Valor Econômico
Haddad assumiu a Fazenda buscando
alinhamento entre as políticas econômica e monetária e bancou, junto a Lula, a
interlocução com Campos Neto
Durou pouco a trégua obtida pelo ministro
da Fazenda com a ata do Comitê de Política Monetária. Pela
manhã, Fernando Haddad saudou como
“melhor” e “mais amigável” a ata do Banco Central que
menciona a percepção de alguns integrantes do Copom de que o pacote
fiscal da Fazenda poderia vir a atenuar o risco fiscal. À tarde, o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou à sua
cantilena diária contra a independência do Banco Central e
seu atual titular jogando por terra o esforço de seu ministro em reconstruir
pontes com a autoridade monetária.
O documento sustenta a decisão do banco de manter a taxa de juros em 13,75% em função das pressões inflacionárias, mas abre uma janela de reconsideração para as iniciativas da Fazenda. Foi esta a brecha pactuada depois de ministro e presidente do BC terem discutido a repercussão do comunicado do Copom no início da semana. Haddad prontamente registrou esta abertura elogiando a ata tão logo seu texto se tornou público.
Assim como havia feito com Aloizio
Mercadante na véspera, com seu discurso passadista sobre o BNDES, o
presidente dobrou a aposta contra os compromissos amarrados por Haddad. A
missão precursora de sua nova artilharia foi a presidente do PT, Gleisi
Hoffmann. A dirigente petista foi às redes sociais dizer que a ata havia sido
menos crítica à política econômica deste governo do que àquela do antecessor,
que sambou em cima das regras fiscais para abrigar a gastança da campanha pela
reeleição.
Haddad assumiu a Fazenda buscando
alinhamento entre as políticas econômica e monetária e bancou, junto a Lula, a
interlocução com Campos Neto. Ao persegui-la, Haddad também visa a uma
composição com vistas à próxima reunião do Conselho Monetário Nacional,
instância composta ainda pela ministra do Planejamento, Simone Tebet. Se
se limitar a fazer eco ao discurso lulista, corre o risco de se isolar no CMN,
instância definidora da meta de inflação. Se Lula não escolheu Campos Neto, foi
ele quem nomeou Tebet, dando ao Conselho configuração mais moderada. Sua
artilharia contra o BC se insurge contra suas próprias escolhas ministeriais.
É bem verdade que Campos Neto riscou o
fósforo. Ao endurecer o jogo no Copom, o presidente do BC desgastou Haddad. Foi
a janela aberta por este desgaste, com óbvias consequências para a sucessão
lulista, que a dirigente petista buscou escancarar ignorando os recuos
sinalizados pela ata. Se Gleisi mira a sucessão, Lula parece centrado no aqui e
agora e na ansiedade por resultados.
Nem a Haddad nem a Campos Neto interessa o conflito. Pesa em favor de uma convergência o que ambos têm a perder com o embate. Por um lado, Haddad pode ter minadas as chances de fazer uma gestão bem-sucedida na economia se as expectativas se deteriorarem. Por outro, Campos Neto arrisca-se a não ter voz na definição das duas diretorias do Banco Central que vagam no fim deste mês. Não deixaria de ter maioria no colegiado, mas passaria a conviver com um permanente dissenso. A ata mais moderada não garante suas prerrogativas nas indicações mas manteria aberta a chance de ser consultado. Cai tudo por terra quando Lula joga o Senado contra seu mandato. Lula está em guerra contra seu próprio governo. Resta saber por que.
Então tá!
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