terça-feira, 14 de junho de 2022

Merval Pereira: Empatia seletiva

O Globo

O senso de empatia do presidente Bolsonaro somente se revela quando um dos seus é atingido, como quando tomou um avião para ir ao Rio para o enterro de um paraquedista ou quando, por meio das redes sociais, lamentou a morte de Marília Mendonça, a rainha do feminejo, a música sertaneja por mulheres, ou do MC Reaça, assassinado. As mortes dos ícones da música brasileira João Gilberto ou Elza Soares não mereceram do presidente um tuíte.

Também não visitou hospitais durante a fase mais aguda da pandemia de Covid-19 e demorou meses para lamentar as mortes, que batiam recordes diários no país. Ao contrário, dizia com frequência que milhares de pessoas morriam diariamente no país de doenças variadas, tentando normalizar a tragédia que se abatia sobre nós.

Não é de admirar que agora, com a tragédia que atingiu o jornalista britânico Dom Phillips e o indigenista Bruno Pereira, tenha demorado a se pronunciar e, quando o fez, tenha sido para lamentar que os dois fizeram “uma aventura” num território perigoso. Com o passar dos dias, a pressão internacional aumentando, Bolsonaro foi tentando amenizar sua carantonha, chegando a dizer que tudo indica que “fizeram uma maldade” com os dois. Agora, tardiamente, anuncia que visitará a Região Amazônica.

Mas voltou a demonstrar insensibilidade ao criticar o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso, que deu cinco dias ao governo para explicar sua atuação no caso. Irritado com o que julga ser uma interferência indevida, o presidente disse que milhares de pessoas desaparecem todos os dias no Brasil, e Barroso nunca se preocupou com elas. Uma tentativa canhestra de se justificar, fingindo que não sabe que, no caso atual, não se trata de pessoas desaparecidas por razões fortuitas, mas de um jornalista britânico e um indigenista brasileiro que trabalhavam na região, um fato de repercussão internacional, que envolve tráfico de drogas, garimpo ilegal, invasão de terras indígenas, falta de controle do governo nessas áreas, tudo o que é criticado no mundo inteiro.

Carlos Andreazza: Doador compulsório

O Globo

Paulo Guedes não falou em congelamento de preços. Talkey? Sejamos exatos. Travamento — foi o que propôs. Trava! Ele prescinde do gelo. Vamos sem analgesia. Palestrou:

— Nova tabela de preços? Só em 2023. Trava os preços! Vamos parar de aumentar preços aí. Dois, três meses. Nós estamos em uma hora decisiva para o Brasil.

Avalie-se a carga de uma fala como esta:

— Vamos parar de aumentar preços aí.

Ele constrange. Registra, porém:

—É tudo voluntário.

Convite aos supermercadistas patriotas. (Mas que não se esqueçam: a Petrobras está sob intervenção.)

Está desesperado. Nada a ver com o futuro da economia brasileira. Apela, agora terceirizando, para um conjunto de puxadinhos — “mais Brasília, menos Brasil” — capaz de forjar baixa artificial da inflação até o fim de outubro. É guerra.

Nesse esforço de guerra, pretende-se gastar, em subsídios, uma Eletrobras — talvez mesmo duas, considerado o volume de renúncias fiscais. Daqui até o fim do ano, pelo menos R$ 30 bilhões para subsidiar indiscriminadamente, entre outras derramas eleitoreiras, a gasolina; a gasolina de quem tem dinheiro sobrando. Flávio agradece.

Marlon Cecilio de Souza*: Os gargalos do Rio

O Globo

Os estorvos na mobilidade urbana noticiados, quase diariamente, pelos meios de comunicação são consequência tanto de uma série de erros passados irreversíveis como da ausência de um planejamento contínuo e concreto, que vise a atenuar o caos do transporte na capital fluminense. Em 2021, a empresa israelense Moovit publicou uma pesquisa em que apontava o Rio como a pior mobilidade do país. Entre as reclamações dos passageiros, estão a superlotação, o tempo de espera e a falta de informação.

O Estado do Rio e sua capital sofrem duas crises internas antigas, que contribuíram para a falta de políticas públicas e infraestrutura urbana de médio e longo prazos:

1) a herança deixada pelas péssimas gestões públicas consecutivas;

2) a crise estrutural iniciada na década de 1970, após a fusão do Estado do Rio de Janeiro com a Guanabara, decorrente da transferência da capital para Brasília, que culminou numa gradual perda de riqueza.

Além disso, houve os impactos advindos das políticas em prol da implementação de um projeto nacional que visava à abertura de rodovias. A confiança nos automóveis levou a um lento e gradual desmantelamento da malha ferroviária.

As privatizações do metrô e dos trens, no fim da década de 1990, foram um alento e previam uma série de investimentos conjuntos do estado e das concessionárias. No entanto o progresso foi marginal e se restringiu à troca das composições por outras mais modernas, inseridas no mesmo contexto de dificuldades.

Míriam Leitão: Urna, floresta e soberania nacional

O Globo

O país foi tomado pela dúvida desde o dia 5 sobre o paradeiro do jornalista Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira. Ontem foi um dia dramático. No meio da bruma que cercou o caso, muito está sendo revelado. No fim de semana, a União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) forneceu à imprensa um farto material provando que eles têm reiteradamente comunicado às autoridades crimes praticados por quadrilhas naquela região. Por que mesmo o governo não se mobilizou para coibir os ilícitos? Ontem o presidente do Senado falou em “Estado paralelo” na Amazônia. Não é exagero.

Enquanto o Brasil vive essa angústia real, no mundo paralelo do Ministério da Defesa, o general Paulo Sérgio Nogueira resolveu atacar o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por um problema inexistente. A ocupação da Amazônia pelo crime é um problema de segurança nacional, concreto, verdadeiro, perigoso, mas o que move os humores do ministro da Defesa é a mentira do presidente da República de que as urnas não são confiáveis. Os termos da nota do general são inaceitáveis. Em negrito, o ministro registrou. “Cabe ressaltar que uma premissa fundamental é que secreto é o voto, não a apuração”. A apuração não é secreta, nunca foi, quem inventou isso foi Jair Bolsonaro. O general subverteu a ordem da República e quer dar ordens ao tribunal eleitoral.

Alvaro Costa e Silva: Liberdade fardada

Folha de S. Paulo

Presidente e o vice general vão às eleições com as mãos sujas do sangue de Dom e Bruno

O que diz o ministro da Defesa, tão preocupado com as urnas eletrônicas, sobre a nova tentativa de golpe programada para Sete de Setembro —a 26 dias das eleições? Paulo Sérgio Nogueira sente-se prestigiado a participar de ataques aos ministros do STF e TSE? O general mandará às ruas tanques fumacentos? Comandará a retirada de oxigênio da população para manter a liberdade fardada?

Havendo golpe para invalidar a votação desfavorável a Bolsonaro, será um movimento militar. O presidente se transformará num mito banal. Um ditador de mentira (tudo a ver, para quem sempre viveu mentindo), que poderá ser descartado a qualquer momento. Para a eventualidade, haverá um vice-presidente que é general, óbvio. Na chapa que concorre com as bênçãos do centrão e as mãos manchadas com o sangue de Dom Phillips e Bruno Pereira, o escolhido é Walter Braga Netto, que deixou o cargo de ministro da Defesa.

Hélio Schwartsman: Um presidente deplorável

Folha de S. Paulo

O presidente é ruim na parte do governo e deplorável no papel de bússola moral

Ao que tudo indica, Bruno Pereira e Dom Phillips foram mesmo assassinados. Suas mortes são mais uma mácula que o Brasil coletivamente terá de carregar, ao lado das de Chico MendesDorothy Stang e tantos outros. Mas será que dá para apontar o dedo para Jair Bolsonaro e responsabilizá-lo por essa tragédia?

No plano das causas proximais, que são as que importam para o direito, o presidente é obviamente inocente. Até onde sabemos, Bolsonaro não mandou matar a dupla nem tem vínculos diretos com pessoas ou grupos que possam estar envolvidos no crime. Um dos problemas da região é a virtual ausência de Estado, o que torna difícil para o poder público prevenir homicídios. Mendes foi morto sob a gestão de José Sarney; Stang, quando Lula estava no comando.

Cristina Serra: Quem matou Bruno e Dom?

Folha de S. Paulo

Com discurso de ódio contra indígenas, Bolsonaro é anabolizante das milícias da floresta

No momento em que escrevo, esvaiu-se a esperança de que o indigenista Bruno Pereira e o jornalista Dom Phillips sejam encontrados com vida. A família do cidadão britânico teria recebido o aviso de que dois corpos foram localizados num dos pontos de busca do Vale do Javari, na imensidão da floresta amazônica, que eles tanto amaram.

Quem os matou? Bruno e Dom foram mortos por todos os que incentivam o crime contra os povos indígenas, suas terras, a floresta, suas águas, bichos e plantas. Por aqueles que enfraqueceram os órgãos de fiscalização nos últimos anos, tirando-lhes verba e equipamentos, perseguindo e coagindo os servidores públicos. Como fizeram com Bruno, afastado da Coordenação Geral de Índios Isolados e Recém Contatados, em 2019.

Joel Pinheiro da Fonseca: Nem preservação nem soberania

Folha de S. Paulo

Fica claro que o presidente Jair Bolsonaro perdeu qualquer intenção de governar a região

desaparecimento de Dom Phillips e Bruno Pereira segue sem desfecho. Espero que sejam encontrados com vida mas, sinceramente, não é a hipótese mais provável. O caso escancara, para nós e para o mundo, o que os números já vinham mostrando: a Amazônia está entregue ao crime.

Nas discussões sobre a Amazônia é comum cair num dilema questionável entre preservação ambiental e soberania nacional. Bolsonaro e as Forças Armadas sempre batem na tecla da soberania. Por trás do discurso, contudo, a realidade é que o governo optou por ficar sem nenhum dos dois.

João Doria*: Não desisti do Brasil

Folha de S. Paulo

Os eleitores não são culpados pelo dilema no qual o país se encontra

Eu não desisti do Brasil. Ao contrário, tenho convicção do potencial que temos para superar nossos problemas históricos. Tenho orgulho de uma vida pública ilibada, com resultados expressivos para o povo de São Paulo.

Tanto na capital quanto no estado, com o apoio de uma equipe competente, nós crescemos, geramos milhões de empregos e entregamos obras consideradas impossíveis, como a despoluição do rio Pinheiros.

Com competência e seriedade provei que é possível governar para todos, resolver os mais graves desafios e deixar um legado emblemático de realizações. Não economizei esforços e fui até a China estabelecer uma parceria com um dos maiores laboratórios do mundo para comprar a vacina que salvou milhões de brasileiros. Foram 124 milhões de imunizantes contra a Covid-19. Salvamos vidas e a nossa economia.

Cristovam Buarque*: A lição da Bolívia

Correio Braziliense

No mesmo dia em que o ministro da Defesa mandou carta ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com a arrogância usual de pessoas armadas, insinuando desconfiança quanto à transparência do processo eleitoral, a democracia boliviana condenou sua ex-presidente a 10 anos de prisão, por ter contestado os resultados eleitorais que reelegeu o presidente Evo Morales. As pessoas mais velhas lembram que a Bolívia era símbolo da "democracia de banana": seus presidentes constantemente destituídos e substituídos por militares ou civis. Houve ano com mais de um presidente no espaço de poucos meses. Até que a Bolívia fez sua redemocratização e elegeu o primeiro presidente em 1982. A partir de então, todos os resultados eram respeitados.

O rigor democrático só ficou sob suspeição quando a eleição de Evo Morales foi contestada devido a uma vantagem mínima sobre seu opositor. Vale lembrar que Morales fez a primeira interferência dentro do marco legal ao induzir a reforma da Constituição que lhe permitiu reeleições sucessivas, cujos resultados apertados levaram ao golpe dado pela presidente do Congresso, sucessora legal, agora condenada a 10 anos de prisão, como golpista.

Rubens Barbosa*: Cúpula das Américas

O Estado de S. Paulo

O diálogo entre os EUA e a América Latina e o Caribe encontra-se hoje num dos piores momentos desde o fim da guerra fria.

A 9.ª Cúpula das Américas, reunindo chefes de Estado dos países da região, ocorreu na semana passada em Los Angeles, nos EUA, em circunstâncias muito diferentes da primeira reunião, organizada em Miami em 1994, quando os EUA apresentaram a proposta de uma Área de Livre-comércio nas Américas (Alca). O encontro foi realizado num momento difícil para o anfitrião, às voltas com o apoio à Ucrânia na guerra contra a Rússia e a disputa pela hegemonia global com a China. A divisão interna nos EUA impediu que propostas dos dois partidos pudessem ser formuladas e apresentadas por Joe Biden. A América Latina está bem abaixo nas prioridades da política externa dos EUA. Em pronunciamento recente sobre as prioridades do país nesta área, o secretário de Estado, Antony Blinken, nem mencionou a América Latina. O diálogo entre os EUA e a América Latina e o Caribe encontra-se hoje num dos piores momentos desde o fim da guerra fria.

Andrea Jubé: São Paulo, o difícil começo da cruzada eleitoral

Valor Econômico

Após Minas, PSD também pode se juntar a Lula no Rio

A rejeição da transferência do domicílio eleitoral do ex-juiz Sergio Moro do Paraná para São Paulo joga luz sobre a relevância estratégica do Estado como palco político nas eleições de outubro.

Basta verificar que o ex-magistrado, nascido em Maringá, teria uma eleição sem sobressaltos em seu Estado de origem, mas estimulado por aliados do União Brasil, cobiçou estrear nas urnas logo pela unidade mais rica e relevante da Federação.

O mesmo questionamento assombra a pré-candidatura ao Palácio dos Bandeirantes do ex-ministro Tarcísio de Freitas (Republicanos), principal palanque do presidente Jair Bolsonaro na empreitada pela reeleição. Ele transferiu o domicílio do Rio de Janeiro para São Paulo. Um processo já foi arquivado pela Justiça Eleitoral, mas nova contestação pode surgir no momento do registro da candidatura.

A história atesta a rejeição dos paulistas a líderes vindos de outros Estados. Às vésperas da Revolução Constitucionalista, em abril de 1931, insurgentes contra a ditadura de Getúlio Vargas publicaram um manifesto nos jornais paulistanos contra o interventor nomeado pelo caudilho: “Estamos entregues a um governo de forasteiros.”

Pedro Cafardo: A desindustrialização ao vivo do setor químico

Valor Econômico

Mudança no regime tributário especial do setor provoca insegurança jurídica

Enquanto as discussões se concentravam no ICMS sobre combustíveis, outro tema na área tributária, com mínima repercussão, mostrava como o viés ideológico continua contribuindo para a desindustrialização do país. No apagar das luzes de 2021, o governo baixou a Medida Provisória 1.095/21, que extinguiu a partir de abril deste ano o Regime Especial da Indústria Química.

Esse Reiq, como é conhecido, criado em 2013, era uma redução tributária para incentivar o setor químico, que encolhia no país. Deveria continuar, por lei, até 2024, com redução gradativa do benefício fiscal. Mas a cúpula econômica do governo, nada preocupada com a desindustrialização, resolveu antecipar sua extinção.

Na noite do réveillon, a MP caiu como uma bomba na indústria química e acabou sendo parcialmente corrigida pelo Congresso no mês passado. Em resumo, os parlamentares mantiveram a redução gradativa do benefício, mas o estenderam até 2027, criando um regime de transição. Foram elevadas as alíquotas de PIS/Cofins para os fatos geradores ocorridos entre abril e dezembro de 2022. E exigidas contrapartidas da indústria à sociedade enquanto vigorar o regime especial, uma boa iniciativa.

Maria Clara R. M. do Prado: Bolsonaro é refém de um cruel inimigo

Valor Econômico

A percepção de empobrecimento é o que leva o eleitor a votar para não perpetuar a realidade

Em 1º de janeiro de 2019, quando Bolsonaro assumiu a Presidência da República, o salário mínimo era de R$ 998 e uma cesta de 35 produtos básicos largamente consumidos nos supermercados custava R$ 465,57. Ou seja, 46,6% do piso salarial no mercado formal de trabalho comprava por mês 27 diferentes itens alimentícios como carne, frango, óleo de soja, arroz, sal, feijão, açúcar e leite, entre outros, além de oito bens essenciais para limpeza e higiene, como sabão em pó, desinfetante e papel higiênico.

Em abril deste ano, a mesma cesta de produtos custava em média R$ 758,72 nos supermercados, valor equivalente a 62,6% do salário mínimo atual de R$ 1.212,00. Em três anos e quatro meses de governo, o bolso dos eleitores brasileiros de renda mais baixa foi impactado com o aumento de 67,38% em média dos preços cobrados pelos mesmos produtos básicos, enquanto o salário mínimo subiu apenas 21,44% no período.

Para que os gastos da cesta em abril deste ano tivessem o mesmo peso no piso da renda mensal do trabalhador, o salário mínimo vigente hoje deveria ser de R$ 1.626,40. Esse é o valor que manteria o poder de compra ao nível em que estava em 1º de janeiro de 2019, levando-se em conta a variação de preços dos itens aqui considerados.

Ricardo José de Azevedo Marinho*: Com Pandemia, Sequelas & Democracia

A pandemia do covid-19 é um dos vinte episódios mais mortais dos últimos 700 anos. Temos já milhões de pessoas no mundo que faleceram enquanto as temidas ondas de infecção seguem acontecendo aqui e em grande parte da Europa e nos Estados Unidos da América (EUA). As medidas de confinamento realizadas para controlar a propagação do coronavírus causou uma desaceleração nas atividades econômicas globais. Diante desse cenário, formuladores de políticas economia (salvo os de alguns governos que negavam a pandemia, dentre os quais o nosso) responderam a perda de emprego e atividade dos negócios com medidas fiscais e monetárias agressivas.

Em geral, os países entenderam que o caminho era gerenciar a crise econômica mesmo quando produziram divergências políticas sobre como equilibrar a necessidade para controlar a propagação do vírus com as perdas econômicas causadas pela política sanitária. Eles programaram grandes pacotes de apoio fiscal para garantir as trabalhadoras e os trabalhadores desempregados. Os Bancos Centrais rapidamente desenharam políticas monetárias que deram garantias de liquidez aos mercados. As lições da crise financeira global de 2008 ainda estão frescas nas mentes de muitos gerentes de política econômica.

O que a mídia pensa: Editoriais / Opiniões

Editoriais

Amazônia sob o jugo do crime organizado

O Globo

A busca pelo indigenista e funcionário da Funai Bruno Pereira e pelo jornalista britânico Dom Phillips tem confirmado as piores suspeitas sobre o desaparecimento da dupla, que navegava no dia 5 de junho pelo Vale do Javari, na Amazônia, mas não chegou ao destino. De acordo com a família de Dom e diplomatas britânicos, os corpos dos dois foram achados mortos na floresta. A Polícia Federal (PF) desmentiu a informação, mas as autoridades descobriram documentos, roupas e objetos pessoais perto da casa do principal suspeito pelo desaparecimento, que continua preso.

Diante da repercussão internacional, o governo federal mobilizou Marinha, Exército, Força Nacional, Polícia Federal e Funai na busca. O presidente Jair Bolsonaro chegou a citá-la no discurso que fez na Cúpula das Américas. Infelizmente, os fatos não o eximem da responsabilidade por ter amplificado os conflitos numa região convulsionada por disputa de terras, desmatamento, garimpo e pesca ilegais. O aumento na devastação da floresta neste governo está comprovado por todos os levantamentos científicos.

Na campanha eleitoral, Bolsonaro defendia intervir no Ibama e no ICMBio para acabar com o que chamou de “indústria de multas”, tida como ameaça aos “empreendedores” — os que desmatam para extrair madeira ilegal, depois queimam a floresta para transformá-la em pasto e envenenam os rios com o mercúrio usado em garimpos.