Folha de S. Paulo
Foto de deputado mostra risco de dissolução
ideológica no partido
Na semana passada, o deputado Washington
Quaquá (PT-RJ) se deixou fotografar ao lado de Eduardo
Pazuello (PL-RJ), um dos principais cúmplices de Jair
Bolsonaro no assassinato de, no mínimo, 100 mil brasileiros durante a
pandemia de Covid-19.
Após a repercussão negativa, a presidente
do PT, deputada
Gleisi Hoffmann, foi às redes sociais condenar a atitude. "Na vida,
como na política, há limites para tudo", disse Hoffmann.
Quaquá tem um nome engraçado, mas não deve
ser subestimado enquanto liderança. Ao que tudo indica, foi um bom prefeito em
Maricá, no Rio de Janeiro, onde há um programa de renda básica de repercussão
internacional.
Entretanto Quaquá também é famoso por uma
disposição para fazer alianças que excedem em muito a do petista médio e mesmo
a do petista moderado.
Em 2020, Quaquá articulou o apoio do PT a Waguinho, candidato a prefeito de Belford Roxo, no estado do Rio, que apoiava Bolsonaro. Dois anos depois, Waguinho foi o único prefeito da Baixada Fluminense a apoiar Lula no segundo turno.
Foi um apoio tão raro que lhe rendeu o
direito de indicar sua esposa, a deputada Daniela do Waguinho, para o
Ministério do Turismo. Quaquá venceu o round.
Entretanto, fora de eleições em que o
adversário seja o fascismo, esses movimentos ainda incomodam a grande maioria
dos petistas. O Quaquaísmo, uma virada ultrapragmática beirando a dissolução
ideológica, ainda é minoritário no PT.
O partido já fez inúmeras alianças com a
direita, em geral para assegurar maiorias legislativas.
Entretanto ainda mantém uma identidade
ideológica mais clara do que a da maioria dos partidos: por exemplo, tem uma
disposição muito maior que a das outras grandes legendas para sobreviver na
oposição –isto é, sem acesso a cargos e verbas— quando perde eleições.
Na semana passada, o podcast Dor de Coluna,
do economista Pedro Faria, discutiu minha hipótese sobre o risco de o PT se
tornar um novo PMDB. Faria considera que parte do PT aceitaria se tornar um
grande MDB de esquerda, mas o obstáculo a este processo estaria na direita.
Ela não mais se organizaria como projeto
modernizador, como durante a hegemonia do PSDB; o deslocamento do poder
econômico para o agronegócio, ou para o que Mathias Alencastro chamou de
"O Mega-Centro-Oeste", reforçaria o caráter reacionário da direita.
Com o esvaziamento da centro-direita,
faltariam ao PT os aliados que lhe permitiriam uma conversão definitiva ao
centro.
No fim das contas, se Faria me permite
ilustrar seu argumento, a direita continuaria com a cara de Pazuello, que
fuzilaria Quaquá na primeira oportunidade.
Esse cenário é possível, como também é possível a dissolução da identidade
ideológica petista.
Mas há um terceiro cenário possível, pelo
qual torço e ao qual atribuo probabilidade razoável: o PT e seus aliados podem
formar um novo consenso progressista, simbolizado, por exemplo, pelas duas
reformas tributárias que o governo planeja: uma que deve aumentar a eficiência
econômica, outra que deve, pela primeira vez na história brasileira, usar o
fisco contra a desigualdade.
Nesse cenário, Quaquá escaparia de virar nome de conceito, escaparia de ser fuzilado por Pazuello e continuaria tendo a chance de militar em um partido de centro-esquerda razoavelmente consistente. Ele e todos nós ganharíamos.
Quá-quá é grito de guerra dos patos, que são animais que, antes de serem abatidos no ar, mostram-se com tri-qualidades: nadam, caminham e voam. Nadam mal, caminham claudicantes e voam rasteiro. E, além disso tudo, fazem muita sujeira.
ResponderExcluirNo quipropo quaqua pode ser trotro : tropeço e troça
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