Folha de S. Paulo
O que está em jogo é a relação do partido
com a gestão Lula
Na semana passada, a presidente do
PT, deputada
Gleisi Hoffmann,
criticou o fim dos subsídios aos combustíveis defendido pelo ministro da
Fazenda, Fernando
Haddad. O risco de personalização do debate era evidente. A disputa entre
Gleisi e Haddad pela liderança do PT já dura alguns anos. Mas há mais em jogo
do que isso.
Se Gleisi está tentando minar Haddad para
se tornar presidenciável, a estratégia é muito, muito arriscada. É difícil imaginar
um cenário em que Haddad dê muito errado e Lula eleja seu sucessor em 2026,
seja ele, ou ela, quem seja.
Se Haddad cair, há bem mais gente na disputa pelo controle do PT além de Gleisi, a começar pelos governadores do Nordeste. E, se Haddad cair porque o PT o derrubou, Lula só fará o dólar cair se ligar para Joaquim Levy e perguntar se ele tem um primo mais ortodoxo.
Não acho que, nesse caso específico, a
disputa pessoal entre Gleisi e Haddad seja o mais importante. O que está em
jogo é a relação do Partido dos Trabalhadores, que Gleisi preside, com o governo Lula,
formado a partir de uma frente ampla contra o golpismo.
A história do relacionamento do Partido dos
Trabalhadores com os governantes que elegia começou horrível: quase todos os
primeiros prefeitos eleitos pelo PT saíram do partido irritados com
interferências na administração e intenso fogo amigo dos movimentos sociais
petistas.
Só nos anos 90 a situação se estabilizou, e
o PT conseguiu transformar algumas administrações municipais e estaduais em
vitrines do "modo petista de governar".
Mesmo assim, a própria Gleisi foi vítima de
fogo amigo quando, como secretária em Mato Grosso do Sul, implementou uma
reforma administrativa considerada dura. Acabou caindo.
Em parte, essa tensão entre o PT e seus
governos é positiva. É sinal de que há uma vida interna dinâmica na legenda, de
que ainda há debate e disputa política transparente entre os militantes e de
que o partido ainda tem ideias a oferecer.
Mas às vezes dá errado: se o PT nunca topar
pagar o custo político das decisões de seu governo, ninguém vai pagar por ele.
E nem tudo o que um governo precisa fazer é popular. No segundo governo Dilma,
o PT resistiu em apoiar, não só as reformas de Levy, mas também as de Nelson
Barbosa. Dilma não foi "puxada para a esquerda": ficou ainda mais
isolada.
Na disputa da semana passada, a posição do
"núcleo político" do PT se explica facilmente: os subsídios foram um
gesto demagógico de Bolsonaro, e Lula não tem condições de dar ao golpismo
vitórias populistas. É o custo fiscal do golpismo.
Mas esse cálculo político vai ficando mais
complexo conforme o tempo passa.
Como notou o economista Filipe Campante em
uma conversa civilizada que tivemos no Twitter (pois é, vejam só), se os
desequilíbrios de curto prazo se acumularem, podem ameaçar as perspectivas de
longo prazo, desestimulando o investimento já agora.
O equilíbrio é difícil, mas cada vez mais o
sucesso do governo vai depender do sucesso do programa econômico de Fernando
Haddad, que, não esqueçamos, foi indicado pelo PT.
Nos próximos grandes debates —a reforma
tributária e a nova
regra fiscal—
o PT tem direito e dever de participar, mas deve equilibrar melhor a defesa de
sua posição com a garantia de bom funcionamento do governo.
"O PT tem direito e dever de participar, mas deve equilibrar melhor a defesa de sua posição com a garantia de bom funcionamento do governo", se isto não fosse pedir/esperar muito de zumbis e múmias petistas que escaparam do mensalão e petrolão e ainda controlam a direção partidária.
ResponderExcluirPerfeito.
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