povo tão deixado à margem. FH não teria sido reeleito; idem Lula; e, principalmente, Dilma estaria condenada a não ser nada além de Rousseff — no caso, isso já é lucro. Imagine quantos dissabores sua ausência teria provocado no Bozo e em Eduardo Cunha.

Ambos, sem Dilma, são como um Bozo sem Lula, em 2018 —ou, 2022, um Lula sem Bozo: a morte da imaginação.

Covas insistia que o Brasil não tinha tradição — educação? —para suportar a reeleição. Você olha o passado e descobre quantos problemas não teriam ocorrido caso seu alerta fosse ouvido.

Irapuã Santana: Unidade do Direito

O Globo

Todo mundo já ouviu uma história de duas pessoas que procuram o Judiciário com demandas idênticas, mas recebem resultados diametralmente distintos: uma ganha, e a outra perde.

Isso ilustra a insegurança jurídica no nosso país. Segundo o World Justice Project: Rule of Law Index 2021, a Justiça Civil do Brasil ocupa a 75ª posição na classificação, entre 139 países. O Brasil ficou em último lugar no ranking de Segurança Jurídica, Burocracia e Relações de Trabalho, segundo o relatório Competitividade Brasil 2017-2018, passando para antepenúltimo na edição de 2019-2020.

A fim de entender por que o quadro brasileiro se apresenta dessa maneira, é importante nos valermos da Análise Econômica do Direito, que, como ensina o professor da FGV-SP Luciano Timm, é o método científico em que se verifica a realidade comportamental e sua descrição empírica, passando a fazer julgamentos propositivos e/ou interpretativos.

Joaquim Ferreira dos Santos: Fecha não uma livraria, mas o bairro

O Globo

Gentrificação, o enobrecimento de uma área da cidade, é palavra horrível para se começar uma crônica e me lembra o verso do Ferreira Gullar, aquele do “Introduzo na poesia a palavra diarreia”. Ela está sendo introduzida na crônica de costumes porque o Rio sofre a gentrificação pelo avesso. Não é mais o enobrecimento, mas o empobrecimento da alma dos bairros. Eles estão ficando todos iguais.

Hoje, ao fim do dia, quando a Livraria Galileu cerrar suas portas, Ipanema, sempre valorizada como ícone mundial da boemia intelectual, restará com apenas uma livraria e um sebo. Junte-se a isso os teatros fechados, os cinemas idem e as galerias de arte, coitadas, essas então, nem se fala. Ipanema dá mais um passo para virar uma imensa Copacabana.

A Galileu era sem charme, sem livreiros especializados e sem gatos coreografando delicadeza pelos cantos – mas era uma livraria. Lembrava glórias do ramo local, como a Dazibao, a Muro, a Carlitos, a Francisco Alves e a Letras&Expressões. Ronronava uma brisa da boa civilidade carioca no trecho que vai da Joana Angélica, no centro do bairro, até sua fronteira ao norte, na esquina de Gomes Carneiro com Francisco Sá.

Esses quarteirões formam um corredor de redes de farmácias, agências bancárias, supermercados, academias de ginástica, lojas de inconveniências, tudo cada vez mais com a mesma cara de todos os outros bairros e principalmente do vizinho, a ex-princesinha do mar. Depois de inventar o Rio moderno nos anos 1950, de ser um bom lugar para encontrar, para passear, Copacabana perdeu a bossa das idiossincrasias avançadas e agora, vingativa, exporta a maldição para além do Posto 6. Ai de ti, Ipanema!

O que a mídia pensa: Editoriais / Opiniões

EDITORIAIS

TSE precisará ser ágil para vigiar as milícias digitais

O Globo

 Não houve, nestes 34 anos desde a promulgação da Constituição de 1988, uma eleição sequer em que um candidato tenha disputado o Planalto atacando o próprio sistema eleitoral e o Judiciário. Às ameaças recorrentes feitas pelo presidente Jair Bolsonaro, o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) têm respondido à altura, com pronunciamentos e medidas.

Houve também uma exitosa aproximação das plataformas digitais, que serviu para estabelecer procedimentos que evitem as campanhas de desinformação pelas redes sociais. Prova disso foi o desbaratamento recente de uma rede de disseminação de fake news sobre a Amazônia no Facebook e no Instagram.

Mas a proximidade da campanha eleitoral exigirá mais. O TSE terá de fazer um esforço redobrado para conter a enxurrada de fake news e evitar um pleito tumultuado. A missão se tornou ainda mais árdua, pois é pouquíssimo provável que o tribunal conte com os instrumentos jurídicos que resultariam da aprovação do PL das Fake News, cuja tramitação em regime de urgência foi rejeitada pela Câmara na semana passada.

O trabalho será duro e precisa começar logo, porque as milícias digitais estão sempre ativas, criando novas formas de alcançar seu público. Os alvos prediletos dos ataques promovidos por elas têm sido TSE, STF e seus ministros, como constatou a análise de 240 canais do YouTube e 900 perfis do Instagram, todos bolsonaristas, feita pela pesquisadora Leticia Capone, do Grupo de Pesquisa em Comunicação, Internet e Política, da PUC-Rio. As diatribes recentes de Bolsonaro contra os tribunais e as urnas funcionam como um apito que reúne e atiça essa matilha de milicianos digitais.

TSE, Ministério Público Eleitora