O Estado de S. Paulo
O ponto central do ataque às democracias
consiste na deslegitimação do sistema eleitoral – nos Estados Unidos e no
Brasil.
A generalidade do cerco às democracias,
mesmo as que pareciam historicamente enraizadas, é um fato que dispensa maiores
comentários e, não por acaso, o caráter por assim dizer estrutural da
fragilidade delas está a desafiar a imaginação dos teóricos e a capacidade das
forças comprometidas com sua defesa. Vitórias eleitorais de democratas,
inclusive os que nada têm de radicais e se mostram dispostos ao compromisso,
logo se revelam como pausa precária em batalha desigual, como se o adversário
continuasse à espreita, forte e seguro de si, sentindo-se natural porta-voz do
espírito do tempo.
Peritos reconhecidos na descrição da morte lenta de democracias contemporâneas, sem que a maioria dos cidadãos saiba como evitar o desastre pressentido, Steven Levitsky e Daniel Ziblatt alertam, no caso norte-americano, para o tipo de ofensiva já agora em preparação. Não mais – dizem – o simulacro do fato revolucionário, mediante o assalto desordenado ao poder, mas a insidiosa partidarização dos mecanismos eleitorais por republicanos inclinados à subversão da ordem institucional. Tais mecanismos poderão estar de tal modo viciados em 2024 que, de forma “suave” e aparentemente legal, uma vontade minoritária acabe por se impor no colégio eleitoral e, consequentemente, nos corpos legislativos e na própria Presidência.