O Globo
Se o ministro do Trabalho, Carlos Lupi,
conhecesse História, mesmo que não a Antiga, mas a recente, não teria provocado
o desaparecimento do empréstimo consignado
É do conhecimento de todos que lidam com a
questão que o tabelamento de preço determinado pelo Código de Hamurabi, na
Mesopotâmia, congelou o preço do óleo e do sal, gerando uma estranha situação.
A punição para os infratores era a morte em óleo quente. O congelamento do
preço, porém, provocou a escassez do óleo, houve desabastecimento, e a terrível
pena deixou de ser executada. Várias outras tentativas de controle de preços
aconteceram na Antiguidade, resultando sempre em desabastecimento e crise.
Se o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, conhecesse História, mesmo que não a Antiga, mas a recente, não teria provocado o desaparecimento do empréstimo consignado. Depois que, na base da canetada, teve a “genialidade” de reduzir o teto dos juros para pensionistas do INSS, a maioria dos bancos privados suspendeu a oferta da linha de crédito, sendo seguida pelos estatais Banco do Brasil e Caixa, mesmo o PT querendo demitir seus diretores pela suposta “traição” às políticas sociais do governo.
Os bancos suspenderam o consignado por
força de uma regra do próprio Banco Central, pois, quando um empréstimo tem
margem negativa, não pode ser oferecido ao público. A margem dos bancos era de
1,7%. Ficou negativa em 1,1% com o novo teto. O empréstimo consignado nasceu em
2005, numa política de choque de crédito popular no país do primeiro governo
Lula. O crédito ao consumidor registrou aumento real de 14%, especialmente
devido ao desconto em folha de pagamento, que permitiu taxas mais baratas.
Houve consequências contraditórias, porém:
aumento do consumo interno, provocando um crescimento do PIB de 5,2%, mas uma
inflação crescente, obrigando a altas taxas de juros. Mesmo dilema que o
governo Lula 3 vive hoje, sem que a experiência tenha sido proveitosa.
O caso mais representativo de tentativa de
conter os juros na canetada foi a restauração do “crime de usura” pela fixação,
na Constituição, do limite de 12% para a taxa de juros reais no crédito
bancário, muito abaixo da cobrada na ocasião. O economista José Roberto Afonso
relembra num estudo que, “desde os trabalhos iniciais, proliferaram propostas
tidas como populistas — desde a nacionalização e estatização do sistema
bancário, que não chegaram a ser aprovadas, até a fixação da taxa de juros, e
consequente crime de usura, ou a anistia para dívidas dos produtores rurais
junto aos bancos oficiais”.
A maneira de conter os danos foi exigir,
por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que o artigo 192 da Constituição
fosse regulamentado, e o bom senso impediu isso de acontecer. Dez anos, sete
meses e sete dias depois, o Congresso deu o primeiro passo para suprimir um dos
mais polêmicos dispositivos da Constituição. Por 67 votos a dois, com uma
abstenção, o Senado aprovou, em primeiro turno, uma proposta de emenda
constitucional que acabava com o polêmico tabelamento dos juros em 12% ao ano,
uma das principais bandeiras dos partidos de esquerda na Constituinte, renegada
pela mesma esquerda diante da realidade.
O tabelamento dos juros foi proposto na
Assembleia Nacional Constituinte pelo ex-deputado Fernando Gasparian, mas a
esquerda constatou dez anos depois que era ineficaz. Não custa reproduzir a
redação original dada pela Constituição promulgada em outubro de 1988 ao
parágrafo VIII, inciso 3º do artigo 192: “As taxas de juros reais, nelas
incluídas comissões e quaisquer outras remunerações direta ou indiretamente
referidas à concessão de crédito, não poderão ser superiores a doze por cento
ao ano; a cobrança acima deste limite será conceituada como crime de usura,
punido, em todas as suas modalidades, nos termos que a lei determinar”.
Assim como o óleo quente que faltou na antiga Mesopotâmia, também o crime de usura não foi ressuscitado pela impossibilidade de definir um limite para os juros que não respeite as regras do mercado financeiro. Passagem de avião a R$ 200 também não cai do céu sem subsídio, direto ou indireto. Nem preço de picanha cai à toa.
Só cai mesmo é a palavra suja na boca do colunista a soldo
ResponderExcluirMerval não brinca em serviço.
ResponderExcluirOs zumbis petistas não têm conserto mesmo, falta argumento sobra grosseria exatamente do mesmo estilo do que o que fugiu. Lembrem-se: seus votos não passam de uns 20%, a diferença de votos foi ínfima e a vitória se deveu a um voto contra o perdedor e não necessariamente no ganhador.
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