O Estado de S. Paulo
É assim que a banda toca nas negociações sindicais; pede-se sempre mais
O presidente Lula quer aumentar o valor do
salário mínimo dos atuais R$ 1.302 para R$ 1.320 a partir de 1.º de maio.
Isso é certo. O presidente deu tempo, no
entanto, ao seu ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para que sua equipe
acompanhe com lupa a evolução dos gastos da Previdência Social, que sofrem
impacto na veia com a alta do salário mínimo – já que ele é usado como
referência na concessão da maioria dos benefícios.
Lula até queria anunciar na reunião de
ontem com sindicalistas que estava no radar do governo a possibilidade desse
aumento acontecer no Dia do Trabalhador, a depender da evolução das contas
públicas.
O governo decidiu, porém, esperar o monitoramento da área econômica porque não se tem certeza de como será o crescimento vegetativo da folha do INSS depois que o governo Bolsonaro acelerou a concessão de novos benefícios na antessala das eleições presidenciais.
Esse afrouxamento dos filtros do INSS para
a concessão foi confirmado por integrantes do governo Bolsonaro no período de
transição. Razão pela qual os técnicos do governo calcularam um gasto extra de
R$ 7,7 bilhões para 2023, além do previsto no Orçamento.
Quando se acelera a inclusão de
beneficiários, o crescimento vegetativo da folha do INSS também sobe. São dois efeitos
a elevar as previsões de gasto em 2023: maior velocidade do crescimento e uma
base mais larga de beneficiários.
Se a velocidade do crescimento vegetativo
for menor do que a de 2022, as previsões de despesas adicionais do INSS também
caem. É com isso que o governo conta para lá na frente encontrar espaço no
Orçamento para reajustar o mínimo para R$ 1.320. Para os técnicos, será difícil
o crescimento vegetativo se repetir.
Enquanto isso, o ministro do Trabalho, o
sindicalista Luiz Marinho, constrói uma estratégia de negociação para garantir
que o valor do mínimo não fique em R$ 1.302 durante todo o ano de 2023. Em
acordo com ele, os sindicalistas puxam para cima a pressão para que o valor
suba para R$ 1.342.
É assim que a banda toca nas negociações
sindicais. Pede-se sempre mais. Quando o valor subir para R$ 1.320, como se
espera que vai acontecer, Marinho poderá faturar a vitória com as centrais.
A preferência do Planalto foi em não
antecipar nada agora. Como em matérias de “bondades” não se gasta cartucho à
toa, o governo só vai tirar essa carta da manga mais à frente. Lula poderá
dizer que garantiu um ganho acima da inflação bem maior do que Bolsonaro e
anunciar uma política permanente para os próximos anos.
O salário devia vir com aumento em janeiro,não é o que acontece.
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