terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

Hélio Schwartsman - Por um Brasil 'low profile'

Folha de S. Paulo

País deveria passar longe do Conselho de Segurança da ONU

Com a volta de Lula, volta também o projeto de obter para o Brasil uma cadeira permanente no Conselho de Segurança (CS) da ONU, que deu o tom da diplomacia nacional nas gestões petistas.

Tenho uma posição bem singular nessa matéria. Sou contra um assento permanente para o Brasil. Penso que a conquista desse lugar faria bem ao ego de presidentes, ministros e hierarcas do Itamaraty, mas em nada beneficiaria o cidadão. Pelo contrário, uma cadeira no CS obrigaria o país a assumir maior protagonismo mundial, o que significaria empenhar mais recursos, financeiros e humanos, em crises externas. Também nos forçaria a tomar partido numa série de encrencas internacionais, o que quase certamente faria com que nos indispuséssemos com algumas nações.

E se o assento no CS já era um sonho de difícil realização uma década atrás, tornou-se muito mais duvidoso agora, após os quatro anos de Jair Bolsonaro, nos quais mostramos ao mundo um chanceler que se orgulhava de transformar o Brasil num pária entre as nações, em que queimamos um bom pedaço da Amazônia afirmando tratar-se de ato de soberania e em que nos inscrevemos em clubes reacionários, como o "Consenso de Genebra", que combate o direito ao aborto. Basicamente, o Brasil deu sinais inequívocos de que não é uma democracia suficientemente estável para integrar o CS. Eu ao menos, como cidadão do mundo, não gostaria de ver a ONU codirigida por uma nação que faz o que o Brasil fez.

Mas os EUA, sob Trump, também fizeram gestos comparáveis e de muito maior alcance, lembrará o leitor participante. Verdade. O problema é que um sistema de governança global sem os EUA, a maior superpotência do planeta, não vale um dólar furado, enquanto a presença do Brasil é no máximo um opcional.

Meu ponto é que não há nada de errado em ser uma nação "low profile", que não busca estar no centro do palco, preferindo atuar menos e com mais discrição.

 

7 comentários:

  1. Assino embaixo.

    ResponderExcluir
  2. Um acento no Conselho de Segurança é um direito do Brasil. Porque o Brasil faz parte do grupo de países que derrotaram o nazismo. O Brasil participou por meio da FEB na Itália. E a função do Brasil não será se meter em encrencas internacionais mas contribuir com uma postura democrática e pacífica. A ideia do Clube da Paz de Lula é excelente. Só que não deve se limitar ao problema da Ucrânia e sim um movimento global por um governo mundial de orientação pacífica, democrática, socializante e ecológica. Nações e forças armadas nacionais é coisa de bárbaro.

    ResponderExcluir
  3. Assento de Pirro.

    ResponderExcluir
  4. Minha posição é que o Brasil, no máximo, seja árbitro de problemas em nosso continente, Oriente Médio, distância, África, ajuda humanitária, Ucrânia, condenar a invasão e só.

    ResponderExcluir
  5. O ideal seria nenhuma mulher no mundo,os homens também,sequer pensasse em aborto.

    ResponderExcluir
  6. Vamos ver agora o tal “clube da paz” quando a Rússia acaba de sair do acordo nuclear com os EUA, significa que pode continuar se armando e rearmando de mísseis nucleares. Será que nosso novo presidente terá “lastro” para reverter isto???

    ResponderExcluir