quarta-feira, 22 de março de 2023

Fábio Alves - Sem tempo de reagir

O Estado de S. Paulo

Os BCs ainda estão tentando entender como funciona uma corrida bancária nos tempos atuais

Aera de bancos digitais e das redes sociais tornou muito mais rápida e fatal uma corrida por saques em meio a uma crise de confiança dos clientes sobre a solvência da sua instituição financeira. E as autoridades monetárias ao redor do mundo ainda estão tateando no escuro sobre como responder adequadamente a uma corrida bancária dos tempos atuais.

Nas últimas semanas, uma avalanche repentina de retirada de depósitos quebrou dois bancos americanos – o Silicon Valley Bank (SVB) e o Signature Bank – e forçou o socorro por parte de 11 grandes instituições financeiras dos Estados Unidos, no valor de US$ 30 bilhões, para evitar o colapso de um terceiro, o First Republic Bank.

Para se ter uma ideia da virulência de uma corrida por saques na era de acesso online às contas bancárias e de comunicação em tempo real em redes sociais e aplicativos, como o Twitter e o WhatsApp, o maior banco americano que já faliu, o Washington Mutual Bank (com ativos de US$ 307 bilhões), registrou uma retirada ao redor de US$ 19 bilhões de seus depósitos (ou 10% do total) ao longo de duas semanas. Foi o suficiente para levar ao seu colapso em 2008, durante a grande crise financeira mundial. Na época, o botão “curtir” no Facebook nem existia.

No caso do SVB, o volume de saques somou US$ 42 bilhões. Só que em apenas 24 horas, no último dia 9 de março. Ao fim daquele dia, uma quinta-feira, o SVB estava com um saldo negativo em caixa de quase US$ 1 bilhão. O banco não sobreviveu. O contágio foi quase na velocidade da luz. No dia seguinte, uma sexta-feira (dia 10), o Signature Bank perdeu mais de US$ 10 bilhões em depósitos, do total de US$ 88,6 bilhões. Não restou outra opção às autoridades americanas a não ser fechar o banco.

No dia anterior à corrida por saques que resultou no colapso do SVB, o presidente do banco divulgou uma carta aos acionistas informando um prejuízo de US$ 1,8 bilhão em operações com títulos do Tesouro americano e com papéis lastreados em hipotecas. Os clientes do SVB, muitos deles fundadores e CEOs de empresas do setor de tecnologia do Vale do Silício, inundaram o Twitter com postagens negativas sobre a saúde do banco. E, ao contrário do passado, não foram fazer fila nos caixas das agências do SVB. Simplesmente, fizeram saques de milhões de dólares com alguns cliques nos seus aplicativos.

Os bancos centrais mundo afora não dispõem mais de tanto tempo para reagir a uma crise de confiança dessa natureza: os rumores não se espalham mais boca a boca. E o dinheiro pode sumir na velocidade dos dedos.

 

Um comentário:

  1. Abra o olho e lave as mãos antes, Bob Fields GSon!

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