O Estado de S. Paulo
Os BCs ainda estão tentando entender como funciona uma corrida bancária nos tempos atuais
Aera de bancos digitais e das redes sociais
tornou muito mais rápida e fatal uma corrida por saques em meio a uma crise de
confiança dos clientes sobre a solvência da sua instituição financeira. E as
autoridades monetárias ao redor do mundo ainda estão tateando no escuro sobre
como responder adequadamente a uma corrida bancária dos tempos atuais.
Nas últimas semanas, uma avalanche
repentina de retirada de depósitos quebrou dois bancos americanos – o Silicon
Valley Bank (SVB) e o Signature Bank – e forçou o socorro por parte de 11
grandes instituições financeiras dos Estados Unidos, no valor de US$ 30
bilhões, para evitar o colapso de um terceiro, o First Republic Bank.
Para se ter uma ideia da virulência de uma corrida por saques na era de acesso online às contas bancárias e de comunicação em tempo real em redes sociais e aplicativos, como o Twitter e o WhatsApp, o maior banco americano que já faliu, o Washington Mutual Bank (com ativos de US$ 307 bilhões), registrou uma retirada ao redor de US$ 19 bilhões de seus depósitos (ou 10% do total) ao longo de duas semanas. Foi o suficiente para levar ao seu colapso em 2008, durante a grande crise financeira mundial. Na época, o botão “curtir” no Facebook nem existia.
No caso do SVB, o volume de saques somou
US$ 42 bilhões. Só que em apenas 24 horas, no último dia 9 de março. Ao fim
daquele dia, uma quinta-feira, o SVB estava com um saldo negativo em caixa de
quase US$ 1 bilhão. O banco não sobreviveu. O contágio foi quase na velocidade
da luz. No dia seguinte, uma sexta-feira (dia 10), o Signature Bank perdeu mais
de US$ 10 bilhões em depósitos, do total de US$ 88,6 bilhões. Não restou outra
opção às autoridades americanas a não ser fechar o banco.
No dia anterior à corrida por saques que
resultou no colapso do SVB, o presidente do banco divulgou uma carta aos
acionistas informando um prejuízo de US$ 1,8 bilhão em operações com títulos do
Tesouro americano e com papéis lastreados em hipotecas. Os clientes do SVB,
muitos deles fundadores e CEOs de empresas do setor de tecnologia do Vale do
Silício, inundaram o Twitter com postagens negativas sobre a saúde do banco. E,
ao contrário do passado, não foram fazer fila nos caixas das agências do SVB.
Simplesmente, fizeram saques de milhões de dólares com alguns cliques nos seus
aplicativos.
Os bancos centrais mundo afora não dispõem
mais de tanto tempo para reagir a uma crise de confiança dessa natureza: os
rumores não se espalham mais boca a boca. E o dinheiro pode sumir na velocidade
dos dedos.
Abra o olho e lave as mãos antes, Bob Fields GSon!
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