O Estado de S. Paulo
Brasil na expectativa, Lula otimista: missão de Xi Jinping na Rússia é de paz ou guerra?
Jair Bolsonaro foi à Rússia dias antes da
invasão da Ucrânia e se declarou “solidário” com os russos. Lula vai à China
dias depois do encontro de Xi Jinping e Vladimir Putin e torce pelo melhor
cenário, mas trabalha com dois: ou a China aprofunda seu apoio à Rússia ou dá a
largada para as negociações de paz. Como já me disse o chanceler Mauro Vieira,
sem China e Estados Unidos, não tem paz.
A primeira reação ao anúncio do encontro de Xi Jinping com Putin foi muito negativa, com o temor, nos EUA e na Europa, de uma aliança mais concreta de China e Rússia e até de envio de armamento chinês para a guerra. Após uma guinada estonteante, a percepção (ou torcida) agora é de que Xi Jinping trabalha pela pacificação, o que converge para o “clube de paz” lançado por Lula.
O que anima Lula e Itamaraty é que o
movimento mais espetacular de Xi Jinping ao ser reconduzido ao poder foi na
área externa, como mediador da reaproximação entre Irã e Arábia Saudita, num
ensaio para algo ainda maior. Diplomacia não é o forte da China, que se
ressente do isolamento internacional e da hostilidade ocidental e pode estar
usando a mediação para reverter esse quadro.
Caso Xi Jinping tenha objetivo pacificador
e caso Putin aceite conversar, o “clube da paz” entra em ação, com Lula em
Pequim na próxima semana e Emmanuel
Macron na seguinte. No centro das pautas
estão, claro, os interesses internos do Brasil e da França, mas a guerra na
Ucrânia é tema obrigatório e Lula já tinha pulado no barco desde o encontro com
Joe Biden.
A China, muito maltratada na era Bolsonaro,
tem boas lembranças dos dois governos de Lula, quando os Brics (Brasil, Rússia,
Índia, China e África do Sul) se consolidaram e o país ultrapassou os EUA como
maior parceiro comercial do Brasil. O céu é o limite. A turma do agronegócio já
viajou ontem, mas o avião presidencial vai lotado de empresários, políticos e
ministros, a ponto de o vice Geraldo Alckmin brincar: olha o overbooking!
Como se explica? Simples: o Brasil é o
maior fornecedor de soja, açúcar, celulose, carne bovina e de frango para a
China, que é a segunda maior economia do mundo, deve crescer entre 5% e 9%
neste ano, tem um mercado perto de 1,5 bilhão de pessoas, é o maior investidor
e garante superávit nas trocas comerciais com o Brasil. Quer mais?
Quanto aos 44% de entrevistados que,
segundo o Ipec, veem uma ameaça comunista no Brasil, nem vamos perder tempo. A
Terra não é plana, vacina salva vidas e não se faz política externa com fake
news e ignorância. Aliás, não se faz nada, a não ser terrorismo contra os três
Poderes.
Direto no queixo.
ResponderExcluirBoa, Eliane 👏
Escreveu pouco,mas escreveu bonito.
ResponderExcluirExcelente análise.
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