sexta-feira, 13 de maio de 2022

Vera Magalhães: Bolsonaro preso em seus embustes

O Globo

O teatrinho encenado entre Paulo Guedes e seu ex-subordinado e agora colega Adolfo Sachsida a respeito da disposição de privatizar a Petrobras é uma forma de entreter a claque para que não perceba o óbvio: Jair Bolsonaro ameaçou fazer, acontecer, demitiu dois presidentes da empresa e um ministro, e não será possível alterar a política de preços dos combustíveis. Não haverá privatização alguma, nem mesmo os passos iniciais para isso. Eles sabem, todos sabem.

Da mesma forma, os levantes dos funcionários do Banco Central, que chegaram a pressionar a Economia pelo reajuste de 22% para seus servidores, e dos agentes e delegados da Polícia Federal, que cobram em peças publicitárias que “Bolsonaro cumpra sua palavra” e dê o aumento que prometeu a eles, são consequências da forma leviana, despreparada e populista como o presidente age também nessa área, que resulta em tiro em seu próprio pé.

Prometer baixar o preço da gasolina, do diesel e do gás de cozinha na base da pressão sobre a Petrobras e acenar para servidores com reajustes com que o Tesouro não é capaz de arcar são só alguns dos embustes de Bolsonaro em matéria econômica. Dizem respeito a temas em que ele tem muito a perder por achar que fala o que quiser, sem conhecimento de causa, sem planejamento e sem se conscientizar de que há limites para a ação do Executivo, impostos seja pela lei, seja pelo mercado, seja pela responsabilidade fiscal.

De fato, a disparada do preço dos combustíveis, em razão de fatores diversos, torna a inflação galopante um problema para qualquer presidente incumbente que deseje se reeleger. Mas, em momento algum, o governo estruturou sequer um plano emergencial para dar subsídios ao preço, se fosse o caso, avaliando quanto isso custaria ao Tesouro e de onde viriam esses recursos.

Eliane Cantanhêde: Enquanto isso, no ‘porto seguro’...

O Estado de S. Paulo

Troca de canal: sai guerra ao TSE, entram demissão de militares e privatização da Petrobras

O presidente Jair Bolsonaro parou de crescer nas pesquisas e enfrenta rejeição alta, preço do diesel e da gasolina aumentando e inflação disparando. Como ele reage, entre uma motociata e outra? Atacando Supremo, TSE e urnas eletrônicas, dizendo que o lucro da Petrobras é um “estupro”, fritando ministros e presidentes da estatal em lives e lançando a ideia de privatização da mais importante e simbólica empresa brasileira.

Já demitiu o economista Roberto Castello Branco e o general Joaquim Silva e Luna e está indócil com o terceiro presidente da Petrobras, o químico industrial e ex-militar José Mauro Coelho. Mudam os nomes, não muda nada. Com perfis diferentes, os três concordam no principal: reprimir o preço dos combustíveis na marra é burrice, porque o efeito, bumerangue, seria contra o próprio interesse público.

Como derrubar os presidentes da Petrobras não funcionou, Bolsonaro subiu o tom e o status, demitindo o próprio ministro de Minas e Energia, almirante de esquadra Bento Albuquerque. E aí, vai mudar alguma coisa? Na prática, nada, mas o discurso já começou a entortar.

No primeiro pronunciamento, sem direito a perguntas, o novo ministro, Adolfo Sachsida, advogado com doutorado em Economia, só fez enrolar, distrair a plateia. Citou Deus, família e Bolsonaro, enalteceu a iniciativa privada e falou que o Brasil é um “porto seguro” para investimentos das “democracias ocidentais” – essas que, convenhamos, andam assustadas com o que ocorre por aqui.

E combustíveis? Inflação? Saídas possíveis? E a rede privada de gasodutos do “rei do gás”, com R$ 100 bilhões dos cofres públicos? Nenhuma palavra. Em vez disso, Sachsida, bolsonarista desde criancinha, aderiu às manobras diversionistas do chefe e lançou a privatização da Petrobras. Se a água está suja, joga o bebê fora. Mas, a cinco meses da eleição, a sete do fim do governo, qualquer bobinho sabe que é para enganar o bobo na casca do ovo.

Fernando Gabeira: Como se houvesse futuro

O Estado de S. Paulo

Um projeto brasileiro que estabeleça uma nova relação entre natureza e tecnologia pode ser a mensagem mais importante na nossa política externa.

A campanha eleitoral apenas começou, há um longo caminho pela frente e, possivelmente, será preciso uma batalha para defender sua legitimidade.

Num quadro ainda tão embrionário, parece lirismo pensar num caminho para o Brasil pós-2022. Não se trata de um programa, muito menos de um projeto de país, como muitos não cessam de cobrar. É pretensão tratar de ambos, sobretudo porque a ideia de projeto de país pode lembrar de algo que se formule numa prancheta, quando na verdade há diante de nós uma sociedade viva e complexa. Mas também não é proibido pensar um pouco adiante. Lembro-me do passado, quando as convenções partidárias analisavam teses. Hoje, isso parece um escândalo.

Um dos grandes problemas do Iluminismo foi o projeto radical moderno de subjugar a natureza, por meio da tecnologia, para os propósitos humanos. Esse projeto desembocou numa crise profunda, com a necessidade urgente de atenuar suas trágicas consequências, como o aquecimento global.

Da mesma forma que isso está em crise, também entrou em crise a concepção cristã sobre a superioridade ou privilégio dos humanos sobre todas as outras formas de vida.

O avanço tecnológico cego pressupunha, também, que todas as culturas convergissem para uma só visão. Um projeto para o futuro precisa alterar esses termos e, sobretudo, fundar a relação com a natureza em outra base, inclusive fortalecendo as culturas que já a veem de uma forma não destrutiva.

Depreende-se daí que as fontes de inspiração para o futuro são a sustentabilidade, no campo econômico, e a diversidade, no campo cultural.

Isso não significa desprezar a tecnologia. Ao contrário, a tecnologia de informação é outra dimensão do presente e do futuro que tem de estar no centro de um projeto, ou algo parecido, para o País.

Luiz Carlos Azedo: Bolsonaro perdeu o rumo e passa a improvisar

Correio Braziliense

O fim da pandemia não resultou num cenário favorável à reeleição de Bolsonaro, por causa do desemprego, da carestia de vida e da falta de oportunidades, sobretudo para os jovens

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é um candidato calejado e com sangue nos olhos, que se movimenta estrategicamente para voltar ao poder. Se as eleições fossem hoje, poderia até vencer no primeiro turno, conforme nos revelam as pesquisas. Bastaria que os votos do ex-ministro Ciro Gomes (PDT) fossem lipoaspirados pela polarização do petista com o presidente Jair Bolsonaro (PL), e que a chamada terceira via mantivesse a atual dispersão de forças.

As pesquisas mais recentes mostram que Bolsonaro continua com uma rejeição acima de 60% e não consegue ultrapassar os 30% de intenções de voto. Nos cenários de segundo turno, Lula venceria o presidente com uma vantagem em torno dos 20%. O desgaste de Bolsonaro no confronto com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e o Supremo Tribunal Federal (STF) barrou seu crescimento, somando-se à mitigação, pela inflação, dos efeitos do seu pacote de bondades econômicas e sociais junto aos eleitores de baixa renda.

Um parêntese para Nicolau Maquiavel, o fundador da ciência política moderna, que viveu o esplendor da República Florentina (fundada em 1115), durante o governo de Lorenzo de Médici (1449 1492): segundo seu texto mais lido pelos políticos, O Príncipe, que trata da conquista e da preservação do poder, os governantes que chegam ao poder mais pela sorte (Fortuna) do que por suas virtudes (Virtù) têm mais dificuldade para manter seus domínios quando mudam as circunstâncias.

Bolsonaro fez um longo percurso para chegar à Presidência, no qual construiu anos a fio uma base resiliente e combativa, formada por corporações e grupos de interesse com os quais se identifica: militares, policiais, agentes de segurança, milicianos, grileiros e madeireiros, além de ruralistas. Entretanto, isso não bastava, nem basta, agora, para vencer as eleições.

Em 2018, foi fundamental também o apoio das igrejas evangélicas, capturando o sentimento de preservação da família unicelular patriarcal ameaçada pela renovação dos costumes, e o apoio de setores reacionários e conservadores da classe média tradicional, insatisfeita com a insegurança e perda de poder aquisitivo. Um episódio imprevisto, de grande efeito catalisador, fez de Bolsonaro um candidato imbatível: a facada que levou em Juiz de Fora (MG), que neutralizou a rejeição que sofria e reforçou a narrativa messiânica salvacionista de sua campanha.

Dora Kramer: Só no salto alto

Revista Veja

Dianteira faz o PT repetir a lógica do venha a nós, e ao reino dos aliados acena muito pouco ou quase nada

Houve um tempo em que as forças do centro à esquerda nem discutiam sobre a conveniência de determinadas alianças se o plano era derrotar um inimigo comum. No caso, a ditadura. Um episódio emblemático e muito pouco lembrado aconteceu em 1978, quando Paulo Maluf ganhou a convenção da Arena derrotando Laudo Natel, indicado pelo general-­presidente Ernesto Geisel para governador biônico de São Paulo.

Hoje parece estranho, mas na época a vitória de Maluf foi festejada como uma derrota do regime militar. Foi nessa lógica que se construiu uma grande aliança para empurrar a ditadura ladeira abaixo nas batalhas da anistia e das Diretas Já. Foi por esse raciocínio que caciques da Arena, já então PDS, fundaram a Frente Liberal para se juntar à campanha de Tancredo Neves para derrotar, no Colégio Eleitoral de 1985, aquele mesmo Maluf de sete anos antes.

Só o PT não embarcou naquela onda e ainda tratou de expulsar os deputados do partido que votaram em Tancredo. Marcou posição, tentou marcar de novo em 1988 ao se recusar de início para depois aceitar assinar a nova Constituição.

Foi o único partido a não participar da ampla aliança em torno do governo Itamar Franco após o impeachment de Fernando Collor. A então deputada Luiza Erundina aceitou ser ministra da Administração, foi punida com suspensão de um ano e acabou trocando o PT pelo PSB.

José de Souza Martins*: 22 milhões de jovens poderão decidir as eleições de 2022

Valor Econômico / Eu & Fim de Semana

Novas gerações tendem a uma percepção mais acentuadamente crítica do que lhes seria o natural por origem e situação de classe social, o chamado conflito de gerações

O dia 5 de maio foi o do encerramento do prazo do alistamento para participar das ansiosamente esperadas eleições de 2022. O presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ministro Edson Fachin, anunciou com justificado júbilo que o Brasil ganhou 2.042.817 novos eleitores entre 16 e 18 anos de idade, que no dia 2 de outubro votarão pela primeira vez.

A acolhida desses novos cidadãos brasileiros à condição de combatentes cívicos da luta pela regeneração da combalida democracia brasileira me lembra outra manifestação, simbolicamente significativa, de acolhimento de outros novos cidadãos. A do Almirante Tamandaré (1807-1897), patrono da Marinha, herói da pátria, que, nas disposições de seu testamento, estabeleceu:

“Exijo que (...) meus restos mortais (...) sejam conduzidos de casa ao carro e deste à cova por meus irmãos em Jesus Cristo que hajam obtido o foro de cidadãos pela Lei de 13 de Maio. Isto prescrevo como prova de consideração a essa classe de cidadãos em reparação à falta de atenção que com eles se teve pelo que sofreram durante o estado de escravidão...”

Os dados estatísticos do eleitorado, divulgados pelo TSE, revelam que quase 22 milhões de eleitores, que poderão votar no dia 2 de outubro, são jovens entre 16 e 24 anos de idade. São os novos brasileiros da pós-modernidade.

As mulheres continuam sendo a maior parte do eleitorado. No total, elas passam de 77 milhões, e os homens estão chegando aos 70 milhões. Elas os ultrapassam em 7,5 milhões de eleitores. Um número que lhes permite influir nas decisões políticas em favor de seu legítimo e criativo entendimento do que devem ser as reivindicações sociais desta hora. Nas reuniões da CPI da Covid-19, as senadoras de diferentes partidos organizaram-se numa frente suprapartidária ativa, do tipo de ação política de que mais carece o país neste momento.

Claudia Safatle: Mais inflação, mais juros e menos crescimento

Valor Econômico

Nosso potencial de crescimento é baixo porque somos muito ineficientes

não compartilha do movimento que grandes bancos estão fazendo nas projeções de crescimento do país. Quem está aumentando os prognósticos do PIB para a faixa de 1% para este ano está reduzindo os de 2023, observa. “Continuo com 0,6% para este ano e 0,7% para o ano que vem e não pretendo mudar essas previsões tão cedo.” Silvia chama a atenção para um dado curioso: a economia voltou a crescer, mas trata-se de uma normalização das atividades no pós-pandemia. Não voltou para o nível de tendência de crescimento que havia antes da pandemia, de cerca de 1,4%.

“O país não consegue voltar à tendência de avanço pré-pandemia. Mesmo com dados melhores no curto prazo, devemos rever nosso PIB do primeiro trimestre para um valor acima de 0,4%. A normalização mais rápida da economia, porém, não altera a perspectiva para o ano como um todo”, observa.

Ela faz, também, um alerta de que, talvez, estejamos em uma fase da economia global que traga junto com a recuperação mais inflação de forma mais persistente. Durante um bom tempo a China exportou inflação baixa de bens industrializados. Agora, em cenário com conflitos e um processo contra a globalização, é um mundo em que talvez não se tenha mesmo inflação baixa de bens industrializados.

Humberto Saccomandi: Piora externa é desafio à reeleição de Bolsonaro

Valor Econômico

Choques simultâneos, tanto do lado da demanda quanto da oferta, podem dificultar as chances de reeleição de Bolsonaro

Como a economia global poderá influenciar a eleição presidencial deste ano no Brasil?

Atrás nas pesquisas, o presidente Jair Bolsonaro precisa de um bom desempenho da economia brasileira no restante do ano para manter as chances de reeleição em outubro. Mas justamente quando o cenário econômico interno dá sinais de melhora, o cenário externo começa a piorar mais acentuadamente. Assim, é improvável que a economia global vá favorecer o presidente na reta final da disputa eleitoral. Pode até prejudicá-lo.

A economia global enfrenta atualmente vários choques simultâneos. Há os efeitos ainda da pandemia de covid-19, a desaceleração na China, os problemas derivados da guerra na Ucrânia, a alta da inflação global e o movimento de elevação dos juros pelo mundo. Tudo isso gera fortes pressões negativas, tanto do lado da demanda como no da oferta.

O choque na demanda (que já é claro na China e que começa a se espalhar pela Europa, mas ainda não pelos EUA) enfraquece o crescimento. O choque na oferta, causado principalmente pelos problemas nas cadeias globais e pela guerra na Ucrânia, aumenta os preços globais de uma série de produtos, de chips de carros a commodities agrícolas e energéticas - ontem os EUA previram uma queda da produção global de trigo neste ano, o que fez o preço subir 6%.

Essa combinação de choque de demanda e choque de oferta é pouco comum e ameaça gerar o fenômeno conhecido como estagflação, quando ocorre ao mesmo tempo uma estagnação econômica e inflação alta. Normalmente, a inflação sobe quando a economia está aquecida e cai quando ela esfria.

Maria Cristina Fernandes: Explode a bomba-relógio da pandemia

Valor Econômico / Eu & Fim de Semana

Se a CPI foi o clímax do conflito político provocado pela incúria, corrupção e oportunismo, a tramitação do piso nacional dos enfermeiros mostrou o que acontece na ponta da linha quando os holofotes foram embora

 “Diferentemente do que pode passar nas manchetes, segundo as quais os hospitais da avenida Paulista crescem e estão na bolsa de valores, esta não é a realidade dos leitos dos hospitais privados.” O clínico-geral Breno de Figueiredo Monteiro apontou para uma religiosa sentada numa cadeira lateral da comissão, Irmã Nila, gestora de um hospital beneficente na cidade de Alanquer, a 695 quilômetros de Belém, e continuou seu relato: “Esse hospital, para sobreviver no dia de hoje, faz rifas em suas redes sociais, ganha do colono do interior saco de farinha, material de limpeza. É isso que os gestores dos hospitais filantrópicos fazem para manter abertas suas instituições; até enfeites de Natal fazem para sobreviver”.

Presidente da Confederação Nacional de Saúde, uma espécie de CNI do setor, Monteiro foi o primeiro a falar na única audiência pública realizada na Comissão de Seguridade Social da Câmara para discutir o piso nacional da enfermagem, aprovado na semana passada. Convidado na condição de representante dos patrões, recusou-se a criticar o piso: “Somos mais de 2 milhões, 614 mil trabalhadores na saúde privada (...) Somos maiores do que a construção civil e do que a agricultura. A enfermagem, que representa quase 50% da nossa força de trabalho, é a força motriz, é a coluna dorsal dos serviços de saúde”.

Se a covid-19 e os problemas dela resultantes para a saúde pública pudessem ser resumidos num único projeto, seria este. A CPI da Pandemia produziu o clímax do conflito político provocado pela incúria, corrupção e oportunismo, mas a tramitação deste projeto mostrou o que acontece na ponta da linha quando os holofotes vão embora.

Convergiram para este projeto os profissionais mais sacrificados do enfrentamento da covid-19, gestores hospitalares afogados em custos sob pressão da inflação, parlamentares de olho nos votos do setor e representantes do Ministério da Economia alarmados com o impacto fiscal. Depois de 20 anos de tramitação, o piso nacional valeu-se da comoção provocada pela pandemia para tentar sair do papel. Passou na Câmara e empacou no Senado, onde se buscam as fontes de financiamento.

O impacto desse piso de R$ 4.750 para enfermeiros, ficando técnicos e auxiliares com valores que variam de 50% a 70% desse parâmetro, fica entre R$ 18,2 bilhões e R$ 22,5 bilhões a depender da autoria dos cálculos - sendo o primeiro da Associação Brasileira dos Planos de Saúde e o segundo, do Ministério da Economia.

Bruno Boghossian: Lula e a agenda do 'não'

Folha de S. Paulo

Há um ponto comum nas declarações mais enfáticas do petista sobre seus planos na área

Há um ponto comum em algumas das declarações mais enfáticas de Lula sobre suas ideias para a economia. Nas últimas semanas, o petista repetiu que pretende reverter três medidas implementadas em governos recentes: o teto de gastos, a reforma trabalhista e as privatizações.

O ex-presidente tem feito um esforço para evitar qualquer anúncio detalhado sobre o programa de sua campanha. Há uma série de motivos para isso, desde a falta de consenso sobre vários tópicos até o receio de que o candidato fique exposto a críticas cedo demais. O que apareceu nos discursos segue uma linha mais política do que econômica.

Ao apresentar a ideia de desfazer medidas adotadas em governos pós-PT, o ex-presidente manda duas mensagens. Primeiro, tenta oferecer um contraponto à situação econômica atual, que ele vincula à agenda do governo Jair Bolsonaro. Além disso, busca mostrar o desenho do que seria um retorno a terrenos conhecidos —distantes das estripulias temidas por alguns investidores.

Lula disse na quarta-feira (11) que "não vai ter teto de gastos" em seu governo, caso seja eleito. Ele argumentou que a situação fiscal deve melhorar com o crescimento da economia, ainda que não tenha explicado se haverá um novo método de controle de despesas. A proposta de derrubar a regra era pedra cantada, mas passou a ser citada como destaque da plataforma petista.

Reinaldo Azevedo: Pestana quer vender a Petrobras

Folha de S. Paulo

Conversa sobre privatizações é papo-furado, com laivos demenciais

Vulgares. Mistificadores. Deslumbrados.

Essa é a caracterização da face benigna do governo Bolsonaro. A maligna está empenhada em arrumar caminhos para golpear a democracia. É impressionante que pessoas tão despreparadas e com tão pouco a dizer tenham conseguido chegar tão longe. A começar do mandatário. Mas os dias eram assim...

O pronunciamento de Adolfo Sachsida, novo ministro das Minas e Energia, na quarta, foi assombroso na sua bisonhice. Todos sabemos, sem que haja definição dicionarizada, o que é a tal "vergonha alheia".

Pessoas com os meridianos ajustados são capazes de empatia. Colocam-se no lugar do outro em momentos dramáticos, solidarizando-se com a sua dor. Mas não é raro que experimentem, vicariamente, também a sensação do ridículo, do patético, do constrangedor. E é frequente que sintam um alívio compungido: "Ainda bem que não é comigo!"

Vinicius Torres Freire: Mumunhas na privatização

Folha de S. Paulo

Após cinco anos de tentativas, Eletrobrás pode ser vendida em julho; Petrobras pode dar rolo

Quanto tempo pode levar um processo de privatização da Petrobras? O da Eletrobras começou em 2017, recomeçou em 2019 e ainda não acabou. O último passo legal pode ser dado na semana que vem. A venda ocorreria então em julho.

No caso da Eletrobras, entraram uns jabutis na lei de privatização, umas capitanias hereditárias, a obrigação de construir umas usinas termelétricas com benefícios e vícios privados e apropriações do bem público (eficiência inclusive). Obra do centrão.

A venda da Petrobras, mais complicada, pode ser oportunidade para mais mumunha. Quem sabe mamata do nível de oligarquia russa.

Exagero? Faz quatro anos, a gente não discutia golpe na fila do mercado, como hoje, como se comentasse previsão do tempo. Imagine-se o que pode fazer um autocrata aliado a parlamentares negocistas.

Bernardo Mello Franco: A cabeça de Sachsida

O Globo

Novo ministro imita Bolsonaro e estreia com factoide sobre Petrobras

O novo ministro de Minas e Energia pode não entender de combustíveis, mas domina a arte de produzir factoides. No primeiro dia no cargo, Adolfo Sachsida ignorou o debate sobre a alta da gasolina. Preferiu distrair a plateia com a promessa de vender a Petrobras.

Em pronunciamento para a TV, Sachsida anunciou que solicitará o “início dos estudos tendentes às alterações legislativas necessárias à desestatização da Petrobras”. Em seguida, informou que pedirá a “inclusão da PPSA no PND”. No dialeto da burocracia, isso significa que ele também gostaria de privatizar a estatal que cuida do pré-sal.

As duas propostas são puro teatro. Faltam menos de cinco meses para o primeiro turno das eleições. O governo não tem tempo nem condições políticas para vender a maior empresa brasileira, responsável por 4% do Produto Interno Bruto.

Flávia Oliveira: Sem direito à memória

O Globo

A Polícia Civil do Rio de Janeiro, às vésperas do 13 de Maio, destruiu o memorial que organizações sociais e famílias do Jacarezinho instalaram na comunidade no primeiro aniversário da maior chacina por intervenção de agentes da lei no estado. Como instrumento de demolição, usou o blindado conhecido como caveirão, recorrente nas incursões em favelas cariocas. Como justificativa, a acusação de apologia ao tráfico, sem respaldo de decisão judicial, necessária no Estado Democrático de Direito. Revitimizou os 27 civis mortos, tachados de traficantes; levou ao chão o nome do inspetor André Frias, morto em vão na operação contra aliciamento de menores e tráfico de drogas, nunca interrompidos; criminalizou associações comunitárias e defensores de direitos humanos envolvidos nos atos por justiça.

A Chacina do Jacarezinho deixou 28 mortos e caminha a passos largos para a impunidade. Já foram arquivados dez inquéritos relacionados a 24 vítimas; duas delas, segundo o próprio Ministério Público (MP-RJ), não tinham antecedentes criminais e foram alvejadas por acaso durante os confrontos. Dois casos foram denunciados à Justiça: num deles, dois policiais da Coordenadoria de Operações Especiais (Core) são réus pela morte de Omar Pereira da Silva; noutro, dois chefes do tráfico respondem pelo homicídio do policial André Frias. Na maioria dos casos, não foi possível cravar nem que houve execuções, como acusam moradores, nem disparos em legítima defesa, como alegam policiais.

Marcus Pestana critica polarização e declara apoio a qualquer nome da 3ª via

Candidato ao Governo de Minas pelo PSDB diz em sabatina Folha/UOL ser contra a mineração na Serra do Curral

Isac Godinho / Folha de S. Paulo

BELO HORIZONTE - O ex-deputado federal e pré-candidato ao Governo de Minas Gerais Marcus Pestana (PSDB) diz desaprovar a polarização política em Minas e no Brasil.

Em sua participação na sabatina da Folha e do UOL, nesta quinta-feira (12), Pestana fez críticas a Zema (Novo) e Kalil (PSD) no cenário mineiro, e também a Bolsonaro (PL) e Lula (PT).

Segundo ele, a motivação para a sua candidatura é a busca pelo fim da polarização em Minas. Pestana afirmou que o estado precisa de um governador que tenha experiência no campo político.

No cenário nacional, o ex-deputado declarou apoio a qualquer nome que represente a terceira via. Para ele, o bloco está atrasado na definição de um nome que represente o grupo e entre de fato no jogo eleitoral.

"Nós já estamos atrasados, esse nome tem que sair ainda em maio. O candidato da terceira via pode estar com 4%, respeitando Lula, Bolsonaro e Ciro Gomes, eu vou estar com o candidato da terceira via", afirmou.

Nas prévias do PSDB para a escolha do pré-candidato do partido a Presidência, Pestana foi um forte apoiador de Eduardo Leite. No entanto, segundo ele, não há nenhum constrangimento em subir no palanque de João Doria, caso ele seja escolhido para representar a terceira via nas eleições.

Apesar das críticas à polarização, Pestana disse não ser possível comparar Lula e Bolsonaro. Segundo ele, o atual presidente tem um viés autoritário, enquanto o ex-presidente é um democrata. Em críticas ao PT, o candidato apontou a falta de autocrítica em relação à corrupção e à política econômica.

Em relação a um possível apoio a Lula em eventual segundo turno, o candidato do PSDB preferiu não se posicionar.

"Segundo turno se discute no segundo turno. Opinar qual o seu voto enfraquece o candidato no primeiro turno. Tenho convicção que a população vai perceber que o caminho do centro é o caminho do futuro."

Pestana também afirmou ter receio da retórica e dos ataques feitos por Bolsonaro e seus apoiadores à urna eletrônica e ao processo eleitoral.

"A urna eletrônica é confiável. Tanto que elegeu um presidente centrista, como Fernando Henrique Cardoso, dois presidentes de esquerda, Lula e Dilma, e elegeu um presidente de direita [Bolsonaro]. Essa é a prova mais cabal da segurança do sistema da urna eletrônica."

Fachin: 'Quem trata de eleições são as forças desarmadas'.

Presidente do TSE diz que quem dá a palavra final sobre as eleições é a Justiça Eleitoral

Mariana Muniz / O Globo

BRASÍLIA — O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Edson Fachin, afirmou nesta quinta-feira que a Justiça Eleitoral está "aberta a ouvir, mas jamais se curvará a quem quer que seja" e disse que "quem trata de eleições são forças desarmadas". A declaração foi feita durante visita ao local onde a Corte promove uma nova rodada de testes públicos das urnas eletrônicas que serão utilizadas nas eleições deste ano.

— Quem trata de eleições são forças desarmadas, e, portanto, as eleições dizem respeito à população civil, que de maneira livre e consciente escolhe seus representes. Logo, diálogo sim, colaboração, sim, mas na Justiça Eleitoral quem dá a palavra final é a Justiça Eleitoral. E assim será durante a minha presidência. A Justiça Eleitoral está aberta a ouvir, mas jamais estará aberta a se dobrar a quem quer que seja [sic] tomar as rédeas do processo eleitoral —, afirmou o ministro, que falou ao lado dos outros seis ministros que integram o TSE.

Ao citar as "forças desarmadas", Fachin fez referência à participação nas Forças Armadas na preparação da disputa deste ano. Militares fazem parte da Comissão de Transparência Eleitoral (CTE), apresentando sugestões. Embora nunca tenha ocorrido um só caso comprovado de fraude nas urnas eletrônicas em mais de 20 anos de uso, o presidente Jair Bolsonaro tem utilizado questionamentos feitos pelos militares ao tribunal para lançar suspeitas, sem provas, acerca do processo eleitoral.

— Ninguém nem nada interferirá na Justiça Eleitoral. Não admitiremos qualquer circunstância que obste a manifestação da vontade soberana do povo brasileiro —, disse o presidente do TSE. 

Ao lado de Alexandre de Moraes, Ricardo Lewandowski, Mauro Campbell Marques, Benedito Gonçalves, Sérgio Banhos e Carlos Horbach, Fachin anunciou o início da última etapa do Teste Público de Segurança do Sistema Eletrônico de Votação, quando investigadores examinam e avaliam as soluções desenvolvidas pela equipe técnica da Corte. Também participou da visita o vice-procurador-geral Eleitoral, Paulo Gonet.

Ainda segundo Fachin, "quem vai ganhar as eleições" deste ano "é a democracia", garantindo que "isso certamente ocorrerá". Segundo o ministro, o TSE está aberto a contribuições, mas lembrou que a Corte é um tirbunal que opera com racionalidade técnica.

O que a mídia pensa: Editoriais / Opiniões

Editoriais

Urnas sem armas

Folha de S. Paulo

Enquanto Bolsonaro insiste em intimidações, Justiça Eleitoral reforça defesas

As autoridades responsáveis pela condução do processo eleitoral têm fortalecido suas defesas contra a desvairada ofensiva do presidente Jair Bolsonaro (PL) para tumultuar o pleito deste ano.

O Tribunal Superior Eleitoral deu resposta cabal aos múltiplos questionamentos apresentados pelas Forças Armadas na comissão criada para elevar a transparência do processo. Demonstrou-se que dúvidas tinham origem em cálculos equivocados, confusões conceituais e desinformação —indício, no mínimo, do despreparo.

Foi necessário que o TSE reafirmasse o óbvio no ofício em que respondeu aos generais, desfazendo a fantasia segundo a qual a totalização dos votos seria feita numa sala secreta do tribunal, disparate que Bolsonaro não cansa de propagar.

As urnas eletrônicas deram contribuição decisiva para garantir eleições limpas. Nunca se comprovou nenhuma fraude no sistema, e os dispositivos que reforçam sua segurança têm sido aprimorados.

O fracasso dos que sugerem o contrário é tão constrangedor que parece ter levado o ministro da Defesa, Paulo Sérgio Oliveira, que até outro dia agia como bateria auxiliar do presidente da República em suas investidas contra o TSE, a refletir melhor sobre o assunto.

Os presidentes da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), expressaram sua confiança no sistema e na capacidade da Justiça Eleitoral de conduzir o processo.

O único que teima em manifestar inconformismo é Bolsonaro. Em sua busca incessante por meios de tentar intimidar as instituições, nesta semana ele chegou a incitar os seguidores a se armar para reagir contra sabe-se lá o quê.