Folha de S. Paulo
Modelo do Banco Central pode ser critica,
mas é preciso enfrentar o debate científico real
Um
aspecto da discussão sobre a taxa de juros do Banco Central lembra, em sua
configuração, a discussão entre Anvisa, Instituto Butantan e os antivacina: um
lado aposta no rigor técnico, o outro na retórica política.
Em primeiro lugar, a importante diferença: a discussão da vacina tinha, de um
lado, cientistas; do outro, pura e simplesmente, uma
campanha de fake news e desinformação levada adiante por propagandistas.
O debate sobre os juros opõe um lado dominante, ortodoxo, da ciência econômica contemporânea a um outro, heterodoxo, que, embora marginal no debate econômico mundial, também representa um grupo com pesquisadores e publicações acadêmicas.
A retórica não é algo ruim, não é uma ferramenta para enganar o público, embora
possa ter esse papel. Ela é, antes, a capacidade de comunicar algo de forma que
faça sentido e persuada o ouvinte. Numa democracia, esse trabalho de persuasão
pública é essencial, porque a opinião pública influi nas decisões da sociedade.
A democracia liberal do voto está consolidada, mas permaneceu por décadas com a
população tendo voz apenas no momento do voto. Só agora vivemos, com as redes,
uma democratização também do debate público. E isso exige, por parte dos
especialistas, um esforço adicional para se fazer compreender.
O trabalho dos técnicos depende de inúmeras decisões, e leigos —incluindo aqui
a classe política—, e mais do que nunca eles, fazem questão de participar do
debate. A carteirada do "especialista" tem cada vez menos poder de
terminar uma discussão.
Por isso, considero um acerto de Roberto
Campos Neto ter concedido entrevista ao Roda
Viva. Ver economistas engajados nesse trabalho de esclarecimento —e
convencimento— público, sempre
buscando se aproximar de uma linguagem acessível aos leigos, é também um efeito
colateral positivo dessa discussão conduzida de maneira tão equivocada pelo
governo.
Pouco lógica a analogia com as vacinas. E ainda confundiu a questão das vacinas, sem diferenciar que a da Covid era uma nova realidade, um produto feito às pressas, com resultados menos eficientes que a maioria das vacinas anteriores, mais bem testadas e conhecidas, frutos de muitos anos de amplas pesquisas.
ResponderExcluirDe um lado, o rigor; de outro, a retórica, sem nenhum fato experimental - perfeita a análise!
ResponderExcluirÉ um erro grosseiro supor que os defensores da atual (e gigantesca) taxa de juros do Banco Central tenham dados e "rigor", e que seus críticos usem apenas a "retórica". A principal diferença entre as 2 posições é quanto aos fatores (ou às variáveis) que cada lado considera principais e as consequências buscadas ou esperadas com a taxa escolhida, o que evidentemente leva a diferentes conclusões sobre a adequação desta taxa.
ResponderExcluirNão gostei da analogia,nada a ver,que me desculpe o grande colunista,com certeza ele entende do riscado bem mais do que eu.
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